Li, hoje, num jornal diário da região centro, uma descrição (por sinal, muito bem cuidada) de mais um episódio caricato que evidencia a falta (digo, ausência) de maturidade institucional a que me tenho referido, com alguma insistência, nos últimos posts deste blog.
E, a propósito dessa notícia, recordei numa pequena rodinha de pessoas, uma vivência pessoal de infância, e que foi esta:
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No meu aniversário dos seis anos, uns tios meus ofereceram-me uma gaiolinha rústica de madeira com uns quantos grilos cantadores; ao presente, juntaram um rol de cuidados para a sua manutenção, recomendando-me que deveria observar as instruções, com atenção, seriedade e rigor.
Mas, se eu me senti uma orgulhosa proprietária dos grilantes cantadores, não assumi proporcionalmente as minhas obrigações de zeladora do condomínio. Estou convencida que, com a progressiva fome e reduzidos cuidados de higiene, os grilos iam juntando assustadoramente, todos os dias (só à noite) uns valentes decibeis à sua, já de si, elevada pressão sonora.
Como a residência oficial dos estridentes-sibilantes cantadores era o parapeito da janela da cozinha da minha avó, de noite lá em casa, ninguém conseguia pregar olho, a não ser, claro, eu mesma e a minha consciência tranquilíssima...dormíamos o sono dos justos!
Como resultado, um belo dia, quando, finalmente, me lembrei e, por isso, me decidi a ir ver do «meu gado», dei com a gaiola muda, fechada, limpa e... vazia!
Penso que a minha avó, tinha entretanto, resolvido libertar os grilos ou, mais prozaicamente, pôr-lhes um fim misericordioso... mas, .... ela NUNCA se deu como culpada.
Claro, o meu desgosto, nesse dia, foi enorme e, por isso, fartei-me de chorar. Isto é, carpi um caudal torrentoso de lágrimas de tamanho condizente como, aliás, nunca mais voltei a chorar (bom,... se exceptuarmos um dia, meio século depois, em que o meu Tamagochi - uma outra lembrança de um outro familiar - que, também, por falta da minha assistência às suas crescentes e permanentes reclamações e exigências, no meio de cânticos harmoniosíssimos, ascendeu num céu estrelado, para entregar a sua «alminha com asas» ao seu criador, suponho eu...).
Voltando aos meus grilos...
A minha avó, no dia em que dei por falta dos MEUS grilos, para me consolar e, mais do que certo, para apaziguar os remorsos que sentia, dizia-me mansamente para eu não chorar porque, se calhar,
"tinha acontecido com eles (os meus grilos)
o que acontecia sempre com «os grilos do abade»".
Lembro-me que, num ápice, a minha curiosidade superou o desgosto.
- Mas, vó o que é que acontece «aos grilos do abade»?
E a resposta da minha avó foi:
comem-se sempre todos uns aos outros!______________
Ora bem, de regresso ao futuro, já na actualidade:
Hoje, durante a minha habitual ronda de leituras blogosféricas vi, no blog "Universidade Alternativa",
uma referência a um artigo publicado no Jornal de Notícias, do qual extraí o seguinte texto:
"....É evidente que gostaríamos de ter conseguido mais coisas, mas não conseguimos. Isso não invalida que no seu todo o novo Estatuto da Carreira Docente (ECD) do Ensino Superior Politécnico não seja uma peça fundamental de dignificação da carreira docente do ensino superior", disse Rui Teixeira, salientando que este foi o entendimento do Conselho Coordenador dos Institutos Superiors Politécnicos (CCISP) e também do Conselho de Reitores (CRUP), da Fenprof "e de nove ou 10 sindicatos que assinaram o acordo com o Ministério...".
Será que às gentes destes quilates não lhes pode também acontecer o mesmo que acontece sempre «aos grilos do abade»?