quarta-feira, janeiro 31, 2007

Lentes cor-de-rosa - HOJE SÃO SÓ EXCELENTES NOTÍCIAS!

1ª EXCELENTE NOTÍCIA:
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No Bragança Comunidade Digital, (notícias) podia ler-se às 19:50h de hoje, a seguinte informação:
"O Instituto Politécnico de Bragança (IPB) vai poder leccionar mais cinco mestrados [*]....
.... Três dos cursos vão funcionar na Escola Superior Agrária, um na Escola Superior de Educação e o outro na Escola Superior de Tecnologia. A notícia foi trazida pelo Director-Geral do Ensino Superior, que ontem esteve presente na comemoração do dia do Instituto Politécnico de Bragança."
Sabendo-se que estamos a falar de uma instituição do interior, é de ficarmos bastante contentes com as decisões favoráveis, tanto mais, que é também um politécnico dotado de um centro de investigação - com todos os esforços e sacrifícios institucionais e pessoais inerentes, que algumas pessoas bem conhecem - tratam-se, certamente de aprovações meritórias, e a instituição está mesmo de parabéns!

Esperemos que esta decisão (se bem que muito serôdia...) signifique também que os procedimentos de apreciação das propostas de formações do 2º Ciclo de Bolonha, para o subsistema politécnico, no MCTES, finalmente, desencantaram, porque diz-se, nessa notícia também, que o Senhor Ministro até vai reunir com os politécnicos a 5 de Fevereiro [*]. Teria ele já descoberto que, afinal, a educação superior politécnica não advem do imaginário popular?

2ª EXCELENTE NOTÍCIA:

Também a respeito da Publicação no Semanário Sol, àcerca da potencial "Promoção automática, Licenciados antes de Bolonha podem passar a mestres" (pág. 16 na Secção Política e Sociedade, artigo de Andreia Félix Coelho), o Ministério já esclareceu (**) que "O Decreto-Lei n.º 74/2006, de 24 de Março, determina que, tendo em vista o prosseguimento de estudos para a obtenção de um grau académico, os estabelecimentos de ensino superior:
a) Creditam nos seus ciclos de estudos a formação realizada no âmbito de outros ciclos de estudos superiores em estabelecimentos de ensino superior nacionais ou estrangeiros, quer a obtida no quadro da organização decorrente do Processo de Bolonha, quer a obtida anteriormente;
b) Creditam nos seus ciclos de estudos a formação realizada no âmbito dos cursos de especialização tecnológica nos termos fixados pelo respectivo diploma;
c) Reconhecem, através da atribuição de créditos, a experiência profissional e a formação pós-secundária.

Esta creditação tem em consideração o nível dos créditos e a área científica onde foram obtidos. Os procedimentos a adoptar para a creditação são fixados pelos estabelecimentos de ensino superior".

HAJA DEUS!

Afinal a legislação vigente sempre é para ser considerada.

"Tudo é bom, quando acaba em bem!"

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[*] Extracto da notícia, proveniente da Rede Digital Comunitária - "O projecto Rede Digital Comunitária (RDC, http://rdc.bcd.pt) foi um dos projectos da iniciativa Bragança Cidade Digital (BCD, http://www.braganca-digital.pt) lançada pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia, em 1999, no âmbito do Programa Cidades Digitais.

Educação: Politécnico recebe cinco mestrados
"O Instituto Politécnico de Bragança (IPB) vai poder leccionar mais cinco mestrados. O Ministro da Ciência e Ensino Superior assinou ontem um despacho para a criação de um primeiro conjunto de mestrados no ensino politécnico, dos quais cinco vão ser leccionados no IPB. A instituição de Bragança arrecadou um quarto destes reconhecimentos. Três dos cursos vão funcionar na Escola Superior Agrária, um na Escola Superior de Educação e o outro na Escola Superior de Tecnologia. A notícia foi trazida pelo Director-Geral do Ensino Superior, que ontem esteve presente na comemoração do dia do Instituto Politécnico de Bragança.
A plateia não se mostrou muito entusiasmada, já que tinham sido candidatados 13 cursos.
Ainda assim, o Presidente do IPB, explica que esta reacção se deve à falta de informação. Sobrinho Teixeira adianta que os cinco mestrados agora aprovados fazem parte de uma primeira fase e que os oito que para já ficaram de fora ainda podem vir a ser reconhecidos. Nesta sessão comemorativa do dia do IPB, o Presidente da Instituição, revelou ainda que no dia 5 de Fevereiro o Ministro da Tutela vai reunir com todos os politécnicos do país para discutir problemas inerentes ao ensino superior."

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[**] Extrato do documento:

"(Esclarecimento)


Formações anteriores ao Processo de Bolonha são creditadas
para a obtenção de novos graus


Os bacharéis ou licenciados antes da reorganização dos graus do ensino superior decorrente do Processo de Bolonha que queiram efectuar estudos conducentes a outros graus académicos (licenciatura ou mestrado) devem solicitar a respectiva inscrição às universidades ou institutos politécnicos que pretendam frequentar, nos termos e prazos previstos na lei e nos regulamentos destas instituições.

Cabe a cada estabelecimento de ensino superior, em função de cada pedido concreto, avaliar a formação anterior do estudante e decidir quanto ao que lhe é creditado, tendo em vista a obtenção de um novo grau e ainda, em consequência, qual a formação que ele ainda terá de realizar para o obter.

O Decreto-Lei n.º 74/2006, de 24 de Março, determina que, tendo em vista o prosseguimento de estudos para a obtenção de um grau académico, os estabelecimentos de ensino superior:

a) Creditam nos seus ciclos de estudos a formação realizada no âmbito de outros ciclos de estudos superiores em estabelecimentos de ensino superior nacionais ou estrangeiros, quer a obtida no quadro da organização decorrente do Processo de Bolonha, quer a obtida anteriormente;

b) Creditam nos seus ciclos de estudos a formação realizada no âmbito dos cursos de especialização tecnológica nos termos fixados pelo respectivo diploma;

c) Reconhecem, através da atribuição de créditos, a experiência profissional e a formação pós-secundária.

Esta creditação tem em consideração o nível dos créditos e a área científica onde foram obtidos. Os procedimentos a adoptar para a creditação são fixados pelos estabelecimentos de ensino superior.


MCTES, 29 Janeiro 2007"

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ADITAMENTO - (31-01-2007, 17:30 h)

4 mestrados do ISEL e 4 mestrados do ISEP foram também aprovados

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"PRETO E(NO) BRANCO" Mais outro "powerpoint"... mas, este é meu!

Entre muitíssimas outras razões por causa disto, ontem pensei e disse mais ou menos isto, para um reduzidíssimo número de pessoas, mas deveria ter dito outras coisas para muitas outras pessoas...
Uma certeza - o que deveria ter dito às muitas outras pessoas, ainda lhes vou dizer!
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Entretanto, fiquei a saber disto.
É imperdível! Por favor, confiram!

sábado, janeiro 27, 2007

Balde de água a aquecer

Andava eu a cirandar pela blogosfera e encontrei, no Blog Revista Atlantico, a transcrição de um artigo de opinião, muito interessante, publicado na passada quarta-feira, 24 de Janeiro, no "Público", subscrito por Rui Ramos, e intitulado "A grande estratégia".
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O referido artigo, para mim, foi como um balde de água polar porque, até agora, pensava eu que, cá pelo País, tínhamos muito orgulho "nos nossos desenrascanços e happenings" mas, pelo contrário, já vem de muito longe o hábito de se propagandearem as "maravilhas e grandes realizações" que se irão alcançar em futuro incerto mas, pelos vistos, apenas para atestar que as ideias descritas não são para executar.
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O autor do artigo conclui o seu raciocínio mais ou menos assim: "...Por isso, tudo aquilo que verdadeiramente se passou, desde a industrialização até à urbanização, passou-se 'desordenadamente', à revelia dos planos e mesmo fora da lei.
Até hoje, os governos andaram sempre a tentar mudar o país em meia dúzia de anos. Talvez fosse preferível tentarem compreendê-lo."
Se Rui Ramos estiver certo, e infelizmente assim parece, para mim, começaram a fazer todo o sentido os imprecisos resultados das seguintes vagas e, ambiciosamente, abrangentes declarações de intenções:
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Como podem ver, já pus a água polar a aquecer, mas... esqueci-me de trazer lenha que chegue!
Mas, um destes dias, ainda vou buscá-la.
A eficiência e eficácia reinantes, há décadas, são muito contagiosas...

quarta-feira, janeiro 24, 2007

..."Longe, longe, muitas léguas"!

Não fiquem horrorizados, porque é raríssimo entrar em processos de auto-análise, mas... também tenho os meus momentos de rebates de consciência.
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Deixem-me contar-lhes:
Ontem, recebi por mail (mailing list) a transcrição de um comunicado da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC)http://www.bolseiros.org/.
A situação descrita pelos bolseiros coloca-os numa situação deveras complicada porque, além do óbvio prejuízo financeiro (que é um mal muito menor) de que são vítimas, promove-lhes, seríssimos desapontamentos e descrenças no sistema incluindo, muito provavelmente, a interrogarem-se sobre se os resultados esperados -- que se perspectivam de tudo o que já investiram na sua formação, envolvendo os esforços e sacrifícios pessoais e dos familiares -- não estarão também em causa. Efectivamente, com as actuais circunstâncias em que estão envolvidos, podem promover consequências não expectáveis, considerando que a maioria dos bolseiros serão jovens, e desesperanças no início de carreiras não favorecem bons prenúncios.
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Sendo bastante gravosas as descrições que os bolseiros fazem no seu testemunho, também não deixa de merecer muita reflexão o que pode condicionar um Governo a confundir-se tanto, como aconteceu até agora, na execução das suas próprias visões programáticas e ambições declaradas para a Educação Superior, Ciência e Tecnologia nacionais.
Foi assim, que resolvi tentar "calçar os sapatos" dos nossos decisores políticos - e a única causa que remotamente pode explicar, embora sem justificação, o que acontece, neste e noutros sectores nacionais, é estarmos perante uma situação de insolvência tal, que seria caso para uma revisão, melhor, para uma adequação de estratégia, necessariamente, com padrões muito mais modestos, realistas e sequenciais, face às reais condições financeiras de Portugal.
Quando expus - durante este meu compassivo estado de alma, a uma reduzidíssima rodinha de pessoas conhecidas, que ainda vai tendo paciência para ouvir os meus desabafos -- a ideia de que precisamos "calçar os sapatos dos nossos governantes", para apurarmos melhor as condicionantes para todas as não decisões, disseram-me: ".....devemos mesmo rapidamente 'calçar os sapatos deles' e também corrermos logo muitas, muitas léguas, para que 'eles fiquem descalços' e nós, entretanto, possamos ir para o mais longe possível do seu alcance"!!! Essas pessoas terão razão??
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"Longe, longe, muitas léguas,
mas que negra solidão,
por falta de água, perdi meu gado,
morreu de sede meu alazão."

Prometo-lhes não voltar a sofrer de nenhuma crise reflexiva tão cedo, e tão perto!
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FONTE DA IMAGEM: http://www.artcyclopedia.com/masterscans/van-gogh-shoes-mid.jpg

domingo, janeiro 21, 2007

LATITUDE E LONGITUDE DO ENCONTRO DE "BLOGGERS" ES-PORTUGAL

Depois de negociações com a plataforma do Earth-Google (muito mais difíceis que as da paz do Médio Oriente, sou eu que vos digo) e de assumida chantagem para conseguir assessoria benévola, de um familiar (muito) recalcitrante, aqui estão as coordenadas para o Encontro de Bloggers do Ensino Superior, no próximo dia 30 de Janeiro em Coimbra, organizada por uma parceria de todos os bloggers temáticos, sob a orientação do blog "Que Universidade? " do MJMATOS.
Assim, quem vem do Sul deve sair na 1ª portagem de Coimbra - Coimbra-Sul e pega a via rápida Taveiro-Coimbra em Direcção a Coimbra, ultrapassa a saida do Hospital dos Covões, e na próxima saída - S. Martinho do Bisbo, sai da via dupla e vira logo de seguida à esquerda, tomando uma paralela à via rápida, também em direcção a Coimbra.

http://www.esnips.com/doc/9b1e7b7f-4d07-4e73-b560-9c64bd6ea83d/Saida-Coimbra--Sul

Devem sair na Saída de S. Martinho do Bispo e seguir numa estrada paralela à via rápida, em direcção a Coimbra, cerca de 260 metros depois têm à direita o Portão da ESAC - Figura seguinte:

http://www.esnips.com/doc/a9f9afa3-71d7-4455-b49e-9c0eb3981c2d/Via-rápida-ESAC

Quem vem do norte, se resolver sair em Coimbra Norte, vem sempre em direcção a Coimbra, e atravessa o Mondego na Ponte Açude (em direcção ao Fórum, coisa que se vê de todos os lados), mas atenção que depois de atravessar a ponte, seguem o percurso seguinte:

http://www.esnips.com/doc/082a32d2-017e-4080-ac1f-b338b6487057/Coimbra-Norte

Importante: Por favor, cliquem nas imagens, ou nos links, e procurem a opção "original size" para verem bastante melhor e, na dúvida, não hesitem e perguntem, por mail, ou via blog.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

brancas e pretíssimas - as cores dos marços

"Mais vale viver-se totalmente desocupado, do que estar-se ocupadíssimo a não fazer nada" - acabei de conferir esta ideia de Friedrich Nietzsche - tenho andado tão azuretada, com as minhas outras vidas paralelas, que não me chega o tempo para acompanhar, mesmo só pela rama, os acontecimentos na nossa educação terciária, ciência e tecnologia, por via dos cibernautas competentes da nossa praça - foi durante um pequeno "intervalo da chuva" que soube das que penso poderem ser boas e péssimas notícias, do sector.

I - Primeiro, registo as que penso poderem vir a ser as boas novas -pedras brancas:
1 - Pelo "blog" Universidade Alternativa, fiquei a saber que na página Reformar a Educação Superior, de João Vasconcelos Costa (JVC), no "post" "E agora?" estão para sair duas leis pertinentes à Educação Superior - a da governação e a do ECDU; o "estar para sair", pode ser um modo de dizer porque, de acordo com Sócrates, é lá para Março (será deste ano? penso eu, com optimismo maligno).
2 - E JVC irá fazer mais um dos seus BRILHANTÍSSIMOS trabalhos de casa, para o que já identificou serem os seus (nossos) 6 pilares legislativos para o ensino superior português. Tenho a certeza que irá fazer isso mesmo e esta é, incondicionalmente, uma notícia excelente - tem sido um dos raríssimos patrícios que, com Cidadania, discorre e publica, sistemáticamente, sobre assunto, ajudando os restantes mortais a pensar - ele é que poderia, pelo menos, tornar-se num dos nossos 10 "wise-persons" do Conselho Coordenador do Ensino Superior (CCES) proposto pela OCDE - assim, já só nos faltam desencantar nove "wps"; este garimpo não vai ser fácil e, se e quando os acharmos, passará à categoria inovação, nunca vista entre nós desde 1500.
II - Registo das - pedras pretas.
Pela Universidade Alternativa, também fiquei a saber de notícias muito preocupantes "Desemprego ameaça dois mil docentes do Ensino Superior", como procedentes da FENPROF (comunicado de 12/01/07), em cujo site também li: Processo de Bolonha: Mariano Gago retém aprovação de mestrados nos Politécnicos . Parece que não, mas estas notícias desastradas tem uma origem comum - falta de organização e de estratégia. Estamos cansados de saber disto, mas não nos mexemos.
Estranhei muitíssimo a postura da FENPROF que, pelo jeito, só se posicionou relativamente a propostas que eventualmente não foram aprovadas, e estão em recurso - "A FENPROF exige que no caso de reclamações apresentadas à tutela, relativamente à não aprovação de cursos propostos, tais recursos sejam apreciados o mais rapidamente possível pela nova Agência".
Em recurso? Como assim "em recurso"? E são todas as 84 propostas do subsistema, nesta situação?
Então, e à FENPROF não incomodará nada que, de entre 84 propostas de politécnicos, pertinentes a Março de 2006, não haja uma única proposta, que satisfaça os requisitos de uma formação superior ao nível de um mestrado (concepção europeia e global) como uma sequência natural de licenciaturas portuguesas (estas, pró-inovação nacional) de 3 anos? E a FENPROF quer a instituição formal da Agência? Ficará, então, à espera desta e, já agora, até quando? HAJA DEUS ou polícia de (maus) costumes!
Tenham todos santa paciência, a minha detonou!
Ainda terei que voltar a este tema, assim que puder!
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PS - Uma excelente notícia (branquíssima) deste Janeiro de 2007, para todos os que se interessam pela protecção da propriedade intelectual é o lançamento "online", pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial, da Revista Marcas & Patentes.

terça-feira, janeiro 16, 2007

"Vamo(s)" lá fazer de conta que....

...somos empresários?
É assim: "O pessoal solta "o caroço", aqueles outros trabalham feito 'vietnamitas' e nós mandamos em todos e aparecemos!".
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Ontem, recebi por intermédio de uma "mailing list", um extracto do Semanário Sol, sem data, mas que penso ser o último, com o texto intitulado "Universidades vão ser empresas"- "governo quer aplicar o estatuto empresarial a algumas universidades".
A ideia subjacente é mesmo muito curiosa e bem apanhada - sugere-me que os nossos actuais responsáveis públicos não só querem "brincar de belmiro" (mas com recursos alheios dos outros portugueses todos, Risco 'pessoal' Zero e liberdade de movimentos da empresa privada), como ainda querem chamar "alguns" amigos, para a "reinação".
Ora essa metodologia é o que se pode dizer ser uma (mais outra) excelente ideia!
Estes nossos poliíticos esquecem-se de um pequeníssimo pormenor - algumas (a maioria) das iniciativas de um "belmiro de azevedo" só lhe dão certo porque corre pessoalmente riscos - é que, no caso deste empresário, é a cabeça do próprio que fica no cepo - e isto faz toda a diferença. Perguntem-lhe!
Assim, tal como descreve a jornalista Andreia Félix Coelho, "as universidades podem agora entrar no sector empresarial do Estado à semelhança de outras empresas públicas, como a CP ou a Estradas de Portugal" - a vingar esta ideia, pessoalmente, tenho a certeza, que tudo correrá com "largas benesses" para uns quantos (umas poucas pessoas, não instituições) seleccionados a dedo, e "resultados públicos" absolutamente iguaizinhos!

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Conversas controversas difíceis de amarrar

Não pretendo alimentar controvérsias desnecessárias, mas decidi dar idêntica visibilidade, e também responder aos comentários de Manuel Caldeira Cabral (publicados ontem nas versões originais na respectiva caixa de comentários) sobre o meu "post" de 9 de Janeiro de 2006, com o título: "Informação e conhecimento diluídos em doses homeopáticas".
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[MCC]
Escrevo apenas para acrescentar três comentários a criticas directas que levantou no seu texto:
1. As regressões escolhidas
2. investigadores dos politécnicos nos centros das universidades
3. O custo de aumentar vagas nos politécnicos ou nas universidades

1. A primeira questão é uma questão estatística relevante. Se ler os trabalhos que tenho publicados verá que tenho credenciais de torturar dados, utilizando métodos econométricos complicados.
Quando se está a tentar validar uma relação científica é importante que tal se faça.
O estudo que apresento não tem esse intuito. Eu não pretendo provar uma teoria que defenda que existe uma relação negativa entre as decisões do agente político e ás médias de entrada, ou as taxas de ocupação.
Eu limito-me a constatar que esta relação existe quando seria desejável que se verificasse o contrário. O que para avaliar a decisão politica é razoável.
Muitas das relações apresentadas ajustavam-se melhor a curvas logarítmicas ou polinomiais, mas isso não mudava a sua inclinação.
Eu não sei se a Regina compreendeu bem a expressão torturar os dados ate que eles confessem. Mas esta aplica-se a quando se faz o contrário do que eu fiz. Isto é, aplica-se quando se apresentam apenas resultados de regressões muito elaboradas, omitindo os dados em bruto. Eu apresento os dados em bruto... e apresento regressões simples...
E pergunto se olhando para a dispersão de dados pensa sinceramente que trabalhando-os de forma mais rigorosa, vai encontrar alguma inversão do declive da curva (passando de negativa a positiva). Eu confesso que as especificações alternativas que experimentei não alteravam o declive a que se chegava. Mais tentei até trabalhar dados que incluíam os estabelecimentos de saúde, ou os excluíam, que consideravam apenas anos mais recentes (para as publicações cientificas) de forma a que não favorecessem as instituições mais antigas, confrontei resultados de dados em taxas de crescimento com resultados em valor absoluto... Ou seja levantei uma série de dúvidas... e sem torturar os dados procurei, dentro dos limites de dados a que tive acesso, encontrar especificações que contrariassem os resultados que estava a obter.
Convido-a a afirmar que usando dados diferentes chega a conclusões diferentes. Eu admito que seja possível. Procurei ver se assim era. Não encontrei. Mas estou aberto a que me demonstre isso. Seria um contributo muito interessante.
PONTO 1 - [REGINA]
Antes de tudo, confesso-lhe que gostaria muitíssimo de ter a disponibilidade de tempo, as competências e o estatuto necessários para me tornar "referee" de textos como aquele que publicou.
Não tenho, nem coloquei qualquer dúvida sobre o seu conhecimento intrínseco sobre a matéria, do artigo que decidiu publicar.
Mas, se bem me lembro, evidenciei das restantes observações que fiz "uma pequena crítica de ordem técnica".
A "pequena crítica de ordem técnica" mantenho-a por saber que não é hábito, e não há nenhuma vantagem no uso de regressões simplificadas quando dispomos dos registos (como o Manuel Caldeira Cabral aqui mesmo nos diz) e, simultaneamente, não explicitamos se as observações têm uma distribuição normal ou não, que permitam utilizar algumas ferramentas de tratamento de dados, e também não explicamos as observações/registos fora do contexto geral ("outliers" não é?) - na verdade, o nadíssima de nada do que vou desconfiando sobre estes assuntos, é que os "outliers" devem ser tratados, separadamente, ou podem induzir inferências pouco robustas; como leiga, a mim parece-me que os seus gráficos são pródigos em "outliers". São outliers não são? E escapou-me a explicação que lhes deu.
E já agora também lhe digo, que também não sou adepta, de utilizações de resultados de análise comparativa de grupos de registos, neste caso de subsistemas de ensino, pela utilização "clusters" pouco definidos, isto é, por exemplo um grupo constituído por Universidade A, Universidade B, etc., Politécnico X1 e Politécnico X2, etc. e as outras escolas todas de um e outro subsistema atiradas para um mesmo saco conjunto. Esta opção, a mim, parece-me dificultar a formulação de conclusões para um subsistema.
_____________________________
[MCC]
2. Uma segunda questão prende-se com os investigadores dos politécnicos.
Eu não afirmo em parte alguma do trabalho que os politécnicos não fazem trabalho de investigação reconhecido internacionalmente.
PONTO 2 - [REGINA] - 1
Eu é que não disse que o Manuel fez essa afirmação.
O que eu disse, e mantenho:
- É a total discordância (que até é mais do que uma discordância) de análises comparativas entre subsistemas de educação terciária feitas com base na intercepção do aumento do número de vagas em cursos pouco procurados, em instituições de ensino superior (subentendendo-se estas como dominantemente politécnicos) com a investigação, e que esta se circunscreva a publicações científicas.
-Que há docentes-investigadores de politécnicos a contribuírem, com trabalhos reconhecidos internacionalmente, para unidades referidas abusivamente como de universidades. Esta designação "abusivamente" não se referia ao facto do Manuel ser o responsável dessa atribuição, mas tem sido um aproveitamento de marketing institucional indevido, e que está sendo generica e progresivamente aceite, o que só prova a eficácia da referida estratégia sobre "os consumidores target".
- E disse também, e repito, que as condições de trabalho e de recursos de uns e de outros docentes de cada subsistema em matéria de investigação são muito distintos, tornando indevida uma comparação de produtividade dos dois subsistemas, sem explicações adicionais.
- Juntaria a esta minha última afirmação (não é uma dúvida) é que seria muito importante em matéria de opções de investimentos públicos na investigação de se fazerem também as contas às mais-valias resultantes de todos os investimentos feitos por subsistema. Finalmente, a pergunta para a qual eu gostaria de ter resposta é, tão-somente, qual o valor acrescentado dos investimentos TOTAIS para investigação e para a TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA num e no outro subsistema. Esclareço-lhe já, que esta precisa pergunta não é dirigida a MCC.
[MCC]
Pelo contrário os dados de que disponho mostram que existem investigadores pertencentes a politécnicos com publicações em revistas internacionais.
Se calhar são é poucos. O meu estudo nesse campo, por falta de dados, centra-se na àrea de economia e gestão.
Nesta área em concreto os dados permitem saber as publicações de cada investigador e na apresentação dos mesmos pode-se ver as publicações agrupadas por centro de investigação a que o investigador pertence ou por instituição a que está ligado.
Eu utilizei esta ultima especificação pelo que o problema de as publicações dos docentes dos politécnicos que estão nos centros de investigação das universidades serem abusivamente atribuídas às universidades não se coloca. Se pertencem a um politécnico, as publicações vão ser atribuídas ao mesmo.
Quando sugiro que eventualmente as conclusões verificadas na área de economia e gestão podem ser mais gerais, penso que sou claro que estou a especular e não a comprovar. No entanto, os dados do OCES apontam para que as áreas que mais cresceram em vagas e docentes até 2000, são em geral as em que a investigação publicada menos cresceu. É evidência indirecta. Não prova nada. Daí que a trate apenas como um indicio. Um indicio interessante.
Se tiver dados mais completos, por favor disponibilize-os. Eu admito que existam àreas em que o crescimento da investigação recebeu também um contributo importante dos politécnicos.
Pergunto, se está muito segura de que esta realidade terá sido a regra e a àrea de economia e gestão uma excepção.

PONTO 2 - [REGINA] - 2
O que disse foi que não aceito - e continuo a achar inaceitável por motivos óbvios, a que não é alheio o facto de em trabalhos académicos, científicos ou, simplesmente, técnicos - admitirem-se especulações deste teor: "Tudo aponta que o mesmo esteja a acontecer noutras áreas"; porque são afirmações, como esta - e que se tornaram ultimamente num desporto nacional, embora eu acredite que como o Manuel disse não tivesse intenção de o fazer - que fragilizam um subsistema inteiro, isto é, a mensagem que se passa, para os cidadãos comuns de um país inteiro, é desfavorável a todo subsistema, quer neste se incluam formações/instituições que o mereçam ou não.
_____________________________


[MCC ]
3. Deixo ainda uma dúvida sobre as suas estimativas de custo de aumentar vagas nas universidades e politécnicos.
O custo por aluno nos politécnicos é mais baixo do que nas universidades. Mas não estou muito seguro que o custo marginal de aumentar vagas nos politécnicos foi menor do que o de aumentar nas universidades (pelo menos no período de 1994 a 2002). Os dados que apresento no meu estudo sugerem que os aumentos de vagas nos politécnicos obrigaram a um maior numero de contratações (e admito também a maiores investimentos) por cada 100 novas vagas do que os correspondentes aumentos de vagas realizados nas universidades.
É só uma dúvida.
PONTO 3 - [REGINA] - 1
As minhas estimativas de custos foram feitas com base nos Orçamentos de Estado publicados, atribuídos por aluno (projecções anuais do OCES) a cada instituição (Universidades Públicas e Politécnicos Públicos) nos anos civis de 2005, 2006 e estimados para 2007, para as formações de engenharia-tecnologia. Não incluí, neste diferencial de custos, os custos unitários por aluno para os Serviços de Acção Social de um e de outro subsistema, porque como o Manuel sabe, também os Serviços de Acção Social dos alunos universitários têm dotações unitárias de bolsas superiores (em média de 200 €/aluno), tornando ainda mais caro ao erário público os custos de deslocamento dos alunos residentes numa região para outra, para frequentarem a Universidade.



[MCC]
De qualquer modo agradeço a atenção que deu ao meu estudo.
PONTO 3 - [REGINA] - 2
Por favor, não me agradeça porque não o fiz por si.

[MCC]
Só me resta pedir desculpa por essa leitura não ter sido mais do seu agrado.
PONTO 3 - [REGINA] - 3
Não tenho nada a desculpar porque penso que qualquer estudo de qualquer pessoa não deve ser escrito para agrado ou desagrado de ninguém; e, no caso deste seu artigo, pode ter a certeza que até agradou a muitos.
O que também penso é que todos os estudos devam ser rigorosos, sobretudo, se suscitarem dúvidas generalizadas sobre desempenhos institucionais e, em alguns casos, totalmente imerecidas, mas do meu ponto de vista, nas actuais circunstâncias da Educação Terciária Portuguesa são sempre muito prejudiciais.
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PS - tinha utilizado a designação "ouliners" mas disseram-me que a designação correcta é outliers e, por isso, já corrigi.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

O "THE BOOK" e a outra cartilha

Na página 42 do Diário Económico de ontem, 9 de Janeiro de 2006, dei agora fé de um artigo assinado por Pedro Lourtie, sobre (e com o título) "O Relatório da OCDE".
Não é que o texto acrescente nada, mas fez-me ficar a pensar que as apreciações internacionais (ENQA e OCDE, e talvez também as avaliações institucionais pela EUA - com financiamento público para 10 da centena e meia de instituições superiores) foram encomendadas apenas para o actual governo ganhar (muito) tempo, enquanto pensavam o que lhes seria conveniente fazer à Educação Terciária em Portugal. No seu artigo, Pedro Lourtie classifica o referido relatório como "uma boa base de trabalho", e faz notar que, efectivamente, o Relatório da OCDE diz umas coisas mas o Nosso Primeiro diz outras. Sugeriu-me a ideia que, se calhar, o MCTES não está a fazer exactamente o que quereria mas, muito provavelmente, tão somente, o que lhe mandam, convertendo-se, desta forma, uma órdem de Sócrates "nos desejos" de Mariano Gago.
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Se for assim, o caso muda totalmente de figura, o que quer dizer que nada mudará, já que o "rasqueado" vai ser, exclusivamente e como sempre, dançado com a cifra, vozes e mando de uma mera cartilha de resultantes aleatóriamente dinâmicas do "empowerment" vigente, e o "THE BOOK" remete-se para "aquela prateleira empoeirada lá de cima", como eventual referência, a consultar em futuras reflexões académicas! E,... ganharam-se quase dois anos, sem se mexer uma palha, mantendo-se o pessoal todo, espectacularmente, bem entretido e a embirrar uns com os outros. Perfeito!
Muito bem lembrado, sim senhores!.
Os ingénuos aprendem muito (devagarinho) nesta vida - "When raised by a coyote one becomes a coyote".

IMAGEM: http://www.digitalblasphemy.com/userg/images/1129457857.shtml

terça-feira, janeiro 09, 2007

Informação e conhecimento diluídos em doses homeopáticas

Hoje, por intermédio do jornal Público, fiquei superficialmente bem impressionada com os extractos feitos, pela jornalista Isabel Leiria, ao trabalho de Manuel de Herédia Caldeira Cabral, Prof. Auxiliar, do Departamento de Economia Universidade do Minho, ainda em Versão preliminar, datada de Dezembro de 2006, intitulado "Estudo da expansão do sistema de ensino superior português nas ultimas duas décadas."
Sabendo como todos sabemos, o que são interpretações, generalizações e versões livres da nossa comunicação social (e, infelizmente, não só desta) resolvi ir consultar a referência original, e.... e tenho muita pena, porque fiz muito mal; é que com a leitura do trabalho, propriamente dito, fui ficando progressivamente desapontada.
Tenho, para mim, o principio que podemos e devemos sempre suavizar a aspereza de assuntos muito sérios com o bom humor que consigamos (porque só nos podem dizer que não temos graça nenhuma) mas o que não podemos é pretender escrever documentos que queremos que sejam sérios e, formal e publicamente reconhecidos, quando nos debruçamos sobre os assuntos que queremos tratar, mas de forma aligeirada ou, por assim dizer, "a brincar".
E, para não me alongar, gostaria de fazer, desde logo, uma pequena crítica de órdem técnica às regressões escolhidas pelo autor para expressar graficamente algumas das suas conclusões; eu não percebi porque as usou, a menos que tenha sido o resultado de simples tratamento de dados com um qualquer "software" pouco poderoso, ou que o autor não esteve para se incomodar com selecção de ajustes mais correctos e, nesse caso, era preferivel não ter usado esses perfis de regressão na forma de expressão gráfica do que os justificar, como o fez, apenas porque permite "uma leitura mais directa"???
Sendo o autor um Professor Universitário do Departamento de Economia de uma Universidade de prestígio, de que nos orgulhamos, tenho a certeza que sabe muito melhor do que todos nós, cidadãos comuns, que os números bem torturados dizem o que queremos que digam. E isto leva-me a outros reparos, sobre os quais, deduzo que, o autor também não quis prestar atenção que talvez fosse merecida aos fundamentos necessários, considerando as conclusões que me pareceu que teve como objectivo tirar.
Não percebi também porque é que o autor pretendeu associar a análise do aumento de vagas, com questões de investigação (investigação não, de publicações que não são como o autor muito bem sabe, exactamente, a mesma coisa) - "O facto de se ter privilegiado o crescimento do ensino politécnico face ao universitário (ver próxima secção) parece ser o principal factor que explica a existência de uma associação negativa entre crescimento das vagas e produção científica na área de economia e gestão. Tudo aponta que o mesmo esteja a acontecer noutras áreas" (????). Pois aí, é exactamente onde o autor se engana, estas generalizações são perigosas, e o cuidado de serem previamente verificadas antes do seu anúncio público ter-lhe-ia ficado muito bem, para não pular para conclusões precipitadas, como a que se segue:"No entanto, o forte crescimento dos politécnicos que se verifica desde o final dos anos oitenta, com a entrada de um elevado número de novos docentes (ver última coluna quadro 6), deveria já ter começado a reflectir-se num aumento da produção científica destas instituições, uma vez que, muitos destes novos docentes estão no sistema há já mais de 12 anos."
As razões, para discordar do que o autor nos diz, são muitas, mas fico-me por citar algumas:
1ª - não é líquido - pelo menos para quem tutelado o subsistema - que o politécnico devesse fazer sequer investigação, nem que essa a ser feita assentasse em publicações, pelo menos atendendo aos apoios financeiros (NÃO) concedidos por orçamentação pública, como veremos.
2ª - ao contrário do que diz o autor, em algumas áreas de formação as instituições politécnicas têm mais de 45% dos seus docentes já doutorados - se bem que seria mais importante, do que estas percentagens, avaliar se este nível de graduação académica é ou não o mais adequado às formações que deveriam, efectivamente, serem(terem sido) leccionadas nos politécnicos.
3ª - os docentes dos politécnicos inseridos em unidades de investigação próprias detiveram (2003 - 2005) apenas 5% do financiamento atribuído a todas as unidades de investigação (466), e as 8 unidades de investigação, acolhidas em politécnicos, e reconhecidas pela FCT não custaram dinheiro público para se constituirem, ao contrário da maioria das acolhidas em universidades - antes porém, foram resultado de muito trabalho duro e feito a pulso pelos docentes - e algumas destas unidades só se mantêm, à custa de muitas candidaturas e a financiamentos de Projectos Internacionais, já que a FCT tem privilegiado a investigação universitária. E esta opção percebe-se porque a Universidade conta com "mão de obra" gratuita dos doutorandos e mestrandos que o subsistema politécnico não têm.
4ª - os docentes dos politécnicos têm maior carga horária (cerca de 33% mais), e leccionam maior número de disciplinas do que os seus colegas das universidades.
5ª - os docentes dos politécnicos fazem também trabalho de investigação, internacionalmente reconhecido e até premiado, em Unidades de Investigação abusivamente atribuídas como pertencendo à universidade X, Y ou Z. Para além disso, muitos destes docentes dos politécnicos até pagam propinas de mestrado ou de doutoramento, à universidade de acolhimento.
6ª - o facto de deverem ser transferidos não as vagas, e sim alunos, da formação inicial (1º ciclo) para os politécnicos deveria ser mesmo uma opção obrigatória para o país por ser mais barata, de 500 a 700 € por aluno, libertando-se assim recursos financeiros e humanos para uma investigação por objectivos para além de publicações, economicamente, mais interessante para o país. Se esta opção fosse usada, em Portugal, por exemplo, nas Engenharias e Tecnologias poupar-se-iam, anualmente, no mínimo 50 M€.
E..., é assim que:
- uma pessoa inicialmente entusiasmada com um trabalho pode ficar muito decepcionada com a leitura do mesmo;
- é muito perigoso fazerem-se trabalhos que se pretendem sérios, sem cuidar da verificação das informações subjacentes às conclusões;
- é imprudente a utilização e divulgação pública de conhecimentos vagos de problemas com os quais não estamos familiarizados;
- também concluo: por vezes mais vale lerem-se certas coisas escritas do que sermos analfabetos.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Devils & Dust

Antes de iniciarem a leitura deste "post", dedicado aos contratos plurianuais, recomendados pela OCDE, peço-lhes que tenham em atenção o meu terror a remoinhos de poeira, e que para não desistir de redigir este texto, antes de o começar, precisei de o racionalizar com a lei da conservação do momento angular, aplicada aos Devils e Dust, e também ao equilíbrio da rotação e translação do interessante giroscópio da imagem - por favor, não reparem, mas estou mesmo a usar uma manobra de diversão para conseguir prosseguir, com o conteúdo do "post"...
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Então, dizia eu, "os meus bichos-papão", àcerca do financiamento da nossa Educação Terciária, são identicos aos de muitos outros portugueses, e são estes:
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1 - O problema, entre nós, não está em sabermos, como todos sabemos, desde há décadas que Portugal investe pouco -- e também muito mal, digo eu, atendendo aos resultados e desempenho geral, evidenciado pelas classes indevidas para que somos invariavelmente atirados em qualquer "ranking" internacional da UNESCO, OCDE e EUROSTAT -- e concordo que o nosso problema está em sabermos priorizar a utilização dos reduzidíssimos recursos disponíveis e, mais restritivos ainda, os referenciados como adequados pela OCDE [over 90% of tertiary educational expenditures came from public sources, in contrast to the OECD, average of 78% "] e cuja incidência e objectivos precisam, claramente, ser reequacionados. Sim, sim! Mas como? E, quando?
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O que pessoalmente reprovo imediatamente - e digo-vos preferiria errar mas, infelizmente, iremos todos testemunhar, as consequências das várias opções de investimento que se esboçaram no relatório de síntese - uma versão bastante livre das conclusões do relatório da OCDE - já de si mais do que induzido - a saber:
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2 - Permanência de muita confusão e interdependência de intenções de financiamento de soluções emaranhadas de Educação, Ciência e Tecnologia, Plano Tecnológico e Compromisso Portugal (logo estes dois últimos, então, que não passam de declarações de intenções políticas, e ainda por cima mal feitas!);
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3 - The Ministry should make a major change in its steering philosophy and funding mechanisms by introducing a system of institutional performance agreements or contracts negotiated between the Ministry (on the basis of objectives derived from the planning framework) and individual institutions.
Negociações individuais? entre quem? o Ministro (o Primeiro? ou este MCTES? e mesmo outro qualquer?) ou o conselho de "coroneis pardos" - "wise persons?" - national council on higher education (CCES) - e com cada instituição de "per si"? com base em grandes objectivos nacionais? com cada um dos Reitores ou de Presidentes das instituições, e estes indigitados? ENTRE NÓS? Ai mãezinha....Mayday! Mayday! SOCORRO! Isto nem é tipo Devil & Dust, isto é mesmo um tornado grau 5 da Saffir-Simpson Hurricane Scale.
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PS 1 - Mas, aonde estaria com a cabeça o Review Team da OCDE, para sequer admitirem como sendo possível que conseguimos reunir, em Portugal, um total de 10 (DEZ?) "wise persons" (wise?), depois de ter constatado com os próprios olhos aonde chegaram os nossos indicadores em matéria de educação terciária ciência e tecnologia? Passaram-se! E não haverá direito a solicitar uma segunda opinião, sobre este tema específico?
PS2 - A minha pergunta de quando é que isto poderá estar pronto, faz também algum sentido, não faz? É que teremos que rever toda a legislação, não é? E, mesmo assim, ou vai-se a ver por isso mesmo, vai contribuir para a "caldeirada orçamental". Vindo de quem vem, nem imaginam como eu gostaria de não estar por perto do desfecho desta verdadeira aventura organizativa do nosso Ensino Superior, Ciência e Tecnologia.

sábado, janeiro 06, 2007

"Há espinhos com rosas"



É sempre muito interessante, sabermos como os outros vêem e interpretam os resultados dos nossos esforços, sobretudo, se nos viabilizarem, à posteriori, também a expressão da nossa visão àcerca do que sobre nós seja dito. Exemplo disto?

As visões do MCTES, e as atribuídas por alguma comunicação social ao CCISP e ao CRUP, sobre o "Relatório da OCDE: A avaliação do sistema de ensino superior em Portugal", são extraordinárias e levam-me a depreender que, no presente caso, a responsabilidade sobre a peculiar situação em que o nosso país se encontra relativamente à Educação Terciária, Ciência e Tecnologia, não configura de forma nenhuma uma culpa solteira, antes porém é, exageradamente, polígama.

Extracto das diferentes conclusões, sobre o referido relatório, como eu as li e interpretei:

O CRUP - "salientou ainda a qualidade do diagnóstico feito, inspirado em grande parte no trabalho prévio preparado pelas autoridades portuguesas mas considerou que as recomendações ficam, muitas vezes, aquém das mudanças que são necessárias no sector - as escassas referências ao desenvolvimento da Ciência e Tecnologia nas Universidades, considerada como a "missão central universitária" (??); à recomendação da OCDE manter inalterada a rede de Ensino Superior"; e, claro como não poderia deixar de ser, que Portugal precisa de corrigir o investimento no Ensino Superior. Pois...

O CCISP - "A tutela deve iniciar de imediato o debate do processo de reforma e reorganização do ensino superior no sentido do diagnóstico e das recomendações da OCDE", apelou, destacando a revisão das leis de Bases do Sistema Educativo, da Autonomia e do Estatuto da Carreira Docente. Já o decreto-lei 74/2006 deve ser clarificado sobre a "possibilidade das instituições se associarem para conferir graus académicos, criando condições para a instituição de redes de formação universitária [???] e politécnica nacionais e estrangeiras (REFUP)"....Finalmente, relembrou a necessidade de uma auditoria externa a todas as instituições de ensino superior público para "apurar os recursos necessários para prosseguir as suas atribuições". Pois...

O MCTES - colherá do documento as apreciações julgadas oportunas para uma reforma
integral e profunda do sistema de ensino superior português. Pois...

Mas, o que nos disse, logo no início deste processo, Marijk Wende, que faz parte do grupo de avaliação da OCDE foi: "Em Portugal, e em geral na Europa, não me parece que o ensino superior tenha uma de duas coisas: seja democrático à entrada e elitista à saída". Para a especialista, seria importante consegui-lo - isto sim, também para Portugal seria uma linda rosa!!!

Até todos fazermos o que precisamos mesmo de fazer, para conseguirmos a flor, cada um vê o Relatório da OCDE, como mais lhe convém (**)





** http://www.lhup.edu/~dsimanek/museum/pentri1.mpg

PS - Os temas dos próximos posts serão: "novos públicos" e "contratos programa plurianuais"

terça-feira, janeiro 02, 2007

"Crochet Caótico"

Se sempre podemos complicar, porque facilitaríamos?
A figura mostra-nos um passo de produção do fabrico industrial, a baixas temperaturas, de um confitado de esticar, o Taffy, e a configuração geométrica e da tensão do equipamento de amassadura, no caso, "esticadura e dobra", que podem ser muito facilmente regulados "à pata e na hora", mas também podem ser integralmente previstos e pré-fixados com rigorosa precisão, para imutáveis condições específicas (diga-se de passagem na prática difíceis de padronizar), por laboriosa exploração da Teoria do Caos, ou seja, pela modelação matemática de um sistema dinâmico não linear - apenas uma de entre as múltiplas aplicações possíveis da generalização das Equações de Lorenz.
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No fundo, é praticamente só isto o que nos diz o "REVIEWS OF NATIONAL POLICIES FOR EDUCATION - TERTIARY EDUCATION IN PORTUGAL. Examiners' Report do DIRECTORATE FOR EDUCATION EDUCATION COMMITTEE" - complicámos e baralhámos até podermos, seremos obrigados a simplificar e a organizar.
Confesso-lhes que, para mim, chega a dar-me vontade de sentar, chorar e comer metros e mais metros de "taffy" (*) quando leio, no relatório da OCDE, o seguinte parágrafo - ponto 4.29, da página 55:
"At the same time, the polytechnics are hearing mixed messages. They are enjoined to upgrade the qualifications of their faculty to PhD level, indeed they are now funded, in part, according to their performance in raising the qualifications of their teaching staff. Yet they are not to be research institutions and not to provide research education, and they are reminded that their approach to higher education should be application-oriented. They hear of consideration being given to the selective integration of some polytechnic schools with universities. They hear that they may be required to provide post-secondary short-courses within their current operating budgets. And they see part of the enrolment shares they have worked to build up over the years, and on which their budgets are based, being eroded through competition from universities and private providers. A more explicit statement of the role of polytechnics is needed, one that conveys an expansive vision of their distinctiveness". Frase esta complementada, no ponto seguinte, por esta imperdível declaração:
The Review Panel cannot assess the extent to which the institutions and the various communities of interest -- especially students, parents and employers -- are willing to embrace differentiated expectations on a horizontal, rather than vertical, basis. On the one hand, history and culture are powerful forces. On the other hand, growth and survival depend on adaptation to changing environmental conditions.
Pois.....
Na verdade, a OCDE tem toda a razão, que outras coisas que não o permanente ruído político-social e as decisões aleatórias de horizontes instantâneos -- "logo aqui, para mim e para já" de natureza estritamente pessoal, foram os motores da educação terciária, durante três décadas, [e nunca se esqueçam das suas origens; é só identificar-se bem a autoria e os contextos de quem esteve por trás das sucessivas legislações e ideias peregrinas publicadas - até eu com a minha reduzida memória tipo analógica me lembro, por isso que ninguém, com mais de 10 anos destas andanças, se faça de desentendido] -- poderiam conduzir as instituições politécnicas para a arapuca em que se meteram? E agora, que outro remédio terão estas, se não emendar "às pressas" a trajectória?
Entretanto, a continuarmos com a formulação ainda teimosamente prescrita, só explicável por oportunismos bacocos, salvo raras e honrosas excepções, qualquer dos subsistemas não tem, nem terá preparado, nos tempos mais próximos, um corpo docente que reúna as competências à altura das necessárias, para o que de facto precisam fazer.
E já agora, não sei que raio de mensagem foi passada à OCDE (mas consigo imaginar, coitados...), porque também não é com aquele burocrático programa das Novas Oportunidades, por eles citado e (re-re)citado, que as instituições públicas poderão contribuir para suprir as gravíssimas deficiências Educativas Nacionais, nem também com aquele outro permanentemente diáfano e impreciso work in progress do Plano Tecnológico que se irá suprir a deficiência tecnológica do país.
Para concretizarmos, aqueles dois nobres objectivos, será preciso muito mais do que conversas fiadas de ocasião, investimentos aleatórios, marionetismos ministeriais concertados, "flyers" e "powerpoints"** de propaganda política, por exemplo, seria necessário também convencer as Universidades que se dedicassem ao que, efectivamente, precisariam de fazer para poucos mas muito bem - "research oriented programmes" e "criação de conhecimento", esta então muito diferente de resolução rotineira de questões comezinhas de transferência de tecnologias que, às vezes - se bem que pensem que não - se percebe muitíssimo bem, que nem sequer dominam os "receituários" básicos.
Enquanto andarem todos, por aí, a fazerem uns "bitaites e uma perninha", a propósito de tudo e de nada que se pareça com €, e em tudo o que há, meus amigos, ninguém fará rigorosamente nada que valha o esforço, atenções e os orçamentos dedicados!
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*só porque Portugal gastou demasiado tempo, e desbaratou demasiados recursos, para nada; se me contassem sem eu saber que isto é a pura verdade, jamais acreditaria ser possível.
** para que conste - e, totalmente, a despropósito - parece que nos meios tecnológicos avançados, o "powerpoint" como forma de comunicação é considerado muito limitado, e é uma manifestação "out of fashion".
5 - CLIVE THOMPSON. "Power Point Makes You Dumb". New York Times. December 14, 2003.