quinta-feira, agosto 30, 2007

Missão - Toupeira

Seguindo o exemplo do Blog-Colabor, tenho também andado no cumprimento escrepulosíssimo de umas quantas Missões-Toupeira.
Eu explico: já há umas semanas, que ando por aqui e por ali, a escavar e a remover terra de várias fontes de informação e, admito, estou a ficar esmorecida com tudo o que por vejo fazer, que aqui não consigo ver.
O que vejo por lá (Forfás - Ireland's national policy and advisory board for enterprise, trade, science, technology and innovation, entidade que está justamente a efectuar uma proposta-contributo para o desenvolvimento do país tendo em consideração uma vision of Ireland in 2020 in which a well-educated and highly skilled population contributes to a competitive, innovation-driven, knowledge-based, Future Skills Needs participative and inclusive economy).
Por favor, reparem no pormenor do ano - horizonte temporal de trabalho - 2020, e atentem apenas para dois exemplos seguintes, de como eles esquematizam o que se propoem executar:
1º - 5th Report. Expert Group on Future Skills Needs. 2007. - estudo estratégico de gestão de competências. Smiples, bem pensado e, naturalmente, muito definido.
2º - Full Report - The Role of the Institutes of Technology in Enterprise Development.(2007). No caso, trata-se de um trabalho que orienta e compatibiliza as características, e expectativas de Escolas Superiores de carácter tecnológico - muito semelhantes a alguns dos nossos "Politécnicos" - com as necessidades previstas pelo mercado. Enquanto nós, por cá, iremos fazer não percebi, bem como, nem o quê de Investigação Orientada [*].

Podemos então comprovar, que não só a galinha deles tem mais enxúdias, a erva deles é mais e mais verde que a nossa, como ainda usam sistemas de trabalho mais sérios, e dispõem de dirigentes muito mais eficientes que os nossos (ou vice-versa).

Poderemos nós fazer alguma coisa?
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[*] Bom, eu não sei nada sobre esse tema, mas sei muito bem quem sabe (ou que empombou que sabe), e vou perguntar, formalmente por cartinha registada, às seguintes pessoas, a saber: Presidente da República, Deputados do PS e também dos outros partidos todos, que não questionaram este ponto no RJIES e, claro, ao MCTES.
Ao CCISP não vou perguntar, porque eu sei perfeitamente, porque é que não questionou este ponto do RJIES, e não é porque por lá se entende o que é investigação orientada no politécnico, mas depois demonstro-lhes as razões - através de um trabalhinho toupeira, que ando a engendrar, mas que está a ficar quase missão impossível de tanto tempo que ocupa; mas isto é uma outra estória...

terça-feira, agosto 28, 2007

Can Too Much Safety be Hazardous? - parte 2

Retomando o tema do Post "Can Too Much Safety be Hazardous? - parte 1, pela afirmação de Edward Groth III, sobre a aplicabilidade prática do Principio da Precaucionaridade na Segurança Alimentar: Science, Precaution and Food Safety: How Can We Do Better?:

"In pratice, food safety decisions fall along a wide continum.
At one end are easiest, most straightfoward decisions, where we have all scientific data we need and there is alittle controversy about the soundness of decisions. At the other end are the most difficult food safety questions."
.
Importa aqui salientar que o mesmo autor inclui os alimentos transgénicos, no nível de maior incerteza - Tipo 5: "Emerging problems where the nature of the hazard is not yet fully understood, quantitative risk assessments are generally not feasible, and even qualitative assessments have a wide margin of error due to lack of basic scientific knowledge."
.
Essa incerteza, e consequente controvérsia - quanto a mim, absolutamente indispensável - não pode nem deve servir, sem explicações realmente convincentes, como desculpa para a instituição artificial de barreiras comerciais ou da articulação de comércio-utilização, a nível global, regional ou local, sobretudo, quando há intervenientes que pretendem deslocalizar o sentido da decisão em sentido contrário ao de múltiplas e sucessivas apresentações de provas.
Em condições com alguma ambiguidade, como é o caso, a decisão final só pode ser de índole política e, pelo menos, ser ou parecer lógica, racional e transparente. É por isso, que penso ser essencial o respeito à Participatory Decision Process: Decisions applying the Precautionary Principle must be transparent, participatory, and informed by the best available science and other relevant information."
.
Portugal, enquanto integrante da Europa, deve cumprir, escrupulosamente, os entendimentos comuns Assim, quanto ao principio da precaucionaridade não poderia deixar de descrever, pormenorizada e CONVENIENTEMENTE, não só cada um dos casos concretos de incerteza sobre o qual decide(iu) mas, tanto quanto possível, divulgar, atempada e sistematicamente, todos posicionamentos, próprios e/ou alheios, pró e/ou contra, que reúnam qualidade científica e tecnológica comprovada.
Quanto, à aplicação do Principio da Precaucionaridade, ao caso específico de alimentos geneticamente modificados, em especial, aos transgénicos, em Portugal, desde o início de cada um dos processos,
deveríamos cuidar muito bem do registo e publicitação sistemáticos de informações pertinentes para que a sua omissão (que eu atribuo a simples indolência/pouco caso) não possa ser erradamente interpretada, como se estando a esconder informações inquietantes, com fins escusos, ou a protegerem-se interesses indevidos.

Algumas Curiosidades sobre milho TG utilizado em Silves:
1 - Trata-se de um insect-protected YieldGard corn, event MON 810, that produces the naturally occurring Bacillus thuringiensis (Bt) protein, Cry1Ab.
2 - De notar que o próprio Bacillus thuringinensis é utilizado, em procedimentos de protecção integrada, em agricultura BIOLÓGICA.
3 - O "YieldGard corn is protected from feeding damage by the European corn borer (ECB, Ostrinia nubilalis), the southwestern corn borer (SWCB, Diatraea grandiosella) and the pink borer (Sesamia cretica)" - estas três pragas são conhecidas, genericamente, em Portugal, por "Broca(s)" e são responsáveis em caso de infestação grave (1 lagarta por planta) por quebras de produção da ordem de 30%.
4 -
Percentagem de polinização cruzada desse milho é inferior a 1% dentro de uma distância de 28 m na direcção do vento e de 10 m na direcção oposta.
5 - As plantas descendentes do MON 810 são férteis, isto é, não são suicidas.
6 - Em Portugal, pressupostamente, os milhos TG são utilizados para rações animais. Não está ainda clarificado se a proteína incluída por transgenia na planta hospedeira, é inteiramente degradada nos tratos digestivos dos animais, se bem que a proteína em si o seja.
7 - O efeito insecticida das plantas esbate-se com a idade da mesmas, com a agravante de se tornarem as preferidas da Broca, em presença simultânea com outras plantas não transgénicas da vizinhança.
8 - É obrigatório utilizar-se um sistema/esquema de refúgio - para as pragas visadas e já referidas - do qual participam plantas não transgénicas .
9 - No caso em apreço, da plantação Algarvia, teria havido vantagem para todos, a definição prévia se a região em causa seria ou não "politicamente" destinada a um reduto nacional "livre de transgénicos".

Conclusões:
i) Posto o que já disse, como é evidente, não disse nada, porque também nada sei tendo em vista não dispor de vivência própria directa neste Principio da Precaucionaridade aplicado aos transgénicos. O mesmo já não diria no caso do co-incineração ("lavei chaminés" durante mais de 3 anos da minha vida) que também mencionei no post TG, a propósito de consequências nefastas da falta de cumprimento das regras de comunicação, com os cidadãos comuns, de forma clara, participativa e definida com respeito, ética, transparência etc., etc. ....
ii) A amplitude, ramificações e implicações do tema - Principio de Precaucionaridade - não é, porém, muito propícia tratar-se com a forma condensada própria de "posts de blogs".
iii) Gostaria que o nosso governo tivesse apresentado de forma sistemática, clara, fundamentada e provada os seus argumentos pró decisões favoráveis.
iv) Gostaria que as pessoas ditas ambientalistas tivessem ocupado o seu tempo e energia a apresentar de forma sistemática, clara, fundamentada e provada os pontos contra a decisão favorável.
v) Espero, porém, que a minha posição sobre o Principio de Precaucionaridade, que tentei expressar no meu post intitulado TG, tenha ficado agora um pouco mais clara, sobretudo, para o leitor que me pediu para clarificar o meu entendimento.

___________________
Selecção de Bibliografia Pertinente:
-
MON 810 Environmental e MON 810 Food Safety
- Graham Brookes and Peter Barfoot The benefits of adopting genetically modified, insect resistant (Bt) maize in the European Union (EU): first results from 1998-2006 plantings.
PG Economics Ltd., UK. 2006. http://www.isaaa.org/resources/publications/briefs/36/download/isaaa-brief-36-2006.pdf
- Australia
New Zealand Food Authority . Final Risk Analysis Report A346: Food produced from insect-protected corn line MON810. http://www.agbios.com/docroot/decdocs/01-334-001.pdf- Babendreier D, Joller D, Romeis J, Bigler F, Widmer F. (2007) Bacterial community structures in honeybee intestines and their response to two insecticidal proteins. FEMS MicrobiologyEcology 59:600-610.
http://www.blackwell-synergy.com/doi/abs/10.1111/j.1574-6941.2006.00249.x
- Bailey J, Scott-Dupree C, Harris R, Tolman J, Harris B (2005) Contact and oral toxicity to honey bees (Apis mellifera) of agents registered for use for sweet corn insect control in Ontario, Canada Apidologie 36:623-633. http://dx.doi.org/10.1051/apido:2005048
- Canadian Food Inspection Agency, Plant Biotechnology Office. Decision Document 97-19: Determination of the Safety of Monsanto Canada Inc.'s YieldgardTM Insect Resistant Corn (Zea mays L.) Line MON810. http://www.agbios.com/docroot/decdocs/01-290-034.pdf
- Diane E. Stanley-Horn , Galen P. Dively, Richard L. Hellmich, Heather R. Mattila, Mark K. Sears, Robyn Rose , Laura C. H. Jesse, John E. Losey, John J. Obrycki, and Les Lewis. (2001). Proc. Natl. Acad. Sci. USA Early Edition. Assessing the impact of Cry1Ab-expressing corn pollen on monarch butterfly larvae in field studies http://www.agbios.com/docroot/articles/pnas-01-261D.pdf

- Dirk Babendreier, Nicole M. Kalberer, Jörg Romeis, Peter Fluri, Evan Mulligan & Franz Bigler (2005) Influence of Bt-transgenic pollen, Bt-toxin and protease inhibitor (SBTI) ingestion on development of the hypopharyngeal glands in honeybees Apidologie 36 585-594 http://dx.doi.org/10.1051/apido:2005049
- European Commission Scientific Committee on Plants.. Opinion of the Scientific Committee on Plants Regarding the Genetically Modified, Insect Resistant Maize Lines Notified by the Monsanto Company (NOTIFICATION C/F/95/12/02). http://www.agbios.com/docroot/decdocs/01-290-035.pdf
- Liu B, Xu CG, Yan FM, Gong RZ (2005) The impacts of the pollen of insect-resistant transgenic cotton on honeybees. Biodiversity and Conservation 14: 3487-3496. http://dx.doi.org/10.1007/s10531-004-0824-7
- Michael Bannert (2006) Simulation of transgenic pollen dispersal by use of different grain colour maize. A dissertation submitted to the Swiss Federal Institute of Technicaly Zurich for the degree of Doctor of Sciences. http://www.agrisite.de/doc/ge_img/pollen-swiss.pdf
- Sanvido O, Stark M, Romeis J , Bigler F (2006) Ecological impacts of genetically modified crops. Experiences from ten years of experimental field research and commercial cultivation.Switzerland. http://www.services.art.admin.ch/pdf/ART_SR_01_E.pdf
- Velkov VV, Medvinsky AB, Sokolov MS, Marchenko AI (2005) Will transgenic plants adversely affect the environment?Journal of Biosciences 30:515-548. http://www.ias.ac.in/jbiosci/sep2005/515.pdf
- Frédérique Angevin (2003) Gene flow in maize. INRA, Eco-innov unit, F-78850 Thiverval-Grignon. http://ec.europa.eu/research/biosociety/pdf/rt_angevin_abstract.pdf ART-Schriftenreihe Nr. 01, Agroscope Reckenholz-Tänikon Research Station ART,

domingo, agosto 26, 2007

"Can Too Much Safety be Hazardous?" - parte 1

Prometi a um leitor do "post" TG, deste mesmo blog, pormenorizar o tema do "Principio da Precaucionaridade" que mencionei, e cá estou eu, a tentar clarificar as afirmações, que subscrevi.
Devo prevenir, previamente, que estou a falar para os meus caros e raros leitores, na qualidade de uma perfeita diletante mas que - perante toda e qualquer situação controversa - procura formar a opinião, com base em consulta de diferentes fontes de informação - de preferência, muito contraditórias entre si, sob condição de serem ou, pelo menos, parecerem ser lógicas e bem fundamentadas - até assumir um posicionamento, estritamente, individual sobre o assunto. Concluído esse penoso processo - que, por vezes, me leva anos e anos a construir - ai, ai sou tão lenta... - não abdico de defender o que penso, em qualquer instância, a qualquer custo, nem que seja perante condenações extremes da Santa Inquisição, ou
esteja mesmo já a assar numa fogueira...
O título
desta abordagem temática, que ocupará mais do que um post, foi emprestado de um artigo «Can Too Much Safety be Hazardous? A Critical Look at the 'Precautionary Principle'».

Vou apenas tentar esclarecer os meus caros e raros leitores, sobre o que penso deste principio, falando-lhes um pouco sobre o que é, porquê, e porque me parece importante a sua consideração, sempre que somos obrigados a decidir sob condições de incerteza.

Anos chave do Principio da Precaucionaridade (adaptado de "
A Brief History of the Precautionary Principle")

1. - 1984 - "precautionary approach" para redução da poluição no Mar do Norte.;
2. - 1987 - Ozone Layer Protocol - "precautionary measures" para controlo, a nível global, de emissões que pressupostamente afectavam a camada de ozono estratosférico.;
3. -1990 - Declaração de Bergen sobre o Desenvolvimento Sustentável e a Conferência Mundial sobre o Clima, cujas conclusões incluem a seguinte frase: "Where there are threats of serious or irreversible damage, lack of full scientific certainty should not be used as a reason for postponing measures to prevent environmental degradation;"
4. - 1992 - Cimeira da Terra (Rio de Janeiro) Principle 15 in the Rio Declaration on Environment and Development;
5. - 1994 - Maastricht Treaty of 1994, (Art. 130r.2) principio do poluidor pagador.
6.-1995 - Porque o Precautionary Principle was "gaining increasing support as part of the international law of the environment" serviu de fundamento às deliberações do Tribunal Internacional de Justiça, sobre os testes nucleares de França.
De lá para cá este conceito de precaucionaridade ganhou importância e vem constituindo-se como imprescindível em todo e qualquer processo de tomada de decisão, sob condições de incerteza.
Edward Groth III, da Consumers Union of U.S., Inc. publicou. em 2000, um interessantíssimo artigo sobre a aplicabilidade prática do Principio da Precaucionaridade na Segurança Alimentar: Science, Precaution and Food Safety: How Can We Do Better? do qual, extraí: "...Sometimes, research can confirm a hazard - i.e., demonstrate that the decision was sound. But it is also important to have realistic expectations for what research can achieve. In many cases, precautionary action is needed because there are questions science can't answer-not just because we don't have all the data we need, but because science currently has no valid methods for getting the needed data. In other cases, we may have the tools we need to measure harm, but precautionary action will prevent our knowing how much harm would have occurred if we had not acted. In still other cases, it is feasible to collect data, but society would be much better off simply replacing a risk-generating activity with a safer way to meet the same technical or economic need.
Before deciding that research must be pursued to get more precise estimates of risks of using an inherently risky food substance, governments should be permitted to do a comparative cost/risk analysis.
If there are lower-risk and lower-cost alternatives, research to refine risk assessments for a substance rejected on precautionary grounds is a bad investment.
For either reason-the inability of science to eliminate uncertainties, or the economic irrationality of research to make a risky choice more acceptable when there are obviously better alternatives-it can be bad policy to require research as a condition of precautionary decisions.
.....
In pratice, food safety decisions fall along a wide continum. At one end are easiest, most straightfowar decisions, where we have all scientific data we need and there is alittle controversy about the soundness of decisions. At the other end are the most difficult food safety questions."

These are issues on which the science is so incomplete and subject to legitimate debate among experts that government decisions, no matter how much effort went into them, can be challenged as unsupported by the evidence, while observers with no interest in the outcome cannot tell who is right. Between these two extremes lie many different types of decisions, each with their own degrees and types of uncertainties."


Para o recurso ao principio da Precaucionaridade, é conveniente perante a situação-problema organizarmos, previamente, forma de respondermos às seguintes perguntas, organizadas numa checklist:

Precautionary Checklist
1. What do we care about.
2. What are we trying to accomplish?
a. Who shares this goal?
b. Do the goals reflect what we care about?
3. What choices do we have?
a. What is feasible and likely to move us toward the goal?
b. How do choices compare and rank?
c. How do we find even better solutions?
d. How do we adopt better solutions?
4. What is the bigger picture?
a. What are the “upstream” problems? What are the downstream repercussions? What is the broader context?
b. What are the earlier solutions? The most elegant? Is there a systemic solution that could create multiple benefits? Where can we intervene in the system to set in motion the best solutions?
5. Do we know enough to act? Do we know so little we must act with caution?
a. How would we know if harm was occurring or about to occur?
b. What do we know about harmful effects?
c. Where does our knowledge come from?
d. How can we predict from what we know already?
e. Do we know enough to act?
f. Do we know so little that we must act with caution?
g. Are we getting all the information we need from those who have it? Is testing thorough? Is monitoring adequate? How will we learn?
6. Who is responsible?
a. Are those responsible accountable?
b. Is government acting responsibly as public trustee?
c. Who has the burden of proof- those who harm or those who are harmed?
d. How can we distribute power, costs, benefits, and responsibilities more justly?
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Referências do tema/post:

- THE PRECAUTIONARY PRINCIPLE IN ACTION A HANDBOOK. First Edition. Science and Environmental Health Network. Joel Tickner - Lowell Center for Sustainable Production Carolyn Raffensperger - Science and Environmental Health Network and Nancy Myers.
- Applying the Precautionary Approach to Living Modified Organisms
December 11-15, 2001. Montpellier, France.. Katherine Barrett. A Workshop Presented by SEHN at the Intergovernmental Committee For the Cartegena Protocol on Biosafety.
- Precautionary Principle. Brussels, 02.02.2000
. COM(2000) 1 .
COMMUNICATION FROM THE COMMISSION. - International Food Information Council (1999), Myths and Facts About Food Biotechnology. Food Insight, September-October 1999, pages 2-3.
- Consensus Document on Safety Information on Transgenic Plants Expressing Bacillus thuringiensis - Derived Insect Control Protein. OECD Environment, Health and Safety Publications Series on Harmonisation of Regulatory Oversight in Biotechnology. Julho, 2007.

- Science, Precaution and Food Safety: How Can We Do Better?” A Discussion Paper for the US Codex Delegation. Edward Groth III, Consumers Union of U.S., Inc.Yonkers, New York. February, 2000.

quinta-feira, agosto 23, 2007

Só falta uma brisazinha para o arranque [*]

Meus caros e raros leitores, por favor, a partir de hoje, lembrem-se bem desta data - 23 de Agosto 2007, do Senhor MCTES, do PS e do Senhor Presidente da República.
É que já não falta nadinha ao progressivo Ensino Superior Português, nas próximas décadas, porque, via o Jornal Público, já temos de uma penada:
1.Promulgado novo regime jurídico do Ensino Superior;
2. Aprovada criação da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior;
3. Governo aprova crédito para estudantes do superior e afasta aumento de propinas.

Porque será que esta feliz ocorrência de hoje, me faz lembrar uma cena pessoal doméstica, de outra data de há, mais ou menos, 50 anos atrás: Um meu familiar, então com três anos de idade, ou nem tanto, em transe de birra, sentado desgostozíssimo no pátio de uma casita, aonde passávamos as férias de verão, chorava, desalmadamente e gritava, soluçando, convulsivo e ranhoso: "Mãããeee, tenho pópós,... tractor,...(a)vião..., triciclo, ...tambo(r),...patins, ...be(r)lindes... e bicicleta de rodinhas ... Tenho tudo! Só não tenho amigos para brincar..."
______________
[*] Pois, eu ando há uns dez dias bem medidos, a avaliar a brisazinha necessária ao subsistema politécnico público. Meus caros e raros leitores, tenham lá um bocadinho de paciência, tão logo que eu tenha a brisa pronta, peço-lhes a vossa opinião. Está prometido.

terça-feira, agosto 21, 2007

TG

Fonte da imagem (aqui)

Não, meus caros e raros leitores, ao título deste meu post não lhe falta nenhum V; Para lhes falar do TGV ando já há um bom par de meses em recolha e compilação bibliográfica pertinente. Este TG é apenas um nome carinhoso que atribuo para abreviar o conceito de "transgénico".
Só lhes venho falar de TGs porque faz hoje, precisamente, uma semana que ando um bocado envergonhada com o que, honestamente, penso serem as tristíssimas figuras públicas, actualmente, já com repercussões internacionais, de alguns dos meus compatriotas.
A questão a que me refiro, subscrevendo e parafraseando JVC, do blog Bloco de notas, é mesmo muito grave e, a meu ver, tudo se resume a duas nossas já consagradas atitudes deploráveis: muita gente com pouco que fazer e desprovida de know-how para defender, à séria, as suas pretensas causas, e pouca gente que teria muito que fazer e muitas causas a defender, mas que pouco ou nada faz, nem deixa fazer.
Incluo no primeiro grupo (A) as desabonatórias exibições das Associações Ambientalistas Verde Eufêmia e Almargem e, para mal dos meus pecados, no segundo grupo junto, em exequo, o B) Ministério da Agricultura Desenvolvimento Rural e Pescas (MADRP) e C) a GNR.

A) Quanto às Associações Ambientalistas, além da minha mais absoluta e radical reprovação dos seus processos e métodos, nesta e noutras, demasiadas, intervenções semelhantes (ex: co-incineração) não tecerei comentários; para os fazer precisaria, previamente, discorrer pelo menos uns dois ou três compêndios temáticos, e não estou nem com tempo nem com disposição para isso - quem sabe, um dia...

B) Quanto ao MADRP, vejamos, apesar das INFELIZMENTE, reduzidíssimas actividades produtivas neste nosso país, na área dos transgénicos, deveria:
1 - garantir e fazer cumprir a Directiva Europeia n.º 2001/18/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de Março, Europeia (nacional) pertinente Decreto-Lei n.º 72/2003, de 10 de Abril, Decreto-Lei n.º 164/2004, de 3 de Julho, Decreto-Lei n.º 168/2004, de 7 de Julho, o Decreto-Lei n.º 160/2005, de 21 de Setembro, a Portaria n.º 904/2006, de 4 de Setembro,
2 - Respeitar o Principio da Precaucionaridade nos seus elementos chave: "Anticipatory Action: There is a duty to take anticipatory action to prevent harm. Government, business, and community groups, as well as the general public, share this responsibility. Right to Know: The community has a right to know complete and accurate information on potential human health and environmental impacts associated with the selection of products, services, operations or plans. The burden to supply this information lies with the proponent, not with the general public. Alternatives Assessment: An obligation exists to examine a full range of alternatives and select the alternative with the least potential impact on human health and the environment, including the alternative of doing nothing. Full Cost Accounting: When evaluating potential alternatives, there is a duty to consider all the reasonably foreseeable costs, including raw materials, manufacturing, transportation, use, cleanup, eventual disposal, and health costs even if such costs are not reflected in the initial price. Short-and long-term benefits and time thresholds should be considered when making decisions. Participatory Decision Process: Decisions applying the Precautionary Principle must be transparent, participatory, and informed by the best available science and other relevant information."

Quando o MADRP desata a pular a esmo as fases e etapas que lhe competem, sobretudo as fases de conveniente divulgação pública, está a chamar por sérias complicações posteriores. Não adianta nada agora vir dizer que o agricultor em causa cumpriu a lei.
O que seria preciso era TODOS sabermos que este Senhor agricultor cumpria a lei dos TG, e que o Estado cumpriria também a parte que lhe cabe, isto é, lhe asseguraria em contrapartida TODOS os direitos.

C) O que pelos vistos não adiantou mesmo nada foi chamar a GNR, o que me trás ao último ponto:
Mas porque havemos nós de custear forças policiais se, na "hora do vamos ver", ele(a)s chutam os problemas para canto?
___________
Observações:
-Esclareço já que apenas e só, sob o respeito absoluto ao principio da precaucionaridade, sou INTEIRAMENTE favorável aos transgénicos e à co-incineração de resíduos banais/perigosos.
- O perigo REAL que Portugal enfrenta, actualmente, é o nosso firme propósito de querermos, à viva força, e até sob protecção da inércia da segurança pública e governamental, permanecer atrasados, ignorantes e dependentes.
-"Spanish growers have led the adoption of GMO in Europe - resulting in annual reductions of pesticide applications of up to 123,000 pounds (56,000 kg) per year in Spain. Ismael Purroy, a GM corn grower from Spain, explains how biotech crops have eliminated damage from serious insect infestations and brought peace of mind and security to him and his family."

segunda-feira, agosto 20, 2007

À cautela, apertem os cintos

Hoje foi publicada no Diário da República, 1.ª série - N.º 159 - 20 de Agosto de 2007, a Resolução do Conselho de Ministros n.º 109/2007. Conhecemos, desta forma, a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável, (ver aqui - ENDS-2015), com um horizonte de execução, muito mais ou menos, até 2015; está, portanto, conferida publicamente a autorização para voar em velocidade supersónica, para alcançarmos os profusos objectivos e as metas.
Mesmo que a nossa ENDS não descole do "ground zero", será muito útil, como iremos testemunhar, mantermos os cintos bem apertados....

sexta-feira, agosto 17, 2007

Countdown: 8...7...6....

Ao fim de quase um mês, muito mais comprido que o dos assalariados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, o Diário Económico lembrou-nos hoje, e bem, que o Senhor Presidente da República terá 8 dias para se decidir, sobre o que fazer da PROPOSTA DE LEI N.º 148/X, REGIME JURÍDICO DAS INSTITUIÇÕES DO ENSINO SUPERIOR.
O texto, com alguns parágrafos com os quais até concordo, a meu ver, não está, no entanto, em condições de ser repensado, deveria era ser pensado de raiz.
Até agora, esta Lei foi apenas uma sequência federativa de falhanços, mas pode ser que ainda haja lá, em Belém, uma réstia de iões pensantes saudáveis....

segunda-feira, agosto 13, 2007

Estará o futuro no prego?

O artigo intitulado "Massificação e eficiência do ensino superior" - publicado no Diário Económico online de 13 de Agosto de 2007, subscrito por Miguel Castro Coelho, Economista e ‘research felow’ no Institute for Public Research, Londres - deixou-me sem saber o que pensar.
O autor fala-nos da "concessão de empréstimos para estudo (incluindo financiamento de propinas e custos de subsistência) cuja amortização depende do rendimento que o titular do empréstimo vem a auferir ao longo da sua vida activa".
.
Já tinha ouvido, muito ao de leve e ao longe, discorrer sobre esta ideia - e, deixando de lado, as filosofias do texto da Constituição Portuguesa, até porque, nos dias de hoje, não parecem estar a resultar muito bem em muitas frentes do seu cumprimento - pode tratar-se até de uma alternativa equitativa e incentivadora de francas melhorias no ensino superior, nomeadamente, no que se refere ao sucesso escolar. Nunca valorizamos, como por vezes merecem, as coisas que são baratinhas.
Torna-se de facto injusto a nível nacional, que uma clara minoria da população portuguesa (menos que 250 000 cidadãos) pague, desde que não isenta, um valor sempre inferior a 25% dos custos reais da sua formação inicial de nível superior (que se situam, em média, por aluno e ano, em 4,403 Euros na Universidade e 3,383 nos Politécnicos, e não incluem a Acção Social Escolar)
[1].

Mais à frente, no seu depoimento, o autor esclarece:
A vantagem deste sistema é evidente: a amortização depende directamente da capacidade de pagamento do titular e é determinada não pelo ponto de partida (se nasceu numa família rica ou pobre), mas pelo ponto de chegada (se vem a auferir rendimento suficiente para pagar o empréstimo ou não). Desta forma, consegue-se transferir parte significativa dos custos do sistema para os seus beneficiários efectivos, sem estabelecer cedências em matéria de equidade.
.....
E o artigo é rematado por: Num sistema deste tipo o Estado retém uma capacidade de controlo e influência importante. São-lhe confiados os papéis de co-financiador nos termos acima mencionados; facilitador da implementação do sistema de empréstimos referido; promotor activo de equidade pelo favorecimento das classes sócio-económicas mais baixas; e regulador da qualidade da prestação dos serviços lectivos, acreditando instituições, monitorizando a sua performance, e impondo a publicação dessa informação para uso dos candidatos a aluno.
.
Não quero parafrasear Karl Marx, quando diz "não sou Marxista" mas, se estiver a ver bem a questão, sou claramente a favor da ideia ... não sou?

__________________

[1] Tertiary Education in Portugal Background Report prepared to support the international assessment of the Portuguese system of tertiary education.


sábado, agosto 11, 2007

Trocando em miúdos a anterior economia do fósforo

Cheguei a pensar que o post anterior, em pleno Agosto, não tivesse qualquer repercussão mas teve, e de que maneira, de um dos meus caríssimos, raríssimos e especialíssimos leitores, Alexandre Sousa, do blog Co-Labor.
Ao contrário de mim, ele não põe dedinhos sobre feridas, faz mesmo uma radiografia de extirpação radical das asneiras (eu chamo-lhes crimes de atentado à ingenuidade) que aprovámos, e fundamenta o raciocínio que usou.
ESTE ALEXANDRE É MESMO O MÁXIMO, UMA RARIDADE, EM PORTUGAL.
Ora, por favor, leiam lá os dois comentários do Alexandre Sousa, que ele subscreve, no post anterior, e digam se não devemos todos estar cada vez mais preocupados com a aplicação do RJIES:

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Extracto de 1º comentário de Alexandre Sousa
FRASCATI MANUAL:
A definição básica de I&D presente na edição actual do FM é:
“Research and experimental development (R&D) comprise creative work undertaken on a systematic basis in order to increase the stock of knowledge, including knowledge of man, culture and society, and the use of this stock of knowledge to devise new applications."
(OECD, 2002, Pg. 63)
O manual define três camadas de actividade para o I&D, cada uma com horizontes diferidos no tempo no que se refere à sua exploração potencial:
- investigação básica,
- investigação aplicada
- desenvolvimento experimental.
Além disso a investigação básica está subdividida em investigação básica pura e investigação básica orientada.
"Basic research is experimental or theoretical work undertaken primarily to acquire new knowledge of the underlying foundations of phenomena and observable facts, without any particular application or use in view." (OECD, 2002, Par. 240)
"Oriented basic research may be distinguished from pure basic research as follows: Pure basic research is carried out for the advancement of knowledge, without seeking long-term economic or social benefits or making any effort to apply the results to practical problems or to transfer the results to sectors responsible for their application. Oriented basic research is carried out with the expectation that it will produce a broad base of knowledge likely to form the basis of the solution to recognised or expected, current or future problems or possibilities."
(OECD, 2002, Par. 243).

Paramos aqui, para pensar… Só existem referências à «investigação orientada» quando o tema é investigação básica! Como diria o Rei da Prússia: Não sei se me estou a fazer entender.

"Applied research is also original investigation undertaken in order to acquire new knowledge. It is, however, directed primarily towards a specific practical aim or objective." (OECD, 2002, Par. 245)
"Experimental development is systematic work, drawing on knowledge gained from research and practical experience, that is directed to producing new materials, products and devices; to installing new processes, systems and services; or to improving substantially those already produced or installed."
(OECD, 2002, Par. 249)

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Extracto de 2º comentário de Alexandre Sousa
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Não admito, que arbitrariamente, se assalte um manual de referência da actividade denominada Investigação & Desenvolvimento, publicado pela entidade supra referenciada pelo MCTES, a insuspeita (?!) OCDE e se corte à laia de lápis azul a palavra: «básica» de um enunciado onde está expressa «investigação básica orientada».
É que essa, por definição e tradição, é o grande território da investigação universitária por excelência.
Depois temos um terrorismo de ignorância quando por meio de uma Lei escrita nos costados de uma burra, se decreta por omissão, que as escolas politécnicas não podem fazer «investigação aplicada» e «desenvolvimento experimental». Era só o que faltava!
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Não Alexandre, do meu ponto de vista tem toda razão, se eu fosse um reitor mesmo daqueles muito manhosos, não me faltava mais nadinha, para eu estar a esfregar as mãos de feliz e contente e dar pulos de alegria, DESTA ALTURA. É justamente, por isso que, apesar de muito ignorante, tenho estado MUITÍSSIMO PREOCUPADA e tenho mantido a ideia fixa de esclarecer este negócio cigano da "investigação orientada".
Mais, ainda vou voltar à carga, apesar de como sabemos, mesmo que o Presidente da República não promulgue a lei e ela volte à Assembleia da República, já só precisa de ser aprovada por maioria simples, para o Presidente a ter que promulgar.

sexta-feira, agosto 10, 2007

Economia do fósforo

Autor da imagem: Tim Newbery

Hoje em dia, quando tanto se fala do impacte da actividade humana sobre o aquecimento global e da importância que tem, para o mundo, a economia do carbono - este com cotações interessantes no mercado internacional - pareceria que Portugal poderia contribuir de uma forma pioneira, para o controlo dessas duas contingências mundiais e, porque não dizê-lo, até com um rasgo inovador, poupando não só o carbono, mas também o fósforo reduzindo, em simultâneo, o desperdício do tempo e da paciência dos residentes da nação.
Refiro-me aqui à economia daquele fósforo inserido na matriz orgânica dos alimentos humanos que, de acordo com os entendidos, contribui para o bom desempenho da nossa massa cinzenta, o que, como sabemos, não é já em si mesma, lá essas coisas, merecendo portanto o seu dispêndio em vão, ser devidamente controlado.
Bem pensado, não acham?
Muito obrigada!
Os meus caros e raros leitores não fazem a mais pequena ideia do que lhes estou a falar?
Ora, é claro que os meus caros e raros leitores sabem muito bem o que estou a tentar dizer, mas, mesmo assim, vou explicar este meu brilhante e criativo raciocínio para todos os outros que não me lêem, aduzindo um exemplo, devidamente, "orientado" por um objectivo, como demonstrarei:

EXEMPLO:
Andaram os nossos políticos de todos os quadrantes, juristas, legalistas, constitucionalistas, CRUP, CCISP, reitores de universidades, presidentes de politécnicos e até cidadãos comuns a dar voltas ao miolo e tratos de polé, às sucessivas e múltiplas redacções do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, para que o texto legal final da Lei, actualmente, em promulgação, escarrapachasse bem a diferenciação dos subsistemas de ensino superior - universidades para um lado e politécnicos para outro.
Claro que, depois de muito se falar dentro e fora das instituições, cada um interpreta a investigação destinada aos Politécnicos, com a designação "orientada" - expressa no artigo 7º, ponto 1, do Texto Final Da Proposta De Lei N.º 148/X-Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior ( aqui ) - conforme melhor lhe parece e, sobretudo, dá jeito, eu também tenho a minha interpretação, mas para o que lhes gostaria de transmitir, não nos interessa.
Já experimentaram indagar as diferentes interpretações?
Não?
Então experimentem e digam-me os resultados a que chegaram. (Sugestão para não se maçarem: perguntem a opinião a um ou dois quaisquer presidentes e reitores)

Mais interessante ainda, irá ser depois, na hora do "vamos ver" quando todos acharem que se podem candidatar a todos os financiamentos públicos (outras formas de financiamento não interessam) e os outros mais de 50%, também interessados, no mesmo bolo de financiamento, acharem que as propostas oriundas dos politécnicos ou a) não estão devidamente "orientadas", como especifica a lei, e por isso não merecem ser consideradas para candidatura a nenhum financiamento ou b) a proposta da escola X, como é submetida por alguém politicamente maleável, até merece uns migalhos, e pague-se lá 10% do que diz e demonstra que precisa, para não torrar as ideias...

Aqui valem apostas! Eu pago 100 por cada 1.
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Entretanto, atentem, por favor, ao seguinte facto:
O GPEARI - Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais do MCTES (antigo OCES, lembram-se?) até se deu ao trabalho de publicar um Glossário, pertinente às definições e conceitos relevantes para áreas de actividade do OCES, que inclui na letra I- CLASSIFICAÇÃO Investigação e Desenvolvimento (I&D) , assim:

CLASSIFICAÇÃO Investigação e Desenvolvimento (I&D)Todo o trabalho criativo prosseguido de forma sistemática, com vista a ampliar o conjunto dos conhecimentos, incluindo o conhecimento do Homem, da Cultura e da Sociedade, bem como a utilização desse conjunto de conhecimentos em novas aplicações.
Do ponto de vista funcional distinguem-se as seguintes categorias de actividades de I&D:
INVESTIGAÇÃO FUNDAMENTAL (IF) - Categoria de actividade de Investigação e Desenvolvimento (I&D) que consiste em trabalhos, experimentais ou teóricos, empreendidos com a finalidade de obtenção de novos conhecimentos científicos sobre os fundamentos de fenómenos e factos observáveis, sem objectivo específico de aplicação prática.

INVESTIGAÇÃO APLICADA (IA) - Categoria de actividade de Investigação e Desenvolvimento (I&D) que consiste em trabalhos originais efectuados com vista à aquisição de novos conhecimentos com uma finalidade ou objectivo pré-determinados.

INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO (I&D) - Categoria de actividade de Investigação e Desenvolvimento (I&D) que consiste na utilização sistemática de conhecimentos existentes, obtidos por investigação e/ou experiência prática, com vista à fabricação de novos materiais, produtos ou dispositivos, estabelecimento de novos processos, sistemas ou serviços, ou para a melhoria significativa dos já existentes.
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Agora, por favor, expliquem-me lá porque será que o Senhor Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior decidiu então, da própria lavra, usar o conceito de "Investigação orientada" em oposição a nenhuma(s) outra(s) classe(s) de investigação, e com interpretações aleatórias, se não for apenas para efeitos de consumo desnecessário de neurónios ou para incrementar mais ainda a confusão que está a conseguir instalar.

Não acham que o Senhor Ministro poderia/deveria, simplesmente, utilizar a classificação adoptada no seu próprio ministério e dizer, textualmente, na sua proposta de lei que a investigação fundamental com potencial financiamento público, seria da competência e dever exclusivos das universidades, tal como as formações, ao nível de doutoramento. Como o Senhor Ministro não fez o que devia, podem crer-me, este mesmo tema, no futuro, fará correr muita tinta e será o pezinho de muitas danças de bastidores.

quarta-feira, agosto 08, 2007

Fuzzy minds X Clear minds

No post "Empregabilidade, Raster Graphics e resolução de imagem" de sábado, 4 de Agosto, deste blog, referi que não resistiria a comentar alguns aspectos controversos do artigo "As famílias devem saber o que vale um curso para a empregabilidade"- publicado no "Blog" de Campus, Jornal de Negócios.
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Do muito que ainda fica por dizer a esse propósito - admitindo que a transcrição da entrevista não é, exclusivamente, o resultado de mais uma retroversão livre da comunicação social sobre afirmações de outrem - considero, muito preocupante, se não for sobejamente esclarecida, melhor seria, mesmo desmentida, a seguinte passagem da "entrevista" do Senhor Ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior:

Pergunta: De que modo se vai processar a possível criação de fundações por parte das faculdades, independentemente da sua ligação às universidades a que pertencem?
Suposta resposta: "Se uma faculdade se quer autonomizar e entende que se deve autonomizar, a lei obriga a que a universidade se pronuncie sobre as razões que entende que a levam a melhor cumprir a sua função deste modo. Aquilo que propus era que era útil, quando houvesse iniciativas dessas que fossem boas, que se criassem consórcios que, por um lado, não prejudicassem a autonomização da instituição, mas que, por outro lado, essa instituição puxasse pelas outras. Que se criassem livremente consórcios com outras instituições, não apenas com a casa mãe, mas com novas instituições. Isso é particularmente importante nas universidades mais dinâmicas, que hoje têm instituições, sobretudo de investigação científica, que são privadas." [acentuação minha]. "São investigações privadas sem fins lucrativas, que foram criadas pelos investigadores, sem as quais não haveria investigação em Portugal em muitas áreas científicas."

As minhas reticências - Que raio de conversa de cenoura e abobrinha veio a ser esta? Como é possível admitir-se sequer a existência de um tal dinamismo, sem se acrescentar uma descrição exaustiva do contexto da afirmação?
Só posso estar mesmo muito confusa mas, para mim, no que diz respeito às mobilidades possíveis entre meios/recursos públicos e privados, reparto-as apenas em quatro classes:
Utilização de meios/recursos privados em benefício de meios/recursos públicos - Filantropia;
Utilização de meios/recursos privados para benefício de meios/recursos privados - Caridade;
Utilização de meios/recursos públicos em benefício de meios/recursos públicos - Governação;
Utilização de meios/recursos públicos em benefício de meios/recursos privados - Corrupção.

Escapar-me-á a existência de outras classes/categorias de mobilidade?
Caso não se vislumbrem outras categorias, o que serão, e em que categoria se insere e qual é o sentido de investigações (será lapso?) privadas sem fins lucrativos?
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PS - Para que conste, sou totalmente a favor da actividade privada ou pública, mas sou visceralmente contra todas e quaisquer medidas ou legislações que propiciem comportamentos em cima do muro, inclusivamente, contra "golden shares", tão do nosso gosto.

segunda-feira, agosto 06, 2007

"Há sapos reais em jardins virtuais"

É de péssimo gosto e inexcedível inconsciência, admitir-se, a bem dizer, publicamente, uma incontrolável atracção por estórias de terror, mas não quero saber, se me fica mal, tanto pior, paciência... não resisto a este género de escrita - se quem os contar for suficientemente expressivo, e enfatizo o termo "escrita" porque recuso todas as outras manifestações pertinentes, em especial, filmes.
Efectivamente, gosto muito de ter medo, apesar de não conviver nada bem com os seus efeitos; para terem uma ideia, por exemplo, nunca consegui virar a página 632 [1], do meu exemplar cartonado da "short story" IT (1981), de Stephen King [2].
Não sei exactamente porque, ontem, me fui lembrar disto mas, se calhar, foi porque, na referida estória, se descreve a rota vertiginosa, errática e inevitável de um barquinho de papel de jornal em direcção à sarjeta e colectores de esgotos municipais (ver o meu post "...ou para barquinhos e aviões de papel"), ou um dos 7 personagens (Bill) ser fisicamente gago, ou descreverem-se meandros subterrâneos e tenebrosos, na cidadezinha aonde se passa o enredo, ou em toda a narrativa (até onde consegui ler) aparece e desaparece, repentinamente, um palhaço ameaçador que atrai a sua audiência com um punhado de balões coloridos ou, como o próprio autor refere, o IT inspirou-se numa frase de "Poetry", de Marianne Moore - 'imaginary gardens with real toads in them', ou nós, pelo menos eu, vivemos sob políticas estratégicas imaginárias, aonde surgem, repentina e inexplicavelmente, do nada sapos verdadeiros e, potencialmente, venenosos,... ou, finalmente, porque a maioria de nós não consegue ver e interpretar a realidade como ela é [3].
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[1] Imagino eu que, na página 633, será revelada a identidade de IT, mas eu não consigo virar a malvada página apesar de, em todas as minhas férias desde há 25 anos, tentar ler até ao fim o referido conto.
[2] "The terror, which would not end for another twenty-eight years--if it ever did end--began, so far as I can tell, with a boat made from a sheet of newspaper floating down a gutter swollen with rain."
[3] "One sees more devils than vast hell can hold" - deixa de Theseus para Hippolyta, em Midsummer night's dreams, Acto V, cena I.
[4] Se não gostasse tanto de estórias de terror, alguma vez eu poderia ter lido, nada menos que 4 versões integrais, do RJIES, e ainda a versão aprovada na Assembleia da República?
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sábado, agosto 04, 2007

Empregabilidade, Raster Graphics e resolução de imagem

Na 4ª feira passada (1 de Agosto, 2007) - de entre outras coisas muito questionáveis, sobre as quais não resistirei comentar - pelo "Blog" de Campus, Jornal de Negócios, ficámos a saber que o Senhor Ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior enfatizou o seguinte: "As famílias devem saber o que vale um curso para a empregabilidade".

Raríssimas são as vezes em que concordo com esse senhor, e esta não vai ser uma delas, sendo que a minha discordância não resulta no valor facial da declaração, totalmente inóqua, mas no facto do motor das mudanças culturais residir muito mais em estratégia - competência que a mim não me demonstrou até hoje - do que em chavões de retórica política, com que permanentemente nos brinda.

1. Como pretenderá o Senhor Ministro que as famílias portuguesas se informem sobre o tema "empregabilidade"?
2. A qual/quais dos 8 (oito) conceitos de empregabilidadade (ver aqui) devidamente sistematizados, até aos dias de hoje, se referiria?
3. Bastar-lhe-á a publicitação/identificação dos cursos com "pouca saída" dos registos de desemprego, provenientes de Centros de Emprego? Será esta informação suficiente ou sequer necessária? Pessoalmente, preferiria ver identificadas as "SAíDAS" dos cursos com muita saída.
4. Achará o Senhor Ministro que afirmações como essa lhe dispensam o trabalho de casa que não mandou fazer? Refiro-me á sistematização dos problemas de empregabilidade como se fez por exemplo, em 2000, nos Estados Unidos (apesar dos pesares, país um pouco melhor equipado de entidades e instituições para além do MIT, Austin Texas ou Carnegie Melon) - (ver aqui)
5. O Senhor Ministro sabe melhor que todos nós que, para além dos "hard skills", tipicamente aprendidos em escolas, haverá que se dotar os futuros formandos de "soft skills", que podem ou não ser treinados nas escolas mas que, sobretudo, poderão tratar-se de vícios de atitudes que obrigam as escolas a promover não aprendizagens, mas sim de dificílimas desaprendizagens de hábitos culturais enraizados.

Se a empregabilidade a que se referiu o Senhor Ministro se resumir a uma questão de equilíbrio do balanço o "empregos"X"canudos" creio que terá, a curto prazo, muitas surpresas, e nem todas serão boas, se não mandar fazer um estudo HONESTO de mercado.

Para resolução efectiva de questões de empregabilidade=emprego nacional, tal como nas imagens gráficas: "The “best” resolution is the one that’s appropriate for your end result".
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For example, an image that stores 24 bits of colour-information per pixel (the standard for displays since around 1995) can represent smoother degrees of shading than one that only stores 16 bits per pixel, but not as smooth as one that stores 48 bits (technically; the human eye could not discern this degree of detail).

quarta-feira, agosto 01, 2007

...ou para barquinhos e aviões de papel

Claro que, tratando-se de uma opinião pessoal, valerá apenas o que vale... Mas, a meu ver, uma das potencialmente mais úteis, e já perdidas, oportunidades do nosso decantado, requentado e encantado Processo de Bolonha teria sido aproveitarmos a sua potencialidade para organizarmos de forma sistemática os currículos das diferentes formações, facilitando a sua descrição e transparência (para nos recordarmos do que me estou a referir, podemos rever esta temática aqui).
"Learning otcomes as sets of competences, expressing what the student will know, understand or be able to do after completion of a process of learning'."

Como em Portugal, se mantém, inteiramente a gosto institucional, a opção de se usarem ou não, os Student Learning Outcomes (SLO) trará, como consequência futura, a nossa manutenção, aliás como sempre estivemos, à margem da educação pan-europeia. Claro que, temas como estes, só seriam úteis para os formandos, suas famílias e empregadores, daí que são pouco atractivos para serem sequer considerados, com veemência, por Senhores Reitores e Presidentes.

É apenas uma ideia, mas entendo que jamais deveria ser concedido o diploma de uma Licenciatura em Engenharia (3 anos) e de Mestrado (mais outros dois anos) do que quer que seja e muito menos ser concedido o estatuto de profissional de engenharia, a quem não souber ler, interpretar e produzir, em pelo menos duas línguas, um manual de instruções, ou de planeamento, de manutenção, ou de segurança de instalações ou de equipamentos, pertinentes à sua área de especialização.

Perguntar-me-ão mas a que propósito e ao que vêm, agora, essas condicionantes?
Elas são essenciais à sobre-vida de indefesos utilizadores dessas mesmas instalações e equipamentos, além do mais, só responderei a esta pergunta a quem, previamente, tenha ultrapassado a traumática e kafkiana experiência de se ver obrigado à montagem de uma pequena instalação mista hidráulica, hidro-pneumática e eléctrica, à luz dos textos e imagens de manuais de instruções em duas versões - uma, em mandarim e a outra, uma tradução de chinês para inglês dos "States", feita por espanhóis, sem que estes, certamente, tenham tido aprovação aonde quer que seja, em inglês técnico básico,... bom... salvo seja.

Alguns dos actuais manuais de instruções são, efectivamente, apenas brilhantes obras primas de ficção e/ou comédia em BD (vejam, um exemplo, já clássico de manuais de instruções ridículos, este da NINTENDO) mas sempre, sempre se podem converter em barcos e/ou aviões de papel.

No próximo post continuarei, ainda, no tema de SLO. Pensando bem, é inesgotável.

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