domingo, novembro 25, 2007

Conversa de baias: Andaduras, embocaduras, comportamento animal e...

Não há nada melhor para diversificarmos o nosso conhecimento, do que não fazermos absolutamente nada. Digo-vos isto porque, hoje, por exemplo, decidi-me a tirar uma folga bastante folgada, para me sentar num toco de árvore, com o único objectivo de proceder a uma contagem precisa da queda outonal das folhas de um choupalzito de médio porte, perto do lugar onde vivo.
Estava eu absorvida e distraída nessa inventariação, quando se aproximaram 3 animadas pessoas - equipadas de pingalins, e envergando o que me pareceram trajes de cavaleiro a rigor - avançando em passo muito lento, trazendo a reboque cavalicoques puxados por arreatas, e que resolveram parar perto de mim, enquanto embebidos numa animadíssima cavaqueira - não fosse o vernáculo pontual, pelo vocabulário usavam, nem me parecia que falassem Português, tantos eram os termos técnicos incluídos na conversa, por isso, o meu entendimento, sobre o que possam ter dito, foi deduzido do sentido geral do pouco que me apercebi -o tema em discussão era: as vantagens e inconvenientes do uso de freios para controlo e disciplina dos quadrúpedes; uma das pessoas defendia que se obtinham muito melhores resultados com assobios e estalidos de dedos...

Cresci a ouvir dizer que quem controla o freio controla o cavalo todo mas, afinal, parece que as coisas não funcionam bem assim, antes pelo contrário, o medo, a dor e a expectativa de sérias dificuldades respiratórias, provocados por um freio, podem suscitar comportamentos muito negativos nos cavalos, impedindo que se estabeleça a harmonia e cumplicidade desejáveis, entre cavaleiro e montada.

Foi assim, que me percebi dos significados de expressões, tais como, "tomar freio nos dentes", "raspar os dentes", e "estrela, beta, sete assobios e pé calçado"!
Fiquei a pensar se os comportamentos negativos dos muares, em resposta a agressões externas, não serão generalizáveis a comportamentos básicos humanos. Como, para cavalos já há pelo menos um invento com registo de patente, que dispensa os transtornos dos freios, resta-nos desenvolver uma "device" semelhante para os humanos, que sejam sujeitos a agressões.


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http://www.patentstorm.us/patents/6591589-fulltext.html
http://www.bitlessbridle.com/dbID/286.html

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segunda-feira, novembro 19, 2007

Engenheirando o futuro da engenharia

Na página da European Network for Accreditation of Engineering Education, encontrei um artigo muito interessante de Sebastião Feyo de Azevedo - intitulado "Technical Education - from London 2007 to Leuven/Louvain-La-Neuve 2009… and beyond" - no qual expõe, de uma forma excepcionalmente brilhante, uma sua visão do futuro das formações nesse domínio do conhecimento, e de que extraio os pontos que se seguem, sublinhando, propositadamente, um deles:
Our individual and local universe is larger and larger.
· Time and space concepts and dimensions have changed dramatically.
· The reference of whatever (quality, competition, etc.) is now Europe and the
World, not our City or our Country.
· Standards must be high, inflexibly high, attitude holistic, mind flexible.
· The need is clear for a reference qualifications framework and for international recognition of quality assurance standards and procedures,
· A core group of disciplines, concerning basics and engineering, and of skills and competencies, should be recognized by consensus and implemented.
· A complementary group of elective advanced curricular modules should lead the student to work on frontier topics of engineering.
· External training, more practical ‘hands-on’ training is required for first-degree level. If possible in another Country.
· There must be an understanding that it is essential that Academia and Industry, in the European Space, co-operate offering each other aided-value, by accepting students for training (the Industry), by jointly designing pilot case studies, by providing theoretical background through courses (the Academia).
· Lifelong learning is the key concept to have the edge.
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Alguma coisa está mesmo em grandes mudanças no pensamento nacional e, pelos vistos, não é só a engenharia...Ufa!! Que descanso! AINDA BEM!

Tecnologias, inovações e mercados reais

Dá-me sempre muito o que pensar, quando leio artigos, como o que hoje foi publicado no Diário Económico online, subscrito por Luís Ribeiro, intitulado "Portugal perdeu 167 mil empregos qualificados".
A minha apreensão sobre o desemprego, em Portugal, cresce quando se recolhem opiniões de pessoas, referidas como especialistas, que nos a esclarecem com frases já lidas em cartilhas muito antigas.
Exemplos:
- "António Nogueira Leite, professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa, considera que 'o mercado de trabalho não está à procura de qualificações muito elevadas e deixou de recrutar um conjunto de profissões mais ligadas ao ensino'".
- "Eduardo Catroga, empresário e economista, confere que há um 'desajustamento crónico' entre a formação das pessoas e aquilo que as empresas procuram."
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"Francisco Van Zeller, presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), vai mais longe e assegura que só há criação significativa de emprego 'nas áreas onde o valor acrescentado é mais baixo', sublinhando que 'não há investimentos com escala' nas áreas mais inovadoras e de alta tecnologia pois faltam pessoas com qualificações à altura".
- "Paula Carvalho, economista do Banco BPI, observa que 'ainda estamos a viver os efeitos das más opções do passado'. 'É preciso que os jovens estejam a escolher agora os cursos certos no contexto da actual política económica para que no futuro este problema se esbata'."

Já que são especialistas e, supostamente, até podem consultar não só os livros do ramo mas, sobretudo, oráculos mais correctos, não poderiam tentar ser um pouco menos repetitivos de "verdades verdadeiras" e, também, serem muito mais explícitos e concretos?
A despeito da catástrofe do desemprego dos melhor qualificados, alegra saber sobre os outros que conseguem colocação: "
Neste contingente estão os trabalhadores dos serviços às empresas (empregadas de limpeza e seguranças, por exemplo), vendedores, pessoal administrativo, agricultores, operários, manobradores de máquinas e trabalhadores não qualificados. "

Sobre os nossos problemas de qualificação, parece que alguns estrangeiros os conhecem melhor, desde antigamente, por exemplo, no ano passado, preto no branco, na sua publicação
"Fostering human capital development in Portugal", Stéphanie Guichard and Bénédicte Larre põem um pouco o dedo na ferida, logo no primeiro parágrafo: "Narrowing the human capital gap vis-à-vis other OECD countries is essential for Portugal to improve its productivity and resume catching up" para, na página 11, referirem, a "bold": "Access to tertiary education remains also too limited and selective", e ainda acrescentarem: "but in Portugal, the selectivity of access is more severe than in many other countries and the participation of students from low socio-economic backgrounds remains particularly low, - e, se ainda não estivermos convencidos, juntam: "In Portugal, the proportion of higher education students' fathers who have achieved higher education themselves is 29% compared with 5% for the proportion of men of corresponding age in the general population (a factor of almost 6 to 1). In Germany and France, the factor is around 2 to 1. In Portugal, very few students (19%) already have work experience or have completed vocational training before starting tertiary education, compared with almost two-thirds in Germany (Eurostudent Report, 2005). "
Está mais ou menos tudo dito, ou não?
Parece que somos um povo que, globalmente, temos pouca formação e seria, por alavancarmos o padrão médio da formação da maioria de nós, que poderíamos, eventualmente, aspirar e aventurarmos-nos, mais tarde, com as tecnologias de ponta e as excelências....mas, nós não, preferimos iniciar logo por produções gigantescas de melancias cúbicas, porque fazem outra vista em mercados,
virtuais ou não, de frutas e legumes, e parecem proporcionar melhor arrumação...

quinta-feira, novembro 15, 2007

Stoned

Lembram-se os meus cada vez mais caros e cada vez mais raros leitores que, no dia das bruxas, lhes fiz um convite, para provarem um bolinho dos "embruxos", cá da minha lavra, para comemorarmos, hoje, 15 de Novembro de 2007, a festa de aniversário da entrada, para apreciação na Direcção Geral de Ensino Superior, de 120 propostas de criação de mestrados do subsistema politécnico, sem termos mais notícias?
Que maçada,... o bolinho que eu fiz com tanto carinho, para o efeito, petrificou.
Desculpam-me não é verdade?
Não perdem nada, costumo envenenar o pessoal, logo à primeira garfada de prova dos meus acepipes.
E às propostas de mestrado do subsistema politécnico, o que é que aconteceu? perguntam-me todos os interessados.
E acham que eu sei?
Não, não sei, mas juraria que também petrificaram.

Não perdem nada também, porque vão ver..., para o ano, comemoramos com festa rija, o 2º aniversário do sumiço dessas mesmas propostas!
Depois, comemoramos, sempre, em cada um dos outros 48 anos seguintes, até o destino final dessas propostas deixar de ser um "assunto classificado".
Encontramos-nos, então, sempre aqui, à mesma hora, todos os anos? Pode ser?
Combinadíssimo!

sábado, novembro 10, 2007

No prato de ovos e bacon, somos a galinha ou o porco?

FONTE DA IMAGEM
Romilly Jardine's photos


Ontem, estava eu salivando, diante de uma irresistível bomba calórica, daquelas lotadinhas do "péssimo" colesterol - um prato de ovos e bacon, deliciosamente, fritos na manteiga - e uma pessoa minha conhecida perguntou-me: "Olha lá, tu aqui - nas circunstâncias desta maravilha de comida - serias o quê? O porco ou a galinha?"
Para falar a verdade, duvidei da interpretação que deveria dar à pergunta e, de chofre, menos ainda me apetecia ser qualquer um deles, mas estoicamente respondi, escondendo, simultaneamente, a gula e o choque resultante da potencial e hipotética ofensa pessoal, com um mal disfarçado sorriso amarelo - bom... talvez eu pudesse ser a galinha, não?...
Como sempre, cada vez que tenho 50% de hipóteses de acertar, é 100% certo que selecciono a asneira, como os meus caros e raros leitores, hoje e aqui, testemunharão.
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Vem a descrição desta passagem constrangedora, a propósito do facto de, hoje, percorrer, ao de leve, a blogosfera, e encontrar em diversos blogs e também em jornais online, a referência a diversos textos, sobre o (des)emprego de licenciados, de que cito só alguns exemplos:

1 - Três publicitações muito vagas sobre o emprego de licenciados, na Edição Impressa do Diário Económico online - em dois dos quais o acesso ao documento completo é condicionado, e que aproveitei para só ler as "headlines" gratuitas:
"Conheça os cursos com emprego garantido;
Ministro garante que próximo relatório já vai separar as escolas;
O retrato do desempregado licenciado num estudo inédito".
2 - Dois textos deveras interessantes, subscritos por Virgílio A. P. Machado, que encontrei no Blog de Campus, um dos quais (o primeiro) muito simples, mas bem fundamentado, facilitando a compreensão dos assuntos: "Com a verdade me enganas" e "Arranja-me um emprego".
Deste último texto ficou-me zunindo no miolo, a seguinte frase: "A ligação acima (V.A.P. Machado referia-se a um documento do SIMPLEX'07, permitindo como é seu hábito salutar, aos leitores a confirmação das suas afirmações, através da consulta de documentos originais), destina-se a qualquer pessoa mais incrédula que queira confirmar, com os seus próprios olhos, que o texto citado é mesmo assim, sic, ipsis verbis, sem tirar nem pôr". Porque será que nem todos - e são, entre nós aos milhares, com níveis diferenciados de responsabilização - os que discorrem, publicamente, sobre assuntos de interesse colectivo não seguem esta boa (boníssima e elementar) prática? Dizem-nos qualquer coisa dogmática do alto do seu elevado e selectivo conhecimento, e esperam que façamos dos seus saberes e dizeres, os nossos verdadeiros actos de fé.
Contei-lhes isto porque - face ao que nos descreveu V.A.P. Machado - considerei ser super enigmático (no caso presente, não deveria eu escrever "inimigático"?) o subtítulo do texto Ministro garante que próximo relatório já vai separar as escolas: "Estudo de 2008 já vai mostrar a evolução da oferta de emprego e terá o nível de desemprego por curso actualizado automaticamente, garante Mariano Gago".
Querem os meus caros e raros leitores apostar comigo em como, seguramente, iremos ler, lá para 2008, excertos devidamente orientados, de mais um relatório, daqueles "estrategicamente" encomendado, efectuado com base em:
1 - excelentes compilações e sínteses estatísticas, sempre disponibilizadas online, e executadas pelos colaboradores do GPEARI, na página: "A procura de emprego dos diplomados desempregados com habilitação superior", que encontram, com mais pormenor aqui e aqui; e
2 - com as informações, produzidas pelas escolas, sabe Deus como, se souber..., e que serão arquivadas para consultas, numa plataforma do SIMPLEX'07.
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Depois disto, explico o contexto da minha descrição do prato de ovos e bacon: é que o meu companheiro do almoço detectou a minha atrapalhação, e explicou-me: "Num prato de ovos e bacon, a galinha é só envolvida no processo, enquanto que o porco se empenha pessoalmente...não achas?".
Que pena que, em quase todas as questões mais sérias, relacionadas com a educação superior, ciência e tecnologia portuguesas, a maioria dos interessados não tem sequer opção, só pode ser mesmo a galinha, nem que gostasse muito de se empenhar na estratégia e nas soluções, exclusivamente, após compreender a extensão da problemática,.... mas terá que contentar-se com os dogmas.

segunda-feira, novembro 05, 2007

Mais uma laçada

No Diário da República, 1.ª série - N.º 212 - 5 de Novembro de 2007 (hoje), foi publicado o Decreto-Lei n.º 369/2007 - o Diploma da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superio - e amanhã entra em vigor (ver aqui).
Ainda bem que se assume, legalmente e por escrito, que: "O traço essencial deste organismo é a sua independência, quer face ao poder político, quer face às entidades avaliadas, independência essa desde logo evidenciada no próprio enquadramento institucional escolhido." Eu disse ainda bem, porque logo no anexo "ESTATUTOS DA AGÊNCIA DE AVALIAÇÃO E ACREDITAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR", SECÇÃO II. Conselho de curadores. Artigo 8.º - "Composição e funcionamento um dos Órgãos principais da Fundação Privada de Direito Público" - O Conselho de Curadores é assim constituído:
1 - O conselho de curadores é composto por cinco membros, designados por resolução do Conselho de Ministros, sob proposta do ministro responsável pela área do ensino superior, de entre personalidades de reconhecido mérito e experiência.
2 - Dois dos membros do conselho de curadores são escolhidos de entre cinco personalidades indicadas em lista apresentada, conjuntamente, pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, pelo Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos e pela Associação Portuguesa do Ensino Superior Privado, ao ministro responsável pela área do ensino superior.
3 - Pela resolução do Conselho de Ministros a que se refere o n.º 1 e sob proposta do ministro responsável pela área do ensino superior, é nomeado, de entre os membros que não os referidos no número anterior, o presidente do conselho de curadores.
Compete a este Conselho de Curadores, entre muitas outras coisas mais prosaicas, "Designar os membros do conselho de administração e do conselho de revisão"- é basicamente o Conselho de administração que dá as cartas ao que lá se tem que passar e decidir;
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Penso que economizaríamos muito tempo, muito carbono, muitas árvores, muito papel e, sobretudo, muita paciência e recursos financeiros, se tudo o que se refere ao actual Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior fosse, muito simplesmente, determinado por tudo e na oportunidade em que o actual Senhor Ministro da tutela muito bem entende.