sexta-feira, janeiro 12, 2007

Conversas controversas difíceis de amarrar

Não pretendo alimentar controvérsias desnecessárias, mas decidi dar idêntica visibilidade, e também responder aos comentários de Manuel Caldeira Cabral (publicados ontem nas versões originais na respectiva caixa de comentários) sobre o meu "post" de 9 de Janeiro de 2006, com o título: "Informação e conhecimento diluídos em doses homeopáticas".
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[MCC]
Escrevo apenas para acrescentar três comentários a criticas directas que levantou no seu texto:
1. As regressões escolhidas
2. investigadores dos politécnicos nos centros das universidades
3. O custo de aumentar vagas nos politécnicos ou nas universidades

1. A primeira questão é uma questão estatística relevante. Se ler os trabalhos que tenho publicados verá que tenho credenciais de torturar dados, utilizando métodos econométricos complicados.
Quando se está a tentar validar uma relação científica é importante que tal se faça.
O estudo que apresento não tem esse intuito. Eu não pretendo provar uma teoria que defenda que existe uma relação negativa entre as decisões do agente político e ás médias de entrada, ou as taxas de ocupação.
Eu limito-me a constatar que esta relação existe quando seria desejável que se verificasse o contrário. O que para avaliar a decisão politica é razoável.
Muitas das relações apresentadas ajustavam-se melhor a curvas logarítmicas ou polinomiais, mas isso não mudava a sua inclinação.
Eu não sei se a Regina compreendeu bem a expressão torturar os dados ate que eles confessem. Mas esta aplica-se a quando se faz o contrário do que eu fiz. Isto é, aplica-se quando se apresentam apenas resultados de regressões muito elaboradas, omitindo os dados em bruto. Eu apresento os dados em bruto... e apresento regressões simples...
E pergunto se olhando para a dispersão de dados pensa sinceramente que trabalhando-os de forma mais rigorosa, vai encontrar alguma inversão do declive da curva (passando de negativa a positiva). Eu confesso que as especificações alternativas que experimentei não alteravam o declive a que se chegava. Mais tentei até trabalhar dados que incluíam os estabelecimentos de saúde, ou os excluíam, que consideravam apenas anos mais recentes (para as publicações cientificas) de forma a que não favorecessem as instituições mais antigas, confrontei resultados de dados em taxas de crescimento com resultados em valor absoluto... Ou seja levantei uma série de dúvidas... e sem torturar os dados procurei, dentro dos limites de dados a que tive acesso, encontrar especificações que contrariassem os resultados que estava a obter.
Convido-a a afirmar que usando dados diferentes chega a conclusões diferentes. Eu admito que seja possível. Procurei ver se assim era. Não encontrei. Mas estou aberto a que me demonstre isso. Seria um contributo muito interessante.
PONTO 1 - [REGINA]
Antes de tudo, confesso-lhe que gostaria muitíssimo de ter a disponibilidade de tempo, as competências e o estatuto necessários para me tornar "referee" de textos como aquele que publicou.
Não tenho, nem coloquei qualquer dúvida sobre o seu conhecimento intrínseco sobre a matéria, do artigo que decidiu publicar.
Mas, se bem me lembro, evidenciei das restantes observações que fiz "uma pequena crítica de ordem técnica".
A "pequena crítica de ordem técnica" mantenho-a por saber que não é hábito, e não há nenhuma vantagem no uso de regressões simplificadas quando dispomos dos registos (como o Manuel Caldeira Cabral aqui mesmo nos diz) e, simultaneamente, não explicitamos se as observações têm uma distribuição normal ou não, que permitam utilizar algumas ferramentas de tratamento de dados, e também não explicamos as observações/registos fora do contexto geral ("outliers" não é?) - na verdade, o nadíssima de nada do que vou desconfiando sobre estes assuntos, é que os "outliers" devem ser tratados, separadamente, ou podem induzir inferências pouco robustas; como leiga, a mim parece-me que os seus gráficos são pródigos em "outliers". São outliers não são? E escapou-me a explicação que lhes deu.
E já agora também lhe digo, que também não sou adepta, de utilizações de resultados de análise comparativa de grupos de registos, neste caso de subsistemas de ensino, pela utilização "clusters" pouco definidos, isto é, por exemplo um grupo constituído por Universidade A, Universidade B, etc., Politécnico X1 e Politécnico X2, etc. e as outras escolas todas de um e outro subsistema atiradas para um mesmo saco conjunto. Esta opção, a mim, parece-me dificultar a formulação de conclusões para um subsistema.
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[MCC]
2. Uma segunda questão prende-se com os investigadores dos politécnicos.
Eu não afirmo em parte alguma do trabalho que os politécnicos não fazem trabalho de investigação reconhecido internacionalmente.
PONTO 2 - [REGINA] - 1
Eu é que não disse que o Manuel fez essa afirmação.
O que eu disse, e mantenho:
- É a total discordância (que até é mais do que uma discordância) de análises comparativas entre subsistemas de educação terciária feitas com base na intercepção do aumento do número de vagas em cursos pouco procurados, em instituições de ensino superior (subentendendo-se estas como dominantemente politécnicos) com a investigação, e que esta se circunscreva a publicações científicas.
-Que há docentes-investigadores de politécnicos a contribuírem, com trabalhos reconhecidos internacionalmente, para unidades referidas abusivamente como de universidades. Esta designação "abusivamente" não se referia ao facto do Manuel ser o responsável dessa atribuição, mas tem sido um aproveitamento de marketing institucional indevido, e que está sendo generica e progresivamente aceite, o que só prova a eficácia da referida estratégia sobre "os consumidores target".
- E disse também, e repito, que as condições de trabalho e de recursos de uns e de outros docentes de cada subsistema em matéria de investigação são muito distintos, tornando indevida uma comparação de produtividade dos dois subsistemas, sem explicações adicionais.
- Juntaria a esta minha última afirmação (não é uma dúvida) é que seria muito importante em matéria de opções de investimentos públicos na investigação de se fazerem também as contas às mais-valias resultantes de todos os investimentos feitos por subsistema. Finalmente, a pergunta para a qual eu gostaria de ter resposta é, tão-somente, qual o valor acrescentado dos investimentos TOTAIS para investigação e para a TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA num e no outro subsistema. Esclareço-lhe já, que esta precisa pergunta não é dirigida a MCC.
[MCC]
Pelo contrário os dados de que disponho mostram que existem investigadores pertencentes a politécnicos com publicações em revistas internacionais.
Se calhar são é poucos. O meu estudo nesse campo, por falta de dados, centra-se na àrea de economia e gestão.
Nesta área em concreto os dados permitem saber as publicações de cada investigador e na apresentação dos mesmos pode-se ver as publicações agrupadas por centro de investigação a que o investigador pertence ou por instituição a que está ligado.
Eu utilizei esta ultima especificação pelo que o problema de as publicações dos docentes dos politécnicos que estão nos centros de investigação das universidades serem abusivamente atribuídas às universidades não se coloca. Se pertencem a um politécnico, as publicações vão ser atribuídas ao mesmo.
Quando sugiro que eventualmente as conclusões verificadas na área de economia e gestão podem ser mais gerais, penso que sou claro que estou a especular e não a comprovar. No entanto, os dados do OCES apontam para que as áreas que mais cresceram em vagas e docentes até 2000, são em geral as em que a investigação publicada menos cresceu. É evidência indirecta. Não prova nada. Daí que a trate apenas como um indicio. Um indicio interessante.
Se tiver dados mais completos, por favor disponibilize-os. Eu admito que existam àreas em que o crescimento da investigação recebeu também um contributo importante dos politécnicos.
Pergunto, se está muito segura de que esta realidade terá sido a regra e a àrea de economia e gestão uma excepção.

PONTO 2 - [REGINA] - 2
O que disse foi que não aceito - e continuo a achar inaceitável por motivos óbvios, a que não é alheio o facto de em trabalhos académicos, científicos ou, simplesmente, técnicos - admitirem-se especulações deste teor: "Tudo aponta que o mesmo esteja a acontecer noutras áreas"; porque são afirmações, como esta - e que se tornaram ultimamente num desporto nacional, embora eu acredite que como o Manuel disse não tivesse intenção de o fazer - que fragilizam um subsistema inteiro, isto é, a mensagem que se passa, para os cidadãos comuns de um país inteiro, é desfavorável a todo subsistema, quer neste se incluam formações/instituições que o mereçam ou não.
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[MCC ]
3. Deixo ainda uma dúvida sobre as suas estimativas de custo de aumentar vagas nas universidades e politécnicos.
O custo por aluno nos politécnicos é mais baixo do que nas universidades. Mas não estou muito seguro que o custo marginal de aumentar vagas nos politécnicos foi menor do que o de aumentar nas universidades (pelo menos no período de 1994 a 2002). Os dados que apresento no meu estudo sugerem que os aumentos de vagas nos politécnicos obrigaram a um maior numero de contratações (e admito também a maiores investimentos) por cada 100 novas vagas do que os correspondentes aumentos de vagas realizados nas universidades.
É só uma dúvida.
PONTO 3 - [REGINA] - 1
As minhas estimativas de custos foram feitas com base nos Orçamentos de Estado publicados, atribuídos por aluno (projecções anuais do OCES) a cada instituição (Universidades Públicas e Politécnicos Públicos) nos anos civis de 2005, 2006 e estimados para 2007, para as formações de engenharia-tecnologia. Não incluí, neste diferencial de custos, os custos unitários por aluno para os Serviços de Acção Social de um e de outro subsistema, porque como o Manuel sabe, também os Serviços de Acção Social dos alunos universitários têm dotações unitárias de bolsas superiores (em média de 200 €/aluno), tornando ainda mais caro ao erário público os custos de deslocamento dos alunos residentes numa região para outra, para frequentarem a Universidade.



[MCC]
De qualquer modo agradeço a atenção que deu ao meu estudo.
PONTO 3 - [REGINA] - 2
Por favor, não me agradeça porque não o fiz por si.

[MCC]
Só me resta pedir desculpa por essa leitura não ter sido mais do seu agrado.
PONTO 3 - [REGINA] - 3
Não tenho nada a desculpar porque penso que qualquer estudo de qualquer pessoa não deve ser escrito para agrado ou desagrado de ninguém; e, no caso deste seu artigo, pode ter a certeza que até agradou a muitos.
O que também penso é que todos os estudos devam ser rigorosos, sobretudo, se suscitarem dúvidas generalizadas sobre desempenhos institucionais e, em alguns casos, totalmente imerecidas, mas do meu ponto de vista, nas actuais circunstâncias da Educação Terciária Portuguesa são sempre muito prejudiciais.
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PS - tinha utilizado a designação "ouliners" mas disseram-me que a designação correcta é outliers e, por isso, já corrigi.

2 Comentários:

Blogger Gonçalo Leite Velho disse...

Dia 30 lá estarei em Coimbra para o encontro.
O debate vai ser certamente interessante.

sexta jan. 12, 01:03:00 da tarde 2007  
Blogger Regina Nabais disse...

Olá Gonçalo. Ainda bem que se decidiu favoravelmente, é mais um importante contributo para que o encontro de Bloggers seja interesante, como refere.
O MJMATOS do blog "Que universidade?" ofereceu-se par ir buscar as pessoas que vêm de combóio para Coimbra.
Já estamos à sua espera.

sexta jan. 12, 09:49:00 da tarde 2007  

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