sábado, março 29, 2008

"Governances" pessoais

Depois de alguns anos, hoje, revi uma pessoa minha conhecida, contadora de casos e, como não podia deixar de ser, fui uma ouvinte bastante divertida das histórias que só acontecem a alguém como ele.
Em relação, a um dos contos, acabei por me sentir, como dizer? Intrigada? Ambivalente? Bom,... Não sei,... Resolvam os meus caros e raros leitores, como se sentiriam, depois de saberem isto:

Trata-se de uma pequena narrativa, que vou tentar recontar-lhes ao preço de custo:
Um pastor de ovelhas e cabras montanhesas, passava a vida com o seu modesto rebanho de um lado para o outro, subindo e descendo morros e valados.
Nos seus caminhos, via com frequência quase diária, fizesse chuva sol ou neve e durante um bom par de anos, um rapaz equipado de botas de montanhismo, um variado sortimento de aparelhómetros electrónicos, e ferramentas diversas que incluíam duas bengalas de escalada e uma pequena enxada e, permanentemente, hiper-carregado com uma mochila atafulhada de pertences, da qual transbordavam, em equilíbrio perigosamente instável, uma máquina fotográfica e um portátil sem fios.
De espaço a espaço, sob as copas das árvores, o rapaz construía cuidadosamente uns montinhos de terra e de folhas caídas, que marcava com umas espias, fotografava e anotava muitas informações, num mapa que iluminava o monitor do seu computador.
Periódica e sistematicamente, desfazia os montinhos, separava e recolhia amostras, que embalava cuidadosamente e, derreado, transportava tudo de volta ("via-se mesmo" que era a duras penas) até desaparecer no horizonte, ou por trás do morro mais próximo. Tempos a tempos, repetia as suas intermináveis tarefas que, aos olhos do pastor, lhe pareciam já ritos, ou penitências de uma crença estranha, muito mal resolvida. Terminava os dias a parecer que queria que outros começassem logo, para fazer tudo de novo.

Mês atrás de mês, assim se repetiam as lides do observador (o pastor) e do observado (o rapaz).
Um dia, o pastor não resistiu, e aproximou-se do rapaz, e - entre a oferta de um naco de queijo, de um gole de vinho e de um cigarrito de enrolar - à queima roupa, tiveram o seguinte diálogo:

[Pastor]: Que mal lhe pergunto companheiro, o que faz o senhor, sempre tão aperreado, aqui, nestas paragens a que não pertence, para se castigar assim tanto.

[Rapaz]: Estou a cumprir as tarefas de um projecto de investigação, pagam-me para isso, lá na capital, e serei obrigado, a dar resposta ao tempo de degradação das folhas destas árvores, nesta região, por causa de garantirmos um desenvolvimento sustentável da mata.

[Pastor]: Quer, então dizer, que o meu amigo consegue governar a sua vida assim?
Todos aqui da zona sabem e circulou o braço, circunscrevendo o rebanho, que essas folhas aí desaparecem, no máximo, em 3 anos! ....2 anos e picos, se os invernos, forem brandos...'tá aí um dinheiro, tempo, saúde e feitio bem empregues...

quarta-feira, março 26, 2008

A minha chegada à "nossa" Bolonha via Rua Sésamo




Ah, meus caros e raros leitores, é mesmo uma vergonha para a família, mas eu confesso que não percebi! As explicações, para mim, têm que ser dadas muito mais devagarzinho.
No dia 21 de Março, li esta headline numa notícia "bombástica" no Correio da Manhã: "Licenciados automáticos - Cerca de 1400 bacharéis de cursos de Engenharia obtiveram administrativamente o grau de licenciado, no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra..."


Os escrevinhados, continuavam, continuavam, continuavam, como podem ler com os vossos próprios olhos.


Além disso, começou a correr na blogosfera, não só a notícia "bombástica", como ainda a divulgação de um mau estar nos meios académicos (???)....


Por acaso, até tenho alguma proximidadezita com os meios académicos, e não detectei nenhum mau estar em ninguém, mas também pode ser da minha baixa tolerância a mexericos e segredinhos idiotas.


Até porque, felizmente, o Senhor Presidente do CCISP também atalhou oportunamente, e explicou muitíssimo bem o procedimento de acreditação seguido pela Escola visada, aliás, descrito de forma clara, pelo Senhor Presidente do Conselho Directivo da mesma. Ambos me merecem felicitações!


Não percebo o que é que a referida Escola poderia ter feito, com uma legislação, que não exigia nada nem, por exemplo, que as formações de Bolonha, obrigatoriamente, expressassem detalhadamente, os resultados de aprendizagem, para efeitos de comparação de currículos - é bom lembrar que Resultados de Aprendizagem não são competências - coisa que muita boa gente, com alguma responsabilidade, insiste em afirmar que são uma e a mesma coisa. MAS, NÃO SÃO!


Assim, não há dúvida que, o que a Escola acreditou (o termo correcto é acreditou) não foi uma formação ao mesmo nível de uma Licenciatura das antigas de 5 anos, e sim, e apenas, uma formação inicial de 3 anos que, por acaso, até se resolveu, num lugar qualquer, bacocamente, designar de Licenciatura (Bolonha).


Por isso, é que também não percebi porque é que o Senhor Bastonário da Órdem dos Engenheiros insinuou de facilitismos no politécnico, sobretudo, não tendo ele explicado DEVIDAMENTE o que é que considera não facilitismo - serão os tais mestrados integrados, nos quais - na hora do vamos ver - se pode aceder de qualquer outro lado, e a meia náu? Isto, claro, para além de não me ter constado, que nenhuma escola - Universidade ou Politécnico - tenha pedido qualquer creditação de Licenciaturas de 3 anos, à Órdem dos Engenheiros.


Mas, enfim, acreditem-me o impossível acontece, com elevadíssima frequência, entre nós!


Ora como o Rossio não cabe(ia) na Betesga das duas uma: ou a Escola visada, anteriormente, à adequação a Bolonha, não ensinaria nada bem e só, por isso, é que agora com uma formação de 3 anos de Bolonha deveria obrigar as pessoas a aprender os conteúdos necessários ao exercício da Profissão de Engenheiro (Técnico) de 3 anos e 180 créditos, a que corresponde a Licenciatura de Bolonha, (Lembrar que o engenheiro pleno da órdem são - 300 ECTS) ou então, SÓ ENSINANDO BEM, é que poderia fazer o que, exactamente, fez o ISEC - acreditar uma formação anterior de 3 anos e 180 creditos que se chamava Bacharelato, a uma outra formação, a actual, também de 3 anos que, por acaso, alguém decidiu designar por Licenciatura, quando Licenciatura-Licenciatura (5 anos) era uma outra formação superior (e, essa sim, tem tendência a extinguir-se, a curto prazo, e o seu nome devia ter sido suspenso do léxico das novas formações, mas isto...).


Mas, como eu não devo estar a ver nada bem o problema, expliquem-me lá o que é que, exactamente, a instituição fez errado:


- É que Mudou o paradigma? Não me digam....Porque dizem isso?
Acham que com aulas tutoriais se aprende mais, também concordo!
Mas então, aonde andam os docentes suficientes para essas tais aulas pessoa a pessoa (poucas pessoas), se os docentes têm agora cargas lectivas superiores a 12 horas por semana em aulas de contacto presencial para turmas de 40 e mais alunos?



- Há instituições que mandam ou recomendam fazer "umas disciplinas"(?)...


Ah! Não me digam.... Porquê?


Quer dizer que, agora existem algumas instituições que decidiram ensinar conteúdos de mais "umas disciplinas" que não leccionavam anteriormente (pelos vistos, MUITO IMPORTANTES serão essas actuais unidades curriculares adicionais,... digo eu,... para obrigar ex-alunos com formações iniciais anteriores de nível superior, com 3 e ou 4 anos de duração, já com experiência profissional, e formação adicional, a aprender esses tais temas tão candentes)? Então e, anteriormente, essas matérias tão importantes - para os ciclos de 3 e ou de 4 anos - os tais bacharelatos - eram então dispensáveis? Porquê?
Dizem também, que houve uma corrida de Licenciados de formações iniciais antigas às Órdens! Que interessante! Mas, ao que se sabe, se for a Órdem for dos Engenheiros, esta determinou que são necessários 300 créditos ECTS, e não os 180 ECTS, que foram acreditados, por isso, esses tais licenciados não teriam - vista, desse angulo - qualquer concorrência destes outros Licenciados de Bolonha.



- Tem gente, que diz que a Escola não devia cobrar propinas.

Ah, nisso estou INTEIRAMENTE de acordo!Pois não, a Escola não devia! Mas o que DEVIA era o MCTES não ter determinado que a acreditação, implicava OBRIGATORIAMENTE "prosseguimento de estudos", ou seja, uma matrícula do aluno no Curso Acreditado - aliás, a este respeito, digo-vos, julgava que já tinha visto tudo na vida, mas eu nunca, na vida, tinha visto uma ideia tão peregrina.

Aliás, toda esta história foi muito mal contada pela comunicação social, mas o que é que se pode esperar? Em todas as profissões há incompetentes oportunistas - e, como dizia Truman Capote, há quem escreva e há quem seja dactilógrafo. O que me faz surgir, então, é ainda uma outra duvida: a quem pode ter interessado o arraial montado em torno de uma instituição, que até cumpriu a lei e, quer queiramos ou não, é muito respeitada, ao seu nível, quer internamente quer a nível internacional?

- Dizem também que o Senhor Ministro Mariano Gago determinou a abertura de um inquérito, ao Instituto de Engenharia, "para apuramento da legalidade e eventuais responsabilidades dos factos realizados". Esta decisão, a ser verdade, então, é curiosíssima.
Mas afinal, quem é que se responsabiliza, em Portugal, pela Legislação de Ensino Superior que se vais aprovando? Se soubermos quem se responsabiliza, achámos o(s) responsáveis!





Meus caros e raros leitores, esclarecer os ignorantes é uma obra de caridade.Caso não tenham as mesmas dúvidas que eu, façam-me então a caridade de me explicar a mim - mas, lembrem-se, que terá que ser mesmo muito passo a passo - o que é que o tal instituto deveria ter feito e não fez, bem como o que fez, mas que não devia ter feito?


Eu há muito tempo que estou parada neste único ponto: 3 costumava ser diferente de 5.


Isto também mudou?
ADITAMENTO (1 de Abril de 2008, e não é uma mentira):
As figuras estavam cotadas com 30 ECTS, cada balão.
Na verdade, como cada balão representa um ano de formação e de resultados de aprendizagem, adquiridos, como sabem, tem a cotação de 60 ECTS.
Agora as figuras estão corrigidas.
Já agora, um ano são 60 ECTS; 1 Semestre são 30 ECTS e 1 Trimestre são 20 ECTS (e não 15).
As minhas desculpas aos meus caros e raros leitores, e o meu agradecimento a uma pessoa amiga que me avisou do erro cometido.

terça-feira, março 25, 2008

Olha... Olha...Afinal sempre houve amêndoas!

Meus caros e raros leitores,

1 - Acabei de receber um mail, que me dizia só assim: "Antes que desapareça da página..."
2 - Já, anteontem, tinha também visto outra coisa "Portugal entre os países que melhor paga aos seus Bolseiros - estudo 18 Março 2008: estudo comparativo realizado pela empresa Deloitte" noutra página.

Ah! Dizem-me que não são amêndoas,... vendo bem, podem não ser, mas.... não acham que têm parecenças?

quarta-feira, março 19, 2008

Fruta da época

Gostaria muito que os meus caros e raros leitores aproveitassem bem esta Páscoa para descassarem das minhas arengas. Vamos a ver se têm essa sorte.

Por causa da ASAE, e porque não penso ser amiga pessoal dos vossos dentistas, este ano não lhes ofereço amêndoas nem chocolates, deixo-lhes apenas umas flores de amendoeira.

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PS - Na sempre atenta página de JVC - Reformar a educação superior - estão lá, como não podia deixar de ser, umas amendoas exclusivas para as Universidades, na rúbrica Novas leis da educação superior. Fico à espera de quem entenda desta poda dizer de sua justiça.

ADITAMENTO IMPORTANTE - Afinal parece que as amendoas citadas no PS - ponto anterior não são ainda fiáveis, por isso desfiz o link à página, até porque JVC resolveu também desfazer o link da página às "amêndoas".
Este ano, decididamente, não há amêndoas de ninguém para ninguém!

terça-feira, março 18, 2008

Caldeiradas financeiras...

"Liberty is telling people what they do not want to hear" - prefácio do Animal Farm (Orwell)

Hoje, foi um dia prodigioso em notícias interessantes, sobre questões relacionadas com as distorções político-financeiras do ensino superior português.
Ensino? Talvez... Há quem lhe chame isso ou, pelo menos, que é necessário para isso!

Mas como (não) nos dizem as filosofias do estafado Processo de Bolonha - Nós, os cidadãos comuns, é que nem, com After Long Life Eternety Learning, conseguimos aprender... nem sequer a termos vergonha.
E nós cidadãos comuns, como é que nos podemos dar ao respeito quando assobiamos para o lado, na expectativa ingénua de um dia transitarmos para o lado dos "beneficiados".

Neste "post" vou falar numa notícia que hoje li, e que considero impressionante:
Trata-se de um artigo de Germano Oliveira, intitulado "Ensino Superior Factura 92 milhões em bens e serviços", no Jornal de Negócios, que nos dá conta com um bocadinho mais de pormenor, do que já todos desconfiávamos - o forrobodó das finanças públicas, em que se está a converter um negócio inacreditável de instituições públicas de ensino superior, que não é o da educação.

Não tarda nada, ainda ouviremos dizer, algumas instituições de ensino superior público - sob a protecção do RJIES que, como sabem, já aprovámos, contra a minha vontade - dizerem-nos: Isto, sem alunos, é que era... uma ma-ra-vi-lha.

Por exemplo, se bem que seja uma micharia, porque não chega nem para o petróleo (menos que 12,6% do total atribuído pelo Orçamento de Estado, às Universidades) - mas, 83 milhões de Euros (dos quais 16,5 milhões de Euros pertencem ao IST), são provenientes de instalações e equipamentos, adquiridos com dinheiros públicos, tais como: aluguer de espaços e equipamentos, serviços de laboratórios e a elaboração de estudos.

Diz-nos ainda o jornalista que, incluídos nesses "estudos" se encontram trabalhos mediáticos (ex. aeroporto de Lisboa, PRACE, a Revisão das Finanças Locais, nos quais até se inclui publicidade e fama fácil) que as universidades "ganham" ao sector privado (aspas minhas).

Ganham???? Ganham coisíssima nenhuma! A palavra "ganham", nesta frase, é uma simples força de expressão, porque para não o ser, seria preciso que as universidades concorressem com seriedade, em pé de igualdade com todas as outras entidades potencialmente interessadas, em especial com as empresas privadas, e lhes ganhassem, e não como efectivamente as ganham, de lambugem quando os decisores políticos lhes atiram com trabalhos dessa natureza para o colo e para as pranchetas.

Nas Universidades as propinas pesam menos de 1,9% das "receitas próprias".
Enquanto as vendas de serviços sobem para 12,9%.
Diz-nos ainda o autor que, no fundo, 2008, tornou os politécnicos mais dependentes da procura de alunos. Pois... Elementar meu caro jornalista. No subsistema politécnico aceita-se que seja assim: You are a slave. Period!

O que eu digo é que: desvio de recursos públicos - qualquer que seja a natureza do desvio - para interesses não devidamente disciplinados por regulamentação transparente e, de preferência, equitativa, para mim, é corrupção!

Caldeiradas financeiras? ... nem com molho de tomate.

"In no chess problem since the beginning of the world has black ever won. Did it not symbolize the eternal, unvarying triumph of Good over Evil?"

Melhorámos sim, meus senhores!


Índice de Sucesso Escolar no Ensino Superior - Portugal melhora resultados, aproximando-se da média dos países da OCDE.

"O Índice de Sucesso (em inglês, "Survival Rate") é um indicador de sucesso escolar adoptado pela OCDE que corresponde à proporção de diplomados no Ensino Superior num determinado ano, em relação aos inscritos pela 1ª vez no 1° ano desse curso "n" anos antes (sendo "n" o número de anos de estudo requerido para se completar o grau em causa)."
Agora, só nos falta melhorar o nosso desempenho, nos restantes 28 indicadores, também referidos no Education at a Glance, 2007, e - se for possível - por um lado, explicarmos e, por outro, aperfeiçoarmos um bocadinho o Português, com que se anunciam, oficialmente, os "nossos" feitos em educação:
"Este indicador permite estimar, para um determinado grau de ensino, o número de alunos inscritos no 1° ano que obtiveram o seu diploma rigorosamente dentro do período de duração estabelecido para aquele grau. "
Fonte: MCTES

segunda-feira, março 17, 2008

Um ouriço para mim, outro para ...

Resolvi visitar o vértice nordeste de Portugal, e passar aqui uns dias, para observar um pouco da vida real, de quem moureja cá por cima.
Só posso ser sádica!
Não me perguntem pormenores, porque também não os quero transcrever num blog, nem eu os saberia reproduzir como esta região e seus habitantes, na sua maioria, talvez mereçam.

Ultimamente, tenho dominado a minha tendência para desbocar, porque já não sei se é Portugal que está a ficar muito estranho, ou se sou eu que estou a estranhar Portugal - alguém seguramente está a ficar esquizofrénico. Espero, sinceramente, que seja eu!
A verdade, é que me é dito, aqui, que a "nossa" castanha é tida pela investigação do sector, como o petróleo de Portugal. Pode ser verdade, mas faço notar que esta exploração nacional não integra uma OPEP, que defenda os seus produtores - por exemplo, não percebo, porque é que atravessando a fronteira a produtividade duplica.... Será isto um resultado de deficiente técnica agrícola, ou apenas deficiente estrutura económica, ou simples desinformações especulativas, que circulam com a complacência de todos?

Assim, a castanha cá em cima acaba por induzir intricadas cadeias dos produtos e serviços promotores de uma sociobiodiversidade deveras intrigante, que agrega valor, exclusiva e selectivamente, em proveito próprio, e vai consolidando um intrincado e improvável, mas aqui possível, mercado insustentável. A depauperação da região e do país acontece, perante todo um impávido sistema regulador caríssimo, a comportar-se tal como eu - apostado em assistir, placidamente, sem observar e ou intervir.
Originam-se e organizam-se, então, não empresas mas, sim, nichos de tarefas aleatórias de natureza quase individual e sem rosto, que - também com a corda ainda folgada em torno da garganta, mas perante a inevitabilidade deste tipo de actividades ter, forçosamente, um fim num horizonte relativamente próximo - vão sobrevivendo de expedientes, e das espertezas saloias que tão bem nos caracterizam.

Por outro lado, pareceu-me poder registar nos produtores das castanhas o sentimento de frustração peculiar de quem paga exagerados impostos, pelo suporte estatal inexistente que recebem em troca.
Sabe - dizia-me alguém - a vida dos pequenos produtores de castanha, aqui, é muito difícil, é como se na época da apanha das castanhas eu repartisse os ouriços assim: um para mim, outro para o Sócrates.... um para mim, outro para o Sócrates,,,, um para mim, outro para o Sócrates.....; porque é que, pelo menos, ele não manda ninguém cá, apanhar os dele?
Hoje não lhes falei de nenhum nível de educação pois não? Ou, pelo contrário, nem parei sequer de falar disso?

quarta-feira, março 12, 2008

Progressos!?

Hoje, numa visita relâmpago, à blogosfera, dei de caras com esta boa notícia - "Gago nega despedimento de 40% dos docentes" - divulgada pelo Blog Universidade Alternativa, de JCR.
Do documento original, extraí esta frase:

"O ministro do Ensino Superior reafirmou hoje que o processo de racionalização das instituições do Ensino Superior actualmente em curso não implica o despedimento de dois quintos dos docentes universitários. "

É sempre muito agradável ver claros progressos comportamentais em pessoas que julgávamos irrecuperáveis, ou como agora se diz: "...parece que estamos no bom caminho..."!

Não, não pensem "isso" - porque se não sou partidária de um estado accionista - "golden share" aqui e ali..., - sou ainda menos aficionada de um estado previdência.

O que me encantou, na notícia de que aqui lhes falo, foi o senhor ministro dizer-nos que quer racionalizar as instituições de ensino superior. É um bom começo, e mais vale tarde que nunca.
Os meus caros e raros leitores imaginam o não que aconteceria, se não quisesse(m) racionalizar nada? Eu não consigo imaginar!
Para a empreitada de se racionalizar sem ferir, ou ferir o menos possível, não nos falta sequer orçamento, só precisaríamos de ter uma estratégia pluri-anual devidamente orçamentada, para o sector. Não seria uma tarefa simples, mas também completam-se agora 3 anos de governação, e o que se tem em Portugal?
Ah! Mas eu digo-lhes o que penso que temos, para o sector:
i) Uma documentação legal sortida, dispensável por já estarem muito claras as concepções europeias- caso do "Decreto Lei Europeu" - Decreto-Lei n.o 74/2006 de 24 de Março, ou mal acabada e que possibilita interpretações a gosto do leitor, quando não é mesmo apenas uma rasoeira palavrenta que ninguém entende - Lei 62/2007. Legislação esta que conjunta ou separadamente, obriga ou possibilita vacuidades [ex: "mestrados integrados", com ingressos a meia nau, (para quê o mestrado integrado?), "especialistas" cujo conceito está para ser definido nas calendas, uma política de investigação "orientada" sem explicações, umas "fundações" sem Regime Jurídico, etc., etc., etc...],
ii) Umas assinaturas de meia dúzia de protocolos internacionais com custos benefícios discriminatórios,
iii) uma Agência de Acreditação "nada morta", ou fantasma,
iv) Um aconjunto de "stakeholders" incógnitos que, seguramente, não representam as sensibilidades,
v) Desses "stakeholders", só por ouvir-se dizer fazem parte "empresas" tais, como a EDP e a PT,
vi) Uns quantos conselhos e palpites veiculados, sabe-se lá como, por uma comunicação social de discutível independência,
vii) Uma "rede de politécnicos" cujo único objectivo parece ser hegemonizar no palco astros sem talento,
vii) Uma pedra lá para o norte onde se diz que vai ser o Laboratório Ibérico de Nanotecnologia.
E, já agora, também lhes digo o que penso que não temos:
Por isso é que insisto que, por ora, não faz falta orçamento ao ensino superior, faz-nos muita falta sim, é uma efectiva a governação no sector, que não represente o papel de arame farpado, com dotes esporádicos de oratória.

terça-feira, março 11, 2008

vida de ordem n

Acabo de me aquietar, depois de ter passado um dia muito especial, na companhia dos meus constantes companheiros de blogosfera - é como se tivesse empreitado uma travessia fora de mão, à realidade virtual que vivo quase todos os dias, mas em sentido oposto - uma Second life às avessas.

Numa frase curtinha - o meu dia foi muito enriquecedor depois de o partilhar, com experiências e opiniões muito diversas, sobre Educação Superior.

Aguardam-nos as esperanças de mais um ano de mútuo reconhecimento e ajuda, até à 3ª edição do encontro de bloggers de Ensino Superior, em 2009, que será coordenada, por LN, do blog Conversamos?!...

Lá estaremos. Todos!







sábado, março 08, 2008

Bloggers de Educação Superior

Opiniões...

Muitos dizem-me que é fotografia de uma simples toalha desarrumada, mas a dona da "coisa", que até sou eu jura que é o seu cão flagrado em delito - dormindo a sono solto em cima de uma cama, de uma cama não, de um pijama que nem lhe pertence...
Também é assim, que acontece, com os observadores das Reformas do Ensino Superior, em Portugal: a OCDE e alguns "stakholders" - segundo o PRESS STATEMENT do painel da própria OCDE - vêem uma coisa, com base num Progress Report feito pelo próprio MCTES (até o MCTES se auto (auto-elogia) avalia - fica-lhe bem!), mas eu vejo outra, que não me agrada nada.
Que pena não se saberem quais stakholders é que estão satisfeitos com a Reforma de Ensino Superior em Portugal - talvez todos nós pudessemos também perceber porquê.
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quinta-feira, março 06, 2008

Acham que se faça a cruz e se diga a reza?

Hoje de tardezinha, para variar, via Página Reformar a Educação Superior de João Vasconcelos Costa, acedi a uma excelente notícia; para mim, representa uma acendalha de esperança para todo o cenário da educação superior portuguesa:
"EUA welcomes launch of European Quality Assurance Register for Higher Education Category: Eua News" - European Quality Assurance Register for Higher Education (EQAR) da onde extraí o seguinte texto:
[...]
"The new register, which is one of the milestones of the Bologna process reforms, aims to provide clear and objective information about trustworthy quality assurance agencies that are working in Europe. It been established by the "E4 Group" - comprising EUA, the European Association for Quality Assurance in Higher Education (ENQA), the European Students Union (ESU), and the European Association of Institutions in Higher Education (EURASHE) - under the mandate of Education Ministers from the 46 countries taking part in the Bologna process."
[...]
"Inclusion on the EQAR, which is voluntary, will be based on compliance with the European Standards and Guidelines for Quality Assurance adopted by European Education Ministers in 2005. A Committee - composed of independent experts nominated by the E4 Group, Business, Europe, Education International, together with five government observers - will be responsible for admissions to the register.
The register will be accepting applications from the summer of 2008 and information will be publicly accessible through a web-based tool."
[...]
A acendalha de esperança que referi, resulta do facto de não termos ainda novas nem mandadas daquela "nossa" agencia de acreditação. Será que este registo** na EQAR poderá algum dia substituir o da nossa agência de acreditação? Isto é que era uma boa coisa!
Lembram-se dela? da AAAES - Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior instituída pelo Decreto-Lei n.º 369/2007 de 5 de Novembro.
Estará "isto" a levedar?
Devemos nós fazer a cruz e dizer a reza? Pelo sim, pelo não:
"S . Mamede de levede, S. João te faça um bom pão, S. Vicente te acrescente..."
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**The Register is expected to:
- promote student mobility by providing a basis for the increase of trust among higher education institutions;
- reduce opportunities for "accreditation mills" to gain credibility;
- provide a basis for governments to authorise higher education institutions to choose any agency from the Register, if that is compatible with national arrangements;
- provide a means for higher education institutions to choose between different agencies, if that is compatible with national arrangements;
- serve as an instrument to improve the quality of agencies and to promote mutual trust among them.

sábado, março 01, 2008

Diga aaaaaghhhh!

Para quem já deambulou na beirada de margens de rios com piranhas, sob irresistíveis tentações de dar um mergulho, ouviu de certeza este conselho: Cuidado, não nade aqui, a menos que seja como elas (piranhas...)!
O bicho é muito sociável (nada sempre em "bandos" numerosos) de boca fechada, todo ele respira inocência e bondade, o único problema que tem é se resolve que quem se pavoneia no seu território, de limites fluídos, também integra o menu do cardápio de uma qualquer das suas lautas refeições.
Daí que, o bom mesmo é conferir, - isto é, pescar umas quantas, mandar-lhes ou persuadir a abrir as bocas inocentes, de forma a verificar, previamente, se as dentaduras conferem ou não os standards do estatuto saudável - Normalmente, é e muito!
Quando assim acontecer, não mergulhe, opte por um passeiozinho a pé, face à tentadora alternativa inicial da natação.
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Hoje, lembrei-me disto porque, via Blog Que Universidade? no seu habitual post de Revista de Imprensa anunciava este artigo do Público "Estrangulamento financeiro pode chegar a mais universidades, alerta reitor da Clássica." - subscrito por Bárbara Wong.

Por esse artigo, fica-se a saber, mais uma vez, os receios de costumeiras figuras de proa da nossa educação superior - universidades - relativamente aos financiamentos públicos das suas instituições, uma destas pessoas chegou mesmo a comparar o financiamento da Universidade de Utrech com o das universidades do país, lamentando que o financiamento das nossas 14 universidades públicas ser inferior ao da Universidade de Utrecht, na Holanda. As portuguesas recebem 650 milhões de euros, ao passo que a holandesa com uma dimensão semelhante à da Universidade do Porto, a maior do país, recebe 700 milhões.
Esqueceu-se de informar a comunicação social, para efeitos desta comparação, dentre várias outras coisas importantes, por exemplo:
1) Que a Universidade de Utrech publica Relatórios anuais de actividades detalhados, inclusivamente, em inglês.
2) Que a Universidade de Utrech tem 28,000 alunos, mas 2000, são alunos estrangeiros.
3) Que a Universidade de Utrech tem apenas 640 professores e 275 professors especiais - tendo portanto ratios muito elevados de alunos/professores (30/1);
4) Que 25 % do seu Orçamento tem origem efectiva em contratos internacionais, excluindo propinas e demais benesses estatais, tal como nós (ver Receitas Próprias da Lei nº 52/2007), e apenas 75% tem origem Estatal.
5) E, com a craveira de Ultrech, na Holanda, só existem mais 4 instituições - Delft (TUD), Eindhoven (TUE) e Twente (UT), em Engenharia e Tecnologia, e Wageningen, mas esta sob a influência do Ministério de: "Agriculture, Nature and Food Quality".
6) Que o pouco de concreto que sabemos, apenas por versões livres da comunicação social, acerca das nossas instituições de educação superior, que se encontram em fase de "negociação" com o MCTES, para se tornarem fundações, é o seguinte:







FONTE: 28 de Janeiro de 2008, Jornal de Notícias
Que fazem parte de receitas próprias das nossas instituições de ensino superior (Artigo 115º da Lei 62/2007 - RJIES) as seguintes benções, muitas das quais, a azul, bastante descricionárias em função da veneta do ministro de plantão:

a) As dotações orçamentais que lhes forem atribuídas pelo Estado;
b) As receitas provenientes do pagamento de propinas e outras taxas de frequência de ciclos de estudos e outras acções de formação;
c) As receitas provenientes de actividades de investigação e desenvolvimento;
d) Os rendimentos da propriedade intelectual;
e) Os rendimentos de bens próprios ou de que tenham a fruição;
f) As receitas derivadas da prestação de serviços, emissão de pareceres e da venda de publicações e de outros produtos da sua actividade;
g) Os subsídios, subvenções, comparticipações, doações, heranças e legados;
h) O produto da venda ou arrendamento de bens imóveis, quando autorizada por lei, bem como de outros bens;
i) Os juros de contas de depósitos e a remuneração de outras aplicações financeiras;
j) Os saldos da conta de gerência de anos anteriores; - se têm muito é porque receberam a mais.
l) O produto de taxas, emolumentos, multas, coimas e quaisquer outras receitas que legalmente lhes advenham;
m) O produto de empréstimos contraídos;
n) As receitas provenientes de contratos de financiamento plurianual celebrados com o Estado; (a mina principal das futuras fundações - aqui vale praticamente tudo!)
o) Outras receitas previstas na lei.
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Alguma dessas nossas zelozas figuras públicas, e excelentes gestores profissionais de topo das nossas instituições de ensino superior poderá, além de se queixar e de se lamentar, publicar os números reais dos valores parcelares de todas as receitas próprias das suas próprias instituições - ano de referência 2006, para prefazerem pelo menos 50% dos fundos totais necessários, de forma a que todos saibamos se tem ou não dentes, para as nozes que querem trincar (Fundações)? Sobretudo, informem o povo de qual o valor da componente "Projectos Internacionais".
Por outras palavras, por favor, abram a boca, e digam: aaaaaghhhh!
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Esqueci-me de juntar outras informações importantes - desculpem-me!
PIB (2006): Portugal - $27.621USD; Holanda - $35,078 USD;
Outras participações para a Universidade de Ultrech - mais 6500 colaboradores além dos Professores Professores;
Em 2004, a Universidade de Utrech também era deficitária.