Ah, meus caros e raros leitores, é mesmo uma vergonha para a família, mas eu confesso que não percebi! As explicações, para mim, têm que ser dadas muito mais devagarzinho.
No dia 21 de Março, li esta headline numa notícia "bombástica" no
Correio da Manhã:
"Licenciados automáticos - Cerca de 1400 bacharéis de cursos de Engenharia obtiveram administrativamente o grau de licenciado, no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra..."Os escrevinhados, continuavam, continuavam, continuavam, como podem ler com os vossos próprios olhos.
Além disso, começou a correr na blogosfera, não só a notícia "bombástica", como ainda a divulgação de um mau estar nos meios académicos (???)....
Por acaso, até tenho alguma proximidadezita com os meios académicos, e não detectei nenhum mau estar em ninguém, mas também pode ser da minha baixa tolerância a mexericos e segredinhos idiotas.
Até porque, felizmente, o Senhor Presidente do CCISP também atalhou oportunamente, e explicou muitíssimo bem o procedimento de acreditação seguido pela Escola visada, aliás, descrito de forma clara, pelo Senhor Presidente do Conselho Directivo da mesma. Ambos me merecem felicitações!
Não percebo o que é que a referida Escola poderia ter feito, com uma legislação, que não exigia nada nem, por exemplo, que as formações de Bolonha, obrigatoriamente, expressassem detalhadamente, os resultados de aprendizagem, para efeitos de comparação de currículos - é bom lembrar que Resultados de Aprendizagem não são competências - coisa que muita boa gente, com alguma responsabilidade, insiste em afirmar que são uma e a mesma coisa. MAS, NÃO SÃO!
Assim, não há dúvida que, o que a Escola acreditou (o termo correcto é acreditou) não foi uma formação ao mesmo nível de uma Licenciatura das antigas de 5 anos, e sim, e apenas, uma formação inicial de 3 anos que, por acaso, até se resolveu, num lugar qualquer, bacocamente, designar de Licenciatura (Bolonha).
Por isso, é que também não percebi porque é que o Senhor Bastonário da Órdem dos Engenheiros insinuou de facilitismos no politécnico, sobretudo, não tendo ele explicado DEVIDAMENTE o que é que considera não facilitismo - serão os tais mestrados integrados, nos quais - na hora do vamos ver - se pode aceder de qualquer outro lado, e a meia náu? Isto, claro, para além de não me ter constado, que nenhuma escola - Universidade ou Politécnico - tenha pedido qualquer creditação de Licenciaturas de 3 anos, à Órdem dos Engenheiros.
Mas, enfim, acreditem-me o impossível acontece, com elevadíssima frequência, entre nós!
Ora como o Rossio não cabe(ia) na Betesga das duas uma: ou a Escola visada, anteriormente, à adequação a Bolonha, não ensinaria nada bem e só, por isso, é que agora com uma formação de 3 anos de Bolonha deveria obrigar as pessoas a aprender os conteúdos necessários ao exercício da Profissão de Engenheiro (Técnico) de 3 anos e 180 créditos, a que corresponde a Licenciatura de Bolonha, (Lembrar que o engenheiro pleno da órdem são - 300 ECTS) ou então, SÓ ENSINANDO BEM, é que poderia fazer o que, exactamente, fez o ISEC - acreditar uma formação anterior de 3 anos e 180 creditos que se chamava Bacharelato, a uma outra formação, a actual, também de 3 anos que, por acaso, alguém decidiu designar por Licenciatura, quando Licenciatura-Licenciatura (5 anos) era uma outra formação superior (e, essa sim, tem tendência a extinguir-se, a curto prazo, e o seu nome devia ter sido suspenso do léxico das novas formações, mas isto...).
Mas, como eu não devo estar a ver nada bem o problema, expliquem-me lá o que é que, exactamente, a instituição fez errado:
- É que Mudou o paradigma? Não me digam....Porque dizem isso?
Acham que com aulas tutoriais se aprende mais, também concordo!
Mas então, aonde andam os docentes suficientes para essas tais aulas pessoa a pessoa (poucas pessoas), se os docentes têm agora cargas lectivas superiores a 12 horas por semana em aulas de contacto presencial para turmas de 40 e mais alunos?
- Há instituições que mandam ou recomendam fazer "umas disciplinas"(?)...
Ah! Não me digam.... Porquê?
Quer dizer que, agora existem algumas instituições que decidiram ensinar conteúdos de mais "umas disciplinas" que não leccionavam anteriormente (pelos vistos, MUITO IMPORTANTES serão essas actuais unidades curriculares adicionais,... digo eu,... para obrigar ex-alunos com formações iniciais anteriores de nível superior, com 3 e ou 4 anos de duração, já com experiência profissional, e formação adicional, a aprender esses tais temas tão candentes)? Então e, anteriormente, essas matérias tão importantes - para os ciclos de 3 e ou de 4 anos - os tais bacharelatos - eram então dispensáveis? Porquê?
Dizem também, que houve uma corrida de Licenciados de formações iniciais antigas às Órdens! Que interessante! Mas, ao que se sabe, se for a Órdem for dos Engenheiros, esta determinou que são necessários 300 créditos ECTS, e não os 180 ECTS, que foram acreditados, por isso, esses tais licenciados não teriam - vista, desse angulo - qualquer concorrência destes outros Licenciados de Bolonha.
- Tem gente, que diz que a Escola não devia cobrar propinas.
Ah, nisso estou INTEIRAMENTE de acordo!Pois não, a Escola não devia! Mas o que DEVIA era o MCTES não ter determinado que a acreditação, implicava OBRIGATORIAMENTE "prosseguimento de estudos", ou seja, uma matrícula do aluno no Curso Acreditado - aliás, a este respeito, digo-vos, julgava que já tinha visto tudo na vida, mas eu nunca, na vida, tinha visto uma ideia tão peregrina.
Aliás, toda esta história foi muito mal contada pela comunicação social, mas o que é que se pode esperar? Em todas as profissões há incompetentes oportunistas - e, como dizia Truman Capote, há quem escreva e há quem seja dactilógrafo. O que me faz surgir, então, é ainda uma outra duvida: a quem pode ter interessado o arraial montado em torno de uma instituição, que até cumpriu a lei e, quer queiramos ou não, é muito respeitada, ao seu nível, quer internamente quer a nível internacional?
- Dizem também que o Senhor Ministro Mariano Gago determinou a abertura de um inquérito, ao Instituto de Engenharia, "para apuramento da legalidade e eventuais responsabilidades dos factos realizados". Esta decisão, a ser verdade, então, é curiosíssima.
Mas afinal, quem é que se responsabiliza, em Portugal, pela Legislação de Ensino Superior que se vais aprovando? Se soubermos quem se responsabiliza, achámos o(s) responsáveis!
Meus caros e raros leitores, esclarecer os ignorantes é uma obra de caridade.Caso não tenham as mesmas dúvidas que eu, façam-me então a caridade de me explicar a mim - mas, lembrem-se, que terá que ser mesmo muito passo a passo - o que é que o tal instituto deveria ter feito e não fez, bem como o que fez, mas que não devia ter feito?
Eu há muito tempo que estou parada neste único ponto: 3 costumava ser diferente de 5.
Isto também mudou?
ADITAMENTO (1 de Abril de 2008, e não é uma mentira):
As figuras estavam cotadas com 30 ECTS, cada balão.
Na verdade, como cada balão representa um ano de formação e de resultados de aprendizagem, adquiridos, como sabem, tem a cotação de 60 ECTS.
Agora as figuras estão corrigidas.
Já agora, um ano são 60 ECTS; 1 Semestre são 30 ECTS e 1 Trimestre são 20 ECTS (e não 15).
As minhas desculpas aos meus caros e raros leitores, e o meu agradecimento a uma pessoa amiga que me avisou do erro cometido.