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Ando a fazer uma intensa pesquisa - de registos sobre questões relacionadas com investigação, tecnologia e conhecimento cá da terra, dominantemente, para auto consumo - efectuada apenas nos intervalos das chuvas, das minhas outras vidas que também preciso averiguar.
Enquanto isso, distraio-me lançando de soslaio, “olhadelas-ouvidelas-random” a, entre outras coisas, concertos, mesas-redondas, noticiários e novelas – algumas destas, as de foro político, é que são mesmo de um realismo fantástico... Não acham?
Numa destas noites?/madrugadas? de Março, vi-ouvi-sonhei, de raspão, uma entrevista ao nosso fiscalista Medina Carreira, no programa Negócios da Semana da SIC- pela qual subentendi que cerca de 5,000,000 de Portugueses, do ponto de vista económico-financeiro, em muitas das suas vertentes de subsistência básica, dependem directa, ou indirectamente, do Orçamento de Estado – ou seja, das contribuições e impostos de todos nós, incluindo os dele e os meus - não tendo nós - ele e eu, tal como os outros 5 milhões, feito nada de produtivo, para aumentarmos a riqueza do país.
Se bem que Medina Carreira seja dotado, intrinsecamente, de uma subtileza diplomática que em nada fica a dever à minha própria – e, sobre isso, posso falar de cátedra - que o faz perder a razão mesmo quando só nos está a dizer as suas verdades, a constatação numérica que enunciou, arrepiou-me. Estarreci!
É que, percebi, o motivo pelo qual há tão poucas pessoas a repontar, abertamente, sobre algumas das iniciativas e desempenhos governamentais (habilidades circenses?) – é que não é, de facto, estrategicamente vantajoso “cuspir no nosso prato” – as coisas não se dizem, porque de alguma forma próxima ou remota, entram directo em rota de colisão com interesses e regalias pessoais para as quais, obviamente, não temos mesmo legitimidade nenhuma. Então… e aquele meu tachinho tão jeitoso, aquela chefiazita, o favor e o jeitinho, que me fizeram?
Assim, o bom mesmo é o silêncio – é que enquanto não abrirmos a boca, mesmo que as pessoas pensem que somos intelectualmente desfavorecidos, ninguém nos põe em “preventiva sob residência vigiada” ou, sequer, exercem represálias...... Logo que desatamos a vociferar...., na melhor da hipóteses, as dúvidas desaparecem...
Por outro lado, a minha total ignorância acerca de anatomia e de biofísica humana, faz-me imaginar que o ouvido humano tem, algures em pontos bem definidos, uns sensores específicos para os diferentes sons e seus agrupamentos.
Digo isto, porque há umas quantas palavras produzidas por governantes, e agora já, infelizmente, não só eles – jargões e chavões – que pela sua repetição permanente, monótona e incansável, honestamente, provocam-me já dores lancinantes no tímpano, seguindo-se uma hiper sensibilidade e reactividade generalizada notáveis, associadas a uma profunda irritação.
Se bem que as definições de jargão e chavão sejam bem distintas, as palavras sobre as quais estou a pensar são utilizadas, em Portugal, indiferentemente, com diversos sentidos.
As pessoas, individualmente, ou as suas corporações usam essas palavras, a esmo, atribuindo-lhes significados totalmente diferentes, adaptando-os à defesa das suas próprias opiniões mimetizando-as e camaleando-as, oportunisticamente, à ocasião e à audiência em que as proferem, acabando por lhes fazer perder relevância ou sentido transformando-as em simples “palavrões”- e isto é que me cansa, me irrita e que me faz perder o controlo.
Querem exemplos? Não seja por isso!
Inovação
O imaginário popular associa inovação com genialidade, e genialidade com individualidade e com a riqueza intelectual do indivíduo. Para uma empresa ou instituição, requerer-se-iam esforços humanos e materiais incalculáveis, em persistência e investimentos dirigidos à sua diferenciação dos demais competidores. A inovação empresarial ou institucional é o fruto de muito trabalho, de hábitos de equipa, de pessoal capacitado e do envolvimento global das organizações.
Nunca é claro a qual dos significados usam, quer o governo, quer as instituições, quer as empresas quer o nosso batalhão de iluminados da pátria se referem quando falam em “inovação”. O que se detecta, é que todos gostam demasiado se colarem, ao primeiro conceito, e vangloriar-se desmerecidamente - para auferirem vantagens sobre todos os outros, sem jamais garantirem a segunda parte da interpretação real associada à segunda ideia, que penso ser muito mais próxima da realidade, nas perspectivas civilizadas.
A gestão de informação em Portugal é a gosto do cliente, e qualquer coisa de hilariante - vou falar-vos disto, um destes dias...
Assim, são mato (mais propriamente, ervas daninhas) os lotes de numerosas criaturas, pretensamente, inovadoras porque simplesmente copiam e exibem ideias alheias, como suas, aos que apenas as desconhecem, mas que se encontram em posição de as classificar como “inovação” e também de as compensar, esperando futuras retribuições na contramão. Esta má-prática, que grassa entre nós, destrói qualquer eventual esforço genuíno de inovação, desde a sua génese – e os resultados decorrentes estão, permanecerão e agravar-se-ão, à vista de todos, enquanto abanamos a cabeça – horizontalmente, em dúvida controlada, ou verticalmente, esperançosos que absolutamente mais ninguém dê conta, de que também estamos “vendidos” apesar de não sermos "compráveis". Isso é que nunca, cruz credo!
Competitividade
A competitividade é um outro “chavão-jargão”.
Nem me atrevo a iniciar qualquer apreciação à confusão reinante sobre a interpretação dada a este conceito. Li algures – nem sei precisar quando, ou onde – qualquer coisa como “a complexidade do assunto (competitividade) obriga-nos à análise, do seu contexto, senão podemos incorrer no equívoco de utilizar o termo num sentido tão genérico que perde o seu significado ou relevância”.
Bem me parecia, os comuns mortais, como eu, usam o termo para convencer as criancinhas a “vencerem na vida ou os seus medos” ou os jogadores do clube favorito a serem “campeões, nem que seja moralmente”, etc., etc.
O que importa, actualmente, é que sejamos competitivos – e transformar todos os outros em desclassificados, perdedores e subalternos. Assim, propaga-se a ideia, que o “NOSSO ÊXITO implica, necessariamente, o fracasso e a exclusão dos outros”.
Claro que é bem mais difícil e exigente em “Competências”, optar-se por Concertação, Cooperação e Organização – mas estes conceitos já não são “in”, nem “fixes”, nem “baris” e muito menos “cool” - aliás, fiquei a saber estes dias, que esses termos são todos antiquados. O tempo passa muito rápido, não?
A minha avó paterna - não sei se por causa do ambiente lisboeta ou da época em que viveu (ela nasceu na última década do século XIX) – era dotada de temperamento muito reservado e contido. Essa qualidade estava longe de ser inata à personalidade dela, era apenas o resultado invariável, de um poderosíssimo rigor educacional, na família, e de um sistema adquirido de auto-controlo pessoal, treinado em regime de austeridade permanente, de que muito ela se orgulhava e gabava – “uma Senhora, quanto muito”, insistia ela, “é para ser vista, jamais pode ser ouvida”!
Assim, na única vez em que a vi perder a paciência, em meados do século passado, ela declarou, em surdina - mas num tom e expressão tão exasperados, que não deixavam margem para dúvidas, sobre a eminência de ir espetar os incisivos na jugular da causa da sua “fúria” - “Olhe sabe de uma coisa? Vai desculpar-me, sim? Mas, eu não me vou poder calar. Vou dizer um palavrão!...”.
Os presentes, outros familiares e convidados, entreolharam-se aturdidos do espanto, aterrorizados, suspensos e incrédulos para, após uma breve pausa, a ouvirem murmurar, num tom ainda mais baixo do que o seu próprio aviso (eu diria ameaça?): “Oh! Céus!”. E foi tudo!.
De tanto falar em irritação, agora sou eu que fiquei “fora de mim”.
Desculpem-me sim? Mas, vou dizer um palavrão:
EMPREENDEDORISMO!