quarta-feira, outubro 31, 2007

Comemorando o meu dia

Hoje, como aliás, todos os anos desde que me conheço, festejei o dia 31 de Outubro - das bruxas.
Este ano fiz um bolo, o da figura, que servirá também para comemorar, a partir do próximo dia 15 de Novembro, o primeiro aniversário da segunda data de submissão da criação de novos ciclos - cursos de Mestrado - nas instituições politécnicas públicas, sem que resulte qualquer notícia de decisão, da parte da Direcção Geral de Ensino Superior para as instituições proponentes.
No próximo dia 15, os meus caros e raros leitores estarão todos convidados para provarem a iguaria.

Revisão do Desporto de Reis 1

Resolvi recapitular e pormenorizar o meu pensamento, comentários e metáforas e ainda acrescentar alguns pormenores adicionais ao meu "post" de 27/10/2007 intitulado: "Desporto de reis", porque alguns dos meus caros e raros leitores expressaram-me dúvidas.

Tudo para mim começou, quando li na página do MCTES, o seguinte anúncio: "Lisbon Research and Policy Workshops: as instituições de ensino superior politécnico no contexto europeu. 15 - 16 Outubro 2007"; com o desenvolvimento que encontram aqui, e um texto de base que se intitula "Revisiting polytechnic and vocational education?...Looking at the complex nature of diversified higher education systems and their relation with new challenges in science, technology and social change " este. Pela leitura deste ´ltimo documento depreende-se que no referido Workshop, supostamente, se reflectiriam as seguintes questões:

1) What implications at a national level of a binary system between universities and polytechnics?
2) Are the identities, tasks and challenges defined differently for universities and polytechnics? 3) How to identify labour market needs and how to provide the necessary skills, qualifications and technical know-how?
4) Are non-university tertiary education institutions more regionally specific institutions and consequently in a better capacity to detect the needs of local industry and promote local and regional clusters of innovation?
5) Overall, one may question if we can rely in polytechnic and vocational education to enlarge the knowledge base and train the labour force, while the university system focus on research and the diffusion of new knowledge?
6) What is the role of the polytechnics in promoting social opportunities?
7) How to ensure that polytechnics are not viewed as a second choice for those who do not get into a university of for those with less economic means?
8) Are polytechnics prepared to meet these strategic challenges?
9) Are polytechnics equipped to undertake strategic planning exercises, to assess internal strengths and weaknesses, to define their mission, market niche and medium-term development objectives along with plans to achieve them?

Comentário:
Considero extraordinário, que menos de um mês depois da Lei 52/2007 - a tal do Regime jurídico das instituições de ensino superior (RJIES) - ter entrado em vigor e de 2 meses depois da mesma ter sido aprovada, pelos Deputados do PS, sem que os deputados de todos os outros partidos tivessem feito essas mesmas perguntas na Assembleia da República - apesar das profusas sessões de esclarecimento e de discussão pública - alguém ainda venha a expressar, por escrito, num documento, com acesso internacional, como assuntos de reflexão do Workshop, dúvidas desta natureza, e com a cara mais lavada deste mundo?
Mais estranho é ainda a reflexão sobre as táticas que se pretendem seguir:
"Design and implementation of joint degree programmes (mainly first Bologna cycle);
Student exchange and implementation of joint international projects for students, involving local companies in different countries/regions;
Faculty exchange for joint curriculum development (mainly “short” and first Bologna cycles, including post-secondary education) and the design of teaching and learning methodologies;
Planning and implementation of joint projects with local companies and other social and economic actors in different countries/regions, in a way to allow the integration of faculty and students in joint and international applied research activities with local relevance; "

Honestamente, espero que o Senhor Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, tivesse esclarecido logo os convidados presentes no Workshop, de vários aspectos:
1 - respostas prontas a todas a perguntas anteriormente mencionadas, e ainda que
2 - no contexto europeu, são as pequenas e médias empresas o motor da economia, que mobiliza 57% do volume de negócios: "Small and medium-sized enterprises – in principle firms with fewer than 250 employees, with annual turnover of less than €50 million, and independent of larger enterprises – make up the backbone of the European economy. Across the EU, there are around 23 million SMEs; that is 99% of all enterprises. And SMEs account for about 75 million jobs. And in some key industries, such as textiles, construction and furniture-making, they account for as much as 80% of all jobs". Situação esta que, definitivamente, parece favorecer a opção por formações politécnicas, digo eu, pelo menos.
3 - Que muitas das tácticas enunciadas já foram testadas e implementadas em algumas instituições politécnicas, há meia dúzia de anos.

Caso o Senhor Secretário de Estado não tenha tido o cuidado de esclarecer os presentes sobre estes três pontos, francamente, não sei exactamente o que pense, mas o que quer que possa pensar diante das questões que se pretendiam debater no workshop, e a inoportunidade de o fazer, não pode resultar nada abonatório para ninguém, mas muito menos para os nossos decisores políticos da Ciência Tecnologia e Ensino Superior.

(...continua...)

Matéria e energia negras

Fico muito feliz quando me posso ORGULHAR de pessoas ou de instituições de ensino superior, cá da terra.
Hoje, 31.10.2007, um artigo de Teresa Firmino do Público - "Como se torna famoso um artigo de física feito em Portugal" - relata-nos o impacte internacional alcançado por Maria da Conceição Bento, portuguesa, Orfeu Bertolami, brasileiro, e Anjan Sen, indiano (este, à época, um pós-doc), enquanto pessoas ligadas ao Instituto Superior Técnico em 2002. Sendo o seu trabalho controverso ou não, assumiram publicamente conclusões e opiniões científicas, que disponibilizaram ao juízo da comunidade internacional da física teórica, e os seus pares, favorávelmente ou não, têm reagido com vivo interesse.

Não entendo nada de física teórica, mas alegra-me muitíssimo o reconhecimento e o sucesso de esforços nacionais, por isso, tiro o meu chapéu aos autores e à instituição.

sábado, outubro 27, 2007

Desporto dos Reis

Salvo erro, por volta do dia 15 de Outubro de 2007, vi anunciado no menu, nas notícias ou destaques, da página do Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior, a realização de um Workshop no ambito da Presidência Europeia, salvo erro, dedicado aos politécnicos - Lisbon Research & Policy Workshop: Revisiting polytechnic and vocational education?

Podem crer, nesse dia, fiquei em comoção até às lágrimas - isto seria uma honra para o subsistema, fora a perspectiva, mesmo que remota, de esclarecimentos. Claro que, a minha eminente choradeira não passou de um meio soluço, quando vi a lista de participantes - estavam efectivamente representadas instituições politécnicas de 5 ou 6 países e também Portugal. Só que, Portugal estava representado, não por uma instituição politécnica, e sim por um centro de investigação - CIPES - Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior - e, inevitavelmente, uma comedida apresentação em "powerpoint".

Perguntam-me os meus caros e raros leitores se "acho" mal essa representação?
Claro que não, de forma nenhuma- até porque, do que me recordo do trabalho mencionado, faltava-lhe, a meu ver, só a alma - era uma modesta compilação estatística e mais uma meia dúzia das pequenas, de verdades de La Palisse.

Ontem lembrei-me do desconforto que senti nesse dia e que se prolongou por mais de uma semana, porque alguém me perguntou, à queima roupa, que comentários faria à investigação no (subsistema) politécnico, e eu emudeci!
Mais de 24 horas depois teria respondido:
"A Investigação num politécnico português, é como querer participar no Grand National, só com umas quantas pilecas lazarentas, coxas e anãs, "jokeys peso-deveras pesados", e com os donos de quase todos os Haras tão "excessivamente distraídos" que não conseguem enxergar as diferenças de requisitos necessários."

quarta-feira, outubro 17, 2007

Canibalismo Social

Como nos disse, J. Cadima Ribeiro, do Blog Universidade Alternativa "Há causas que são de todos", penso que ele não se importa que inclua nestes "todos", mesmo aqueles mais radicais.
A respeito deste subgrupo, em que me insiro com muita honra, ontem, adormeci com a reverberação da designação canibalismo social, que, para mim - tem um significado mais amplo que o simples tráfico de órgãos - é tão somente um estágio de (in)cultura social que permite, por exemplo, que quase 80% da população portuguesa ignorasse que os outros 20% (~2 000 000 de almas) é Pobre, estou em choque!
E o que é a pobreza?
O meu conceito de pobreza aproxima-se da seguinte definição:
"Relative measure within a society, being the state of having income and/or wealth so low as to be unable to maintain what is considered a minimum Standard of Living".
Se for válida esta definição, como podemos falar de direitos humanos e "acharmos" que somos civilizados?
O problema é muito sério e então não se resolve com ONGs, "bancos alimentares", "rendimentos mínimos garantidos", caridades diversas de ocasião e demais "etcs" vários, precisamos, urgentemente, de resolver dois únicos problemas - a incivilidade e o deficit de auto respeito: 4 de nós vivem à conta da ausência de condições de vida de um de nós.

terça-feira, outubro 16, 2007

Literacia ou proficiência? - parte 4 - CONTRIBUTO ESPECIAL

O texto que se segue (azul escuro) é da autoria de Alexandre de Sousa do Blog Co-Labor, e resulta num precioso farol de milha, para quem se interesse por construções curriculares planeadas - com base em perfis profissionais necessários e no desenvolvimento de competências a disponibilizar aos formandos - tão úteis no projecto de todas as formações tecnológicas.
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Para uma realização (técnica) da gestão de competências

Para que se possa fazer uma gestão de competências por via da educação/formação interessa ter noções do conhecimento e representação (mais ou menos formalizada) desse mundo cada vez mais real. Com recurso ao proverbial senso comum parece aceitável que as competências sejam objecto de trabalho de desenvolvimento e que este, seja constituído por um conjunto de actividades complexas, que percorrem linhas várias que se cruzam e entrecruzam à volta de aquisições, transferências
, aprendizagens de aptidões, habilidades e conhecimentos.

O que são competências?

Competências são descrições gerais do comportamento ou acções necessárias para realizar com êxito dentro de um determinado contexto [trabalhar] (tarefas, grupo de trabalho, função, etc.).

Embora o debate sobre competências não seja nada de novo, o que é novo é a sua aplicação em toda a função ‘recursos humanos’, de modo a dinamizar quer o emprego, quer o desempenho empresarial e perceber os resultados que sejam relevantes para a organização de estratégias empresariais e para a concepção de uma visão «em termos» por parte das instituições que têm a seu cargo, também, lidar com a empregabilidade.

Os actuais e futuros «Empregados» aprendem, desenvolvem e aperfeiçoam muitas das suas competências ao longo das suas carreiras; pelo que começa a fazer sentido pensar nos serviços que possam estar estão disponíveis para ajudar o «Empregável» a avaliar as competências relacionadas com um desempenho efectivo no seu emprego.

Porque usamos as competências?

Quando aplicado correctamente, a implementação de um programa de competências dentro de qualquer tipo de organização gera os meios necessários para:

■ Transferir a visão e os objectivos da organização para o comportamento esperado do «empregado»;

■ Implementar um tipo de recrutamento (selecção e métodos de avaliação), o mais eficaz e juridicamente defensável;

■ Reduzir custos e taxas de absentismo/rotatividade;

■ Identificar áreas de desenvolvimento para o «empregado» que estejam directamente relacionadas com resultados pretendidos e objectivos organizacionais;

■ Preparar o «Target» educação/formação em Euros, nas áreas que previsivelmente trarão mais retorno sobre o investimento;

■ Definir critérios mais eficazes (e válidos) para desenvolver e avaliar o desempenho;

■ Identificar o fosso entre actuais e futuros requisitos (aptidões, habilidades, conhecimentos,…);

■ E se houver projectos para reduzir é necessário: assegurar a manutenção das competências essenciais para a sustentabilidade da organização.

Porque precisamos de competências se já temos descrições dos «empregos»?

Em contraste com uma descrição do posto de trabalho, enunciando normalmente as tarefas ou funções e responsabilidades para um determinado papel, um conjunto de competências (ou 'perfil' da competência) enumera as aptidões/habilidades necessárias para realizar as tarefas ou funções.
A maior parte das vezes, as descrições do emprego não estão formuladas de uma forma que permita que o desempenho de um «empregado» possa ser efectivamente medido. As competências por outro lado, devem ser descritas em termos tais que possam ser observadas, medidas e avaliadas face a critérios que são padronizados e requerem a realização do trabalho de forma eficaz.

Perspectivas à vista

Aparentemente, é consensual a constatação de que existem cada vez mais exigências em matéria de adequação das intervenções educativas/formativas apontadas por grandes organizações que correspondem a volumes de emprego consideráveis e que aconselham vivamente o recurso a novas formas de pensar as acções que tem por objecto o desenvolvimento de competências.

Deixou de ser pura retórica afirmar que são precisas respostas concretas a necessidades específicas expressas pelos públicos-alvo o que veio a elevar o nível de responsabilização das entidades que prestam serviços de educação/formação, uma vez que lhes é pedido sem complexos, que participem na elaboração de catálogos dos modelos de competências (ontologias) e preparação/ajustamento dos perfis quer das profissões/empregos, quer dos postos de trabalho.

O conceito base que preside à exploração de metodologias de apoio ao desenvolvimento destas práticas é o da ‘Oportunidade de Aprendizagem’, uma representação abstracta de qualquer forma de actividade (repetível) capaz de contribuir para o desenvolvimento de uma competência. Associados a este conceito podem e devem ser identificados subconceitos como o da Entidade da Instrução a que pertencem a clássica presença do aluno, os objectos de aprendizagem ou os programas de aprendizagem. Esta entidade assumidamente, tem objectivos de aprendizagem bem definidos, pelo que deve ser obrigatório estabelecer um relacionamento fortíssimo entre o ‘target’ competência e a definição dos objectivos de aprendizagem.

Mas como é que sabemos que a Oportunidade de Aprendizagem é adequada para uma determinada situação? O contexto empresarial fornece algumas pistas sobre quais os aspectos da situação de trabalho que exigem competências. Na gestão de competências, os perfis exigidos são aqueles que tipicamente se reconhecem como fazendo parte das unidades organizacionais e consequentemente das tarefas que lhe são afectas.

Em algumas experiências levadas a cabo durante o programa Aveiro-Norte, foi evidenciado que é preciso fazer uma distinção entre requisitos ‘Hard’ (competências que são absolutamente necessárias) e requisitos ‘Soft’ (competências que são objectivo desejado no futuro de curto e médio prazo).

Nota técnica:

Este texto, entre outros, foi preparado a partir de questões que se levantaram no decorrer e pós-seminário de Felder & Brent, em Set. passado, na U.A.

Houve um debate em torno de uma questão – crucial – que o(s) processo(s) Bolognese vieram colocar ainda mais a nu: As propostas sobre os conteúdos das disciplinas e o planeamento dos cursos com base nessas disciplinas são concebidas e desenvolvidas com base em que critérios?

Estivemos a ler, para ajuda na estrutura das afirmações, os docs de leitura obrigatória para o seminário (Felder & Brent), mais dois trabalhos interessantes de Christine Kunzmann, os proceedings da 6th I.C. on Knowledge Management e ainda os proceedings da 8th I.C. on Enterprise Information Systems, tudo isto de 2006; não devem ser estranhadas as inovações de vocabulário até porque raramente se tem feito qualquer esforço na formalização destes tópicos.

Mas, há sempre um mas na cantiga, a génese da motivação para escrever sobre isto está num dia de trabalho passado, tempos atrás, numa ‘planta’ de uma multinacional que fabrica «memórias». Foi um fantástico dia de trabalho, integral, com o director dos RHs dessa multinacional. Estamos a falar de 600 pessoas, mínimo 9.º ano e maioria com o 12.º ano. Engenheiros muitos.

A nossa conversa inicial teve origem numa frase do nosso RH: «só queria que o pessoal soubesse ler e escrever». Nesse dia, aprendi muito, em especial, o que significa ler e escrever ao nível do chão da fábrica.

Alexandre Sousa

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(continua...)

sábado, outubro 13, 2007

Quando menos é demais

Não me posso esquecer que, com o actual governo da educação superior, ciência e tecnologia, tenho aprendido novas regras de contas de somar e sumir, por exemplo, que cinco é igual a três ou quatro, mas só em casos particulares é igual a três mais dois, e que menos é, muitas vezes, demais. Ora vejam:

Entre diversas actividades de que lhes darei conta em breve, tenho andado muito entretida a verificar as contabilidades do Orçamento de Estado pra 2008 (sobretudo o Relatório do OE 2007 , e
OE do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior) que irá ser discutido, não sei para quê, na Assembleia da República - ganharíamos todos tempo e paciências se partíssemos, directamente, para a publicação da proposta tal e qual e nos puséssemos, desde já, em campo, para pormos mãos à obra ou nos bolsos, pés de meia e contas bancárias de outros mais desprevenidos.

Entre as contas de cabeça que fiz, mostro-lhes na tabela seguinte, a síntese das variações orçamentais, em percentagem (%), no Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior, entre o OE de 2007 e o de 2008.
Perguntava-me hoje uma pessoa, ao ouvir-me os desabafos: Tu estarias mesmo disposta a dar cabo do canastro do «homem», não?
Ao que eu lhe respondi: Que ideia absurda, intencionalmente, intencionalmente, nunca! Mas, o subconsciente é poderosíssimo!

quarta-feira, outubro 10, 2007

Efemérides futuras dos 10 dos 10



















  • 10 de Outubro de 1911, início do Derrube da Dinastia Qing (último imperador - Aisin Gioro Puyi) que culmina a 12 de Fevereiro de 1912, com o estabelecimento da República Popular da China.
  • 10 de Outubro de 2007, abertura oficial da Reforma do Ensino Superior Português, com início na Dinastia Zé Mariano, para jamais acabar (ver origem da ideia desta informação: aqui, via Blog Universidade Alternativa)

terça-feira, outubro 09, 2007

Literacia ou proficiência? - parte 3 ( "ratoeira do canário")

Este post poderia ser incluído na série que intitulei "Literacia ou proficiência?", mas preferi dar-lhe destaque porque irá abordar um tema sugerido num comentário, por um dos meus caros e raros leitores, "fernando", de um outro blog que também subscrevo.
O motivo porque este post deveria pertencer à série referida, prende-se com o facto de que existem, existirão e serão valorizadíssimas, a curto prazo, profissões emergentes cuja designação não consta das actuais - e, por que não dizer, logo à partida, fundamentalistas e retrógrados catálogos formalmente instituídos? (ex. Classificação Nacional de Profissões, ver as razões em em [1] e [2])
Muitas são e serão as profissões emergentes de carácter tecnológico, que requerem uma abordagem pouco convencional no processo de ensino-aprendizagem, porque exigem a conciliação de conhecimentos executivos PRÁTICOS bastante diversificados e de treinamento persistente e extensivo para que os os formandos alcancem, no mínimo, os níveis de proficiência expectáveis ao seu exercício. São formações dessa natureza, que deveriam de ser o objecto de preocupação dominante das instituições politécnicas e para as quais haverá que organizar o pessoal docente.

Esta minha arenga, à laia de introdução, tem que ver com reflexões pessoais sobre o conteúdo do ficheiro - propostas/contributo do CCISP e de dois politécnicos, de Bragança e de Setúbal (?), que auxiliarão a definição do conceito de docente ESPECIALISTA do subsistema politécnico - ficheiro esse, gentilmente, sugerido e indicado pelo «fernando» mas que, em caso de sumiço do site original (Escola Superior de Tecnologia da Universidade do Algarve), também o podem encontrar aqui.
Para mim, estes docentes especialistas dos politécnicos são elementos-chave, porque terão que reunir, manter e actualizar as suas competências profissionais, e ainda saber como as transmitir aos seus formandos, a quem devem conferir indubitáveis capacidades de execução profissional, imediatamente absorvíveis e utilizáveis no nosso mercado de trabalho, refiro-me aos Cursos de Especialização Tecnológica. Esses docentes especialistas, não terão outro remédio, se não acompanhar o desenvolvimento PROFISSIONAL da sua área de intervenção que, tal como as restantes, estarão agora em permanente mutação.
Os requisitos dos docentes especialistas deveriam ser definidos, apreciados, confrontados e concedidos, exclusivamente, por agrupamentos profissionais correspondentes ou, em casos especiais, afins.
Não sei se as nossas organizações profissionais pertinentes são suficientes e dotadas de flexibilidade, para assumirem esse desiderato, mas há sempre o recurso à opinião de especialistas profissionais estrangeiros para esse efeito.
Por outro lado, as instituições de ensino superior politécnico também não estão a demonstrar suficiente interesse ou destreza de pensamento para a resolução dessa questão.
Passo a explicar o meu pensamento, através de indicação genérica dos PRINCIPAIS reparos, à proposta e contra-propostas já citadas:

Proposta do CCISP
Reparo 1 - não entendo porque é que a proposta é ainda mais restritiva, limita apenas os especialistas politécnicos a três dos primeiros grandes agrupamentos, do total de nove agrupamentos, da nossa já obsoleta classificação nacional de profissões: Grande Grupo 1 - Quadros Superiores da Administração Pública, Dirigentes e Quadros Superiores de Empresa; Grande Grupo 2 - Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas, e Grande Grupo 3 - Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio.
Antes de mais, penso que essa classificação não devia de passar de uma listagem indicativa, jamais exclusiva, a ser utilizada, apenas em casos já pré estabelecidos, mas sempre com a devida precaução.
Mesmo entendendo que seja desnecessário - para o efeito, de enquadramento profissional de "docentes especialistas do politécnico" - eliminar algum grande agrupamento da classificação, se fosse obrigada a excluir do leque alguma classe profissional, excluiria logo o primeiro e o segundo agrupamento, por razões óbvias, dos únicos 3 seleccionados pelo CCISP.
Reparo 2 -Não percebo porque é que um procedimento que, quanto a mim devia ser muito dinâmico, expedito e flexível "precisa seguir um Modelo próximo ao de Provas de Agregação das Universidades. ???? Tenham dó! Mesmo com a configuração actual dessas provas, para mim, essa sugestão é tenebrosa, e traduz apenas aquilo que, a qualquer custo, JAMAIS PODERIA SER A OPÇÃO de um politécnico que se preze!
Reparo 3 - A ter que haver a emissão formal e nominal de um juízo, o júri devia ser exclusivamente constituído POR PROFISSIONAIS ACTIVOS DE EMPRESAS PRIVADAS da ÁREA de candidatura do docente, MAS SEMPRE FORA DE TODO O SISTEMA DE ENSINO, e de preferência por estrangeiros.
O júri, a quem se conferia essa tarefa, deveria ser constituído por um número ímpar de elementos, e ficaria subordinado a um procedimento simples pré fixado, que pode realmente incluir, além de uma grelha padrão de avaliação, documentos comprovativos da especialização, a argumentação directa com o(s ) candidato(s), mas por simples vídeo-conferência.
Para mim, está fora de causa a necessidade de se fixar um local específico, para essas reuniões de apreciação. Só este requisito trará como consequência em júris não "pré-cozinhados", o atraso em marcação da datas, que pode ir a muito mais de um ano.
Reparo 4 - Se os politécnicos, obrigatória e conjuntamente, com as organizações de classe profissional, não reunirem condições para avaliação de um seu docente como especialista, não serão as suas parcerias com universidades que colmatam a sua deficiência, tanto mais que, as universidades não são obrigadas a esta classe de docentes e, por definição, deveriam mesmo estar noutro patamar de interesses e de evolução do conhecimento, isto é noutros níveis de proficiência e domínios de preocupação.


Contra proposta do Instituto Politécnico e Bragança
A meu ver, é uma contraproposta totalmente despropositada porque, tal como é referido na proposta do CCISP, um docente especialista é um profissional da área.
As avaliações pertinentes ao percurso académico ou de investigação aplicada (aplicada agora já não, deve ser INVESTIGAÇÃO ORIENTADA) dos docentes dos politécnicos deverão ter procedimentos específicos de avaliação - não convém aos docentes dos politécnicos, comprovarem, perante o júri, as suas tendências para "assobiar e chupar laranja", em simultâneo ou, o que quer dizer o mesmo, que sabem pouco de nada.
Pode, eventualmente, fazer sentido incluir-se um requisito de investigação aplicada, numa avaliação de carácter profissional da área para a qual o candidato se perfila, desde que essa investigação seja o resultado de projectos de empresas, coordenados e financiados por estas, nos quais alguns pontos tenham sido submetidos a contratação específica dos docentes candidatos. Outra maneira de ver o problema, para mim, é mesmo muito duvidosa.

Análise de Armando Pires (Politécnico de Setúbal?)
Concordo e gostei muitíssimo do preâmbulo e da chamada de atenção de Armando Pires sobre a proposta em causa, mas como discordo das provas públicas para o efeito de especialista, discordo também do procedimento por ele proposto, que resultou tanto ou mais complicado do que o da proposta original.

Na verdade a organização de provas públicas para especialistas, termo este que devia ser usado até com horizonte temporal curto, não fazem nenhum sentido, numa época em que a única constante é a mudança.

Em resumo,
Claro que podemos sempre baralhar ou complicar procedimentos...
É só não resistirmos às nossas tentações.
Ninguém nos impede de o fazer, muito menos o MCTES que, já de si, a meu ver, prefere pensar em sistemas complicadíssimos, que ninguém percebe bem quais os objectivos a não ser para hierarquizar pessoas e instituições, nem a estrutura final que terá em mente, nem a calendarização da execução, e muito menos, e o mais grave de tudo, os orçamentos.

(continua)

___________
[1] Esteganografo - profissão já antiga mas que, sob adequada metodologia de inovação e com o recurso às novas tecnologias, tão em voga, será muito valorizada a curto prazo, e não consta da lista de profissões nacionais. Vale apostarmos?
De acordo com a WIKIPEDIA, Esteganografia é o estudo e uso das técnicas para ocultar a existência de uma mensagem dentro de outra.
[2]
37 weird jobs that you actuallymake a living at.
[3] Se quiserem procurem o significado de "canary trap" e vejam se advinham as razões porque coloquei este título, neste preciso post.

domingo, outubro 07, 2007

Notícias antigas

Via Jornal Público online, BBC e pelos Annals of Improbable Research sabemos que, entre o dia 4 de Outubro (Sanders Theatre, Harvard University) e o dia 7 de Outubro ( MIT Building 10, Room 250) ocorreram dois dos diversos eventos relacionados com o prémio Ig Nobel de 2007 que, este ano, prestigiou os seguintes laureados:

"Medicine - Brian Witcombe, of Gloucestershire Royal NHS Foundation Trust, UK, and Dan Meyer for their probing work on the health consequences of swallowing a sword.

Physics - A US-Chile team who ironed out the problem of how sheets become wrinkled.

Biology - Dr Johanna van Bronswijk of the Netherlands for carrying out a creepy crawly census of all of the mites, insects, spiders, ferns and fungi that share our beds.

Chemistry - Mayu Yamamoto, from Japan, for developing a method to extract vanilla fragrance and flavouring from cow dung.

Linguistics - A University of Barcelona team for showing that rats are unable to tell the difference between a person speaking Japanese backwards and somebody speaking Dutch backwards.

Literature - Glenda Browne of Blue Mountains, Australia, for her study of the word "the", and how it can flummox those trying to put things into alphabetical order.

Peace - The US Air Force Wright Laboratory for instigating research and development on a chemical weapon that would provoke widespread homosexual behaviour among enemy troops.

Nutrition - Brian Wansink of Cornell University for investigating the limits of human appetite by feeding volunteers a self-refilling, "bottomless" bowl of soup.

Economics - Kuo Cheng Hsieh of Taiwan for patenting a device that can catch bank robbers by dropping a net over them.

Aviation - A National University of Quilmes, Argentina, team for discovering that impotency drugs can help hamsters to recover from jet lag."

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O Ig Nobel é organizado, desde 1991, pelo Annals of Improbable Research (AIR). A cerimónia é patrocinada por um consórcio entre Harvard-Radcliffe Science Fiction Association (HRSFA), Harvard-Radcliffe Society of Physics Students (SPS) e a Harvard Computer Society, e conta sempre com a participação de ganhadores de Prémios Nobel.
Como a própria organização o Ig Nobel declara, a iniciativa primeiro promove o riso, mas depois obriga a pensar...
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Se tiverem paciência, não deixem de passar os olhos pelos trabalhos originais, dos premiados, ex: Crocheting the Hyperbolic Plane", versão revista de um original de 2001.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Literacia ou proficiência? - parte 2

Quando, em Portugal, oiço falar de competitividade global e da importância da estrutura educativa no desenvolvimento do país, lembro-me logo de uma data de coisas:
1ª - Imagino um tabuleiro de xadrez, no qual um dos competidores, nós, lhe são intencionalmente suprimidas, pelos maiores responsáveis, peças muito importantes, logo no início do jogo, refiro-me a todos os piões.
É por isto que as empresas e empresários (entre nós, a maioria constituída por pequenas e micro-empresas) se queixam, de não terem oportunidade de seleccionar colaboradores com formações ajustadas às suas necessidades.
2ª - Não me digam, nem digam a ninguém, nada, mas também a nossa educação, a todos os níveis, me lembra algumas das aprendizagens das mais radicais, em madrassas, nas quais, os alunos de religião islâmica, iniciando-se por volta dos 8 anos de idade, durante 2 nos e meio, apenas lhes é permitido memorizar o Corão, sem jamais compreenderem uma linha do que verbalizam em ladainha ( Hifz ) para, após prestação, com sucesso, de uma série de provas absurdamente, complexas, poderem então iniciar-se na interpretação do Corão (Tafsir) e na Lógica e na Lei Islâmica, durante 8 e mais anos seguintes.
3ª - As formações e docentes que, durante mais de 30 anos, fazemos gala em proporcionar aos nossos jovens cidadãos e residentes são a(o)s de preparação directa para Caciques e de Presidentes de Conselhos de Administração, para um país paradisíaco, hipoteticamente, desprovido de índios e de operariado especializado.
4ª - Lembro-me com muito carinho de duas pessoas - o António e o Zé Manel - ambos jardineiros, separados por 3 gerações, o primeiro de uma sabedoria, calma, paciência e educação infinitas, e o segundo de uma perspicácia imbatível, quer na forma como recruta e gere o pessoal com que trabalha, adquire e mantém o vasto e especializadíssimo equipamento que utiliza com presteza mas, sobretudo, a percepção como redige e propõe os contratos de prestação de serviços, sob os quais se rege, e acreditem-me, regiamente.
5ª - A forma como vejo a articulação das formações, de nível superior, que me pareceriam importantes, para Portugal sair da arapuca em que se meteu, estão sintetizadas no esquema seguinte (clique na imagem para poder ver melhor a informação) que adaptei de (ver aqui):
TECHNICALLY SPEAKING. WHY ALL AMERICANS NEED TO KNOW MORE ABOUT TECHNOLOGY. Committee on Technological Literacy. National Academy of Engineering. National Research Council. Greg Pearson and A. Thomas Young, Editors. NATIONAL ACADEMY PRESS. Washington, D.C.

Em que:
A - Formações pós secundárias não conferentes de grau - Cursos de Especialização Tecnológica. Com numerosos formandos.
B - Formações superiores de curta duração - 1º ciclo de Bolonha. Com número intermédio de formandos.
C - Formações superiores de longa duração - 2º ciclo de Bolonha. Com menor número de formandos.

É por isso que faço questão de, pelo menos para mim, distinguir Literacia e Proficiência.
Estarei errada?
Penso que não!
Mas se entenderem que estou fora do contexto, importam-se de me esclarecer?
OBRIGADA!


(continua...)

terça-feira, outubro 02, 2007

Literacia ou proficiência?- parte I

Com algum atraso, é certo, mas também em Portugal na última década, fomos-nos apercebendo da importância estrutural que se deve atribuir à educação, a todos os níveis, com o objectivo de alcançarmos a conveniente adaptação, à nossa integração competitiva, num mercado global, em contínua mutação.
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Em todo o mundo, desde meados da década de 90, que quem se interessou pelo tema educação, sabia bem por consulta publicações estatísticas periódicas da UNESCO, Banco Mundial, OCDE e, mais recentemente, pelo EUROSTAT que, entre nós, a percentagem de alunos, arrolados no ensino superior se tem mantido cerca de metade da observada na maioria dos países europeus, e este facto é atribuído a abandono escolar nas formações de nível secundário.
Mudanças constantes e bem perceptíveis, a nível internacional, na economia e na educação ocasionaram, também no mercado de trabalho nacional, alterações importantes até nas práticas de recrutamento de recursos humanos, com implicações selectivas sobre os requisitos e competências, exigíveis pelas empresas aos seus potenciais colaboradores, mesmo os de nível vocacional e tecnológico.
Entretanto, por esta época as instituições politécnicas devotaram-se, com maiores ou menores condições para o fazer, a oferecer licenciaturas bietápicas. Enquanto isso, penso que com o objectivo de oferecer formações superiores subgraduadas orientadas pelas necessidades e requisitos do mercado de trabalho, facilitando a inserção dos formandos para a vida profissional, que nos primeiros anos do milénio, salvo erro em 2002, a Universidade de Aveiro - com base num brilhante e interessantíssimo estudo de mercado (de que, infelizmente, perdi o rasto e arquivo), que incluía a apreciação das micro-empresas do calçado da região - iniciou nas suas escolas politécnicas formações pós secundárias em Cursos Especialização Tecnológica (CET).
Curiosamente, o aproveitamento nestes cursos possibilitava a progressão de estudos superiores convencionais, desde que após 18 meses de exercício comprovado em ambiente laboral.

Por volta de 2005/2006, sob o alto patrocínio do Instituto de Emprego e de Formação Profissional, as formações a esse nível, consolidaram a implementação e expansão, tendo este nível de formação sido usado, dominantemente, mais como uma alternativa de financiamento das instituições politécnicas com insuficiência de candidatos para as formações convencionais; isto é, parecerá oportuno de facto apostarmos em diversificação de percursos escolares, como até parece que estará a ser iniciado.
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Todavia, quer se trate de uma atitude consciente e honesta do governo ou das instituições de ensino envolvidas, para melhorar as condições de competitividade e conferir aos seus cidadãos melhores oportunidades, ou de uma simples tentativa de ascender, a qualquer custo, a uns poucos pontozitos acima, nos rankings internacionais de educação-economia, não há dúvida que os CET são uma tentativa a acarinhar entre nós, mas desde que se garanta, à partida, alguma honestidade processual.
E aí, é que.... como veremos....não sei bem, se estamos empenhados com a literacia aparente ou com a proficiência efectiva, das formações dos nossos jovens a quem dizemos pretender oferecer percursos alternativos.

O tema dos CET tipo lusitano será ainda objecto de algumas reflexões pessoais nos meus próximos posts.
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Referência de base:

Learning for Tomorrow’s World. First Results from PISA 2003. Programme for International Student Assessment OECD



(continua...)