sábado, agosto 19, 2006

"Semper Augustus"*

A Revista Exame Informática, nº 135, Setembro, 2006, através de um artigo "UM IMENSO MICROCOSMOS", subscrito por Hugo Séneca e Isabel Infante, desvenda para todos quantos não sabiam que afinal Portugal é um prodígio do saber em Nanotecnologia, e já todos, sem excepção, vinham a desenvolver investigação, aplicações e trabalhos confidenciais e sigilosos no sector; ex.: INESC-MN (UL), AS UNIVERSIDADES DE AVEIRO, DE COIMBRA, DO MINHO E DO PORTO; INEB, FCT (UNL), CITEVE e até o BIOCANT - estes deram-se agora conta que nunca fizeram outra coisa se não na área da "nanotecnologia". Se me esqueci de referir alguém lamento e desculpem-me, foi apenas lapso ou desatenção porque, para que conste, por precaução, acrescento a esta lista, o nome de cada um e de todos os cidadãos portugueses e também, porque não, o de todos os residentes legais ou clandestinos em Portugal!
O milagre - para o repentino florescer de tal número e de tão portentosas capacidades nanotecnológicas - foi desencadeado pelo Senhor Ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior quando, em 8 de Fevereiro de 2006, em Madrid, anunciou que "... Nanotecnologias e a computação avançada serão prioridades do Instituto Ibérico de Investigação" - recordar o tema em http://www.cienciahoje.pt/1757) de onde extraí o seguinte texto - "As nanotecnologias e a computação avançada serão as principais prioridades do novo Instituto Ibérico de Investigação e Desenvolvimento, um projecto conjunto de Portugal e Espanha que estará a "produzir ciência" em 2008.
Afinal, já reunimos ou não competências na área? Se evidenciamos já tanta experiência e interesse em micro e nanosistemas e, dando crédito às palavras atribuídas aos investigadores da área, até temos bons resultados, porquê investirmos em mais um Instituto?
Se não temos de facto experiência reconhecida e credibilizada e cientificamente independente, no sector, então, porquê mais um Instituto a crescentar às dezenas de institutos ou centenas de outras entidades de investigação do país? Reestruturemos tudo e muito bem em primeiro lugar, para avançarmos de seguida, em segurança.
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Na mesma revista, Exame Informática, menciona-se que já existe uma empresa privada com interesses nanotecnológicos - a Haloris - que quer criar um produto protegido por 5 patentes, mas precisam de encontrar investidores para que corram o risco. Não percebi que modelo de empresa é esta, ou sequer como tem sobrevivido materialmente até agora. Mas não é, exactamente, a capacidade de "correr riscos" o "core d'art & business" das empresas privadas? Ou esta Haloris é mais uma empresa de gestão financeira "universitária", com subsídios/financiamentos públicos?
No entanto, acho muito bem, que a Haloris não queira correr riscos porque, como todos nós sabemos, no máximo só até 3% das patentes registadas resultam em produtos/processos economicamente interessantes.
Se a Haloris apesar de poder tratar-se de uma empresa privada (pela postura descrita, não me parece poder ser) receia correr riscos, além de achar que os processos são morosos, será que a) pensaria que inovação era uma coisa de natureza fácil e rápida? ou b) só se interessa mesmo pelo assunto/produto, se e quando for rentável? E até lá quem sustenta? O Estado (nós)?
Então e se, num golpe de MUITA sorte, os trabalhos da Haloris, e ou das outras empresas em igualdade de circunstâncias, acabassem por se tornar patentes interessantes, e for o Estado (nós todos) a correr(mos) os riscos e a pagar a tempo necessário à rentabilizção do tal produto/processos, como é contratualizada a repartição dos valores acrescentados da inovação da(s) empresa(s), pelo Estado (nós todos)?
Ou, o Estado (nós) só é chamado para as empresas de nanotecnologia, ou de investigação-invenção-inovação, para enfrentar, exclusivamente, os prejuízos?
Uma descrição destas, não é um tanto parecida com aquela... outra iniciativa da AFINSA? >> "Se a coisa der lucros, estes são só nossos! Mas, dando prejuízo é só Vosso!"
Só que desta vez, seria tudo muito autorizado, "à cabeça"?
Muito bem!
Até eu, que sou muito mais ignorante, também só gosto da parte lucrativa dos negócios, o resto é sempre uma maçada, morosa e arriscada- e a despesa dos riscos divididos por todos não custa nada, e torna-se difícil ressarcir o Estado (nós todos) em caso de prováveis custas e prejuízos.... Bom,... mesmo assim, desejo do coração, à Haloris, que encontre um ou mais accionistas que, por eles, corram os riscos, se macem e gastem tempo - e, há falta de melhor, "topando a parada", pode muito bem ser o Estado Português - os cidadãos não estão cá mesmo para outra coisa, senão para correr riscos e cobrir despesas! Estamos todos já acostumados aos "números no arame, e sem rede"...
Para que não se duvide do que penso de empresas "pseudo-privadas"=fardos públicos, com custos na investigação na inovação neste ou noutro domínio, é que considero que estamos muito longe de dispormos, em Portugal, capacidade empresarial efectiva, com recursos materiais e humanos, que se possa responsabilizar por iniciativas do género; enquanto o sector público necessita de forte restruturação para poder, eventualmente um dia, enfrentar eficazmente essa área do conhecimento.
O que quero dizer com isto, é que a meu ver Portugal não tem a menor condição para continuar a suportar ou a imiscuir-se em empresas "privadas" que, efectivamente, não o sejam!
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Actualmente, enquanto se mantiver, entre nós, a ideia que a Nanotecnologia é que é o caminho (financiável), seremos nada menos que 10, 5 milhões de nanotecnólogos ajuramentados e de "papel passado", "viajando na mayonnaise".
O pior, é que uns sem serem consultados financiam sempre, enquanto outros (sempre os mesmos) gastam o que é de todos, no que lhes aprover, sem análises de viabilidade económica ou de responsabilidade cívica.
E ainda dizemos nós que Portugal não é um país bom para o empreendedorismo.
Que injustiça!
Portugal não é bom não... Portugal é ÓPTIMO para algum empreendedorismo - pelo menos para o de alguns! À primeira dificuldade, o Estado (nós) financia(mos) sem preparação, sem estratégia, sem responsabilização, e sem respaldo - mas financia(mos) toda e qualquer fantasia, desde que não seja planeada ou responsabilizada!
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Ah! Já me esquecia, mas a mesma revista, Exame Informática, não me identificou a mim, como uma expert de nanotecnologia. Deve ter sido distração.... Ora vejam - melhor, ora oiçam - se tenho ou não razão, aqui (1). Quem disse isto foi um Professor de Food Science da Cornell University também muito considerada por muitos de nós, portanto, sou também uma nanotecnóloga encartada, há muitos mais anos (décadas) do que gosto de me lembrar... Por isso, Senhor Editor da Revista Exame Informática peça lá aos redactores do artigo que aqui identifiquei, para acrescentarem também o meu nome à lista... Obrigada!
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Gostaria muito de comprovar que efeito surtiria na estratégia das "autonomias" científicas dos nossos múltiplos e prolíficos institutos, centros, unidades, meios e entidades de investigação e de desenvolvimento, se o Senhor Ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior resolvesse declarar que, em Portugal - por causa do clima excepcionalmente favorável e da depressão em que entrou o sector nacional de produção primária - iria priorizar e incentivar a implementação de um Banco de Produção/Manutenção e Entreposto Internacional de Plantas Raras e dos seus Derivados (já que "Aves Raras" vamos tendo com muita fartura... ) usando ou não Nanotecnologia - atenção! que a ideia é "minha" - © Regina Nabais, 2006!
Ora o Senhor Ministro não disse já isto mesmo, em qualquer lado? Apostaria que a ideia poderia ser sua!
Não???? Não mesmo? Por favor, pense lá bem! Olhe, que disse...! Não disse? Mas, a mim dáva-me jeito que tivesse dito... E, sabem de uma coisa?, eu também não estive para me maçar a encontrar um investidor(es)/empresa(s) privados que corra(m) o risco para viabilizar essa "minha, mais que excelente" formidável ideia "tão inovadora" - quase inventiva... de forma que ...
Além disso, a "minha/sua/vossa(??) ideia" de colecionar e vender plantas raras e seus derivados é "mêmo muita boa", acima de tudo, porque muitas plantas raras, seus GMOs e respectivos derivados são mesmo patenteáveis (só na USPTO e JPO - na EPO é que não! Mas, também não tem a menor importância; quem se importa com patentes europeias?!)
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PS1 - Ora, comprovem lá o valor potencial da "MINHA" RICA IDEIA. É ou não catita?
PS2 - *A túlipa "Semper Augustus", por exemplo, deixou de existir por volta de 1634 mas, podemos sempre "nano-biotecnolizar" uma, se não a própria, outra planta qualquer tão valiosa quanto, ou ainda mais.... e, atenção, foi com a produção de tulipas raras que se iniciou na Flandres a corretagem internacional "no mercado de futuros" - Foram rudimentos de procedimentos comerciais europeus, como estes, que evoluiram nos "States" para estruturas de transações mundiais de "Commodities", tão importantes como a Bolsa de Chicago - 'tão a ver?;
PS3 - Se alguém me conseguir provar que existe mesmo viabilidade económica, ou pelo menos necessidade, para acrescentarmos mais outra entidade "para-pública" - o Instituto Ibérico de Investigação e Desenvolvimento - ao nosso claramente excessivo Parque de I&D, eu estarei na primeira fila a aplaudir a ideia; Lembro a todos que, em 24 de Fevereiro de 2006, num "post" deste mesmo "blog", que intitulei "menor que 100nm" afirmei e sustenho que sou totalmente a favor da co-incineração, dos alimentos e produtos geneticamente manipulados, da energia nuclear e, acima de tudo, da nanotecnologia - E ISTO É A PURA VERDADE;
PS4 - Para efeitos de comparação de procedimentos - nossos/europeus e os dos "States" - sugiro que vejam exemplos de como como se deviam estudar, planear e divulgar iniciativas, como estas, em: www.nano.gov/NNI_06Budget.pdf
PS5 -Tal como nos dizia Richard P. Feynman - que foi quem primeiro descreveu o conceito de nanotecnologia, logo no início da segunda metade do século passado - "o infinitamente pequeno é igualzinho ao infinitamente grande, só que com dimensões muito mais reduzidas"!
PS6 - Já não se usa, nem é necessária a simbologia que usei para efeitos de proteccão de direitos de autor da MINHA "Designação Banco de Produção/Manutenção e Entreposto Internacional de Plantas Raras e dos seus Derivados" - todos os países signatários da Convenção de Berne dispensam qualquer formalidade e protege a autoria até 50 anos após a morte do autor (olhem que eu sou demasiado durável) - mas dizem os entendidos que a simbologia é dissuasora de plágios, por isso ela fica e não se atrevam sequer a "pensar em copiar".
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A pergunta que me ocorre é: Haverá ainda alguma entidade ou alguém, em Portugal, que diga que faz investigação com financiamento público, sem declarar que tudo o que tem feito está "obviamente" correlacionado com a Nanotecnologia, depois de ter sido admitido, publicamente, que esse domínio é prioritário - leia-se susceptível de remota e hipoteticamente ter financiamento preferencial?
Claro que mesmo que o Ministro tutelar jamais tenha, de alguma forma, expressado esta preferência - subsiste, nas mentes dos nossos "investigadores/empresários", um Wishful thinking !
(1) - REF- Program #4421 of the Earth & Sky Radio Series, with hosts Deborah Byrd and Joel Block. Carl Batt, Liberty Hyde Bailey Professor of Food Science at Cornell University, Director of Cornell University’s Ludwig Institute for Cancer Researchand Co-Founder, Main Street Science. Ithaca, New York

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