segunda-feira, junho 19, 2006

Em comparação, estilhaços de vidro não são perigosos

Por causa de um alerta num post do blog "Que Universidade?" [1] resolvi ler, os seguintes artigos:
Diário de Notícias:"Alunos copiam mais nos países mais corruptos" de Elsa Costa e Silva André Carrilho e "Europa de Leste no topo da cópia, nórdicos exemplares".
Público:"Ligação entre cábula e corrupção estudada em 21 países. Estudo mostra que maioria dos universitários portugueses admite copiar" 18.06.2006 - 10h26 PUBLICO.PT.

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Mesmo desconhecendo o trabalho original, que penso ter sido subscrito por Aurora Teixeira e Fátima Rocha da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, e circunscrito a alunos de Economia e Gestão, aceito como fiáveis e generalizáveis todas as suas supostas conclusões - no fundo todos sabemos que, de um modo geral, os alunos/humanos têm tendência natural para a batota - mas, esta propensão acaba por não se mostrar rentável, a longo prazo.
Sou talvez demasiado fundamentalista em relação aos valores primeiros que se atribuem, ou não, à Educação a qualquer nível; assim, não me choca, absolutamente nada, o facto da maioria dos alunos admitirem que copiam, o que verdadeiramente me incomoda é vivermos numa sociedade em que sistematicamente se valoriza a esperteza saloia e os "bons" resultados finais derivados (eventualmente, vantajosos do ponto de vista individual), e não a criação de atitudes responsáveis, fortalecimento da ética e da noção do esforço necessário ao real equilíbrio do ser humano.
O que me assusta mesmo é não termos sequer consciência da fragilidade da formação que estamos a proporcionar aos nossos jovens; "chico-espertos", desonestos e "corruptos" não são muito populares em meios verdadeiramente competitivos. A pergunta que deixo, para mim mesma, é se as nossas instituições de ensino, em especial, as que se dedicam à Educação Terciária não se preocupam nem assumem qualquer responsabilidade em garantirem aos seus formandos a aquisição de atitudes de integridade e de auto-controlo; por exemplo, quantas das nossas instituições de formação superior, custeadas por recursos públicos, serão dotadas de Códigos de Ética para formandos e colaboradores?

A nossa indiferença institucional perante demonstrações de tais incompetências transversais, da natureza das descritas nas publicações mencionadas, que nos envergonham a todos, para além de me parecer um flagrante consentimento e incentivo à desonestidade, sugere-me questões de outro nível:
1 - Que andarão os alunos a aprender nas nossas instituições, que lhes possa merecer deles tanto gasto de tempo e de todos nós bastante sacrifício, considerando um investimento público apreciável, para os nossos baixos recursos, quando ninguém se preocupa com requisitos essenciais à dignidade desses mesmos alunos?
2 - Será que se mantêm alunos nas nossas instituições, apenas porque os custos médios unitários anuais da "formação" são inferiores aos da manutenção anual de presidiários de delito comum?
3 - Como escandalizarmo-nos ou reclamarmos da corrupção que campeia, quando consentimos uma formação humana tão despiciente dos nossos jovens?
4 - Que nos valha a globalização porque, comparando os efeitos gravosos de tudo o que não somos capazes de fazer em matéria educativa pelos mais novos, qualquer vampiro é vegetariano.

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