A tirania dos números...too high, too far, too soon!
Lembretes, como sempre, para mim indispensáveis, de Virgílio Machado do blog "Por Educar" e de J. Cadima Ribeiro do blog "Universidade Alternativa", suscitaram e aguçaram-me a curiosidade de ir espreitar uma publicação ainda considerada como um Documento de Trabalho, pelos seus autores, que integram o do NIPE (Núcleo de Investigação em Políticas Económicas) - Miguel Portela, Nelson Areal, Carla Sá Fernando Alexandre, João Cerejeira, Ana Carvalho, Artur Rodrigues - intitulada "Regulation and marketisation in the Portuguese higher education system" - NIPE WP 11 / 2007.
O referido trabalho dedica-se a um dos mais importantes e discutíveis temas do nosso sistema regulador de ensino superior - os famosos "empecilhantes e tirânicos" "numerus clausus" - e mereceu, da minha mais que intrometida pessoa, algumas reflexões: umas muito positivas mas, como tudo neste mundo, outras nem tanto.
A minha apreciação do esboço de trabalho, por motivos que julgo óbvios, é muito geral, mas penso que os próprios autores lhe atribuem a classe de um "work in progress". Na verdade esta estrada é longa, o caminho deserto, e... o lobo mau anda aqui tão perto".
A minha apreciação do esboço de trabalho, por motivos que julgo óbvios, é muito geral, mas penso que os próprios autores lhe atribuem a classe de um "work in progress". Na verdade esta estrada é longa, o caminho deserto, e... o lobo mau anda aqui tão perto".
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I - Pontos muito positivos do trabalho - considerando o tema:
1 - É enxuto (não tem palha), conciso e destingue-se por ser quantitativo, por isso, tem uma ancoragem de conclusões que eu classificaria de quase boa.
2 - Foi, para mim, muito interessante na medida em que inclui , pela primeira vez publicado em Portugal, o cruzamento de indicadores muito pertinentes. Apreciei, principalmente, o indicador de dispersão porque nunca tinha pensado numa coisa como essa, e pode tornar-se muitíssimo importante para, num futuro, se definir qual o subsistema (ou em que condições) se deve ter um indicador de dispersão maior ou menor.
I - Pontos muito positivos do trabalho - considerando o tema:
1 - É enxuto (não tem palha), conciso e destingue-se por ser quantitativo, por isso, tem uma ancoragem de conclusões que eu classificaria de quase boa.
2 - Foi, para mim, muito interessante na medida em que inclui , pela primeira vez publicado em Portugal, o cruzamento de indicadores muito pertinentes. Apreciei, principalmente, o indicador de dispersão porque nunca tinha pensado numa coisa como essa, e pode tornar-se muitíssimo importante para, num futuro, se definir qual o subsistema (ou em que condições) se deve ter um indicador de dispersão maior ou menor.
3 - Os próprios autores reconhecem a necessidade de aprofundar o assunto. A respeito deste ponto, não poderia concordar mais com eles.
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II - Pontos do trabalho, com os quais não me identifico de forma nenhuma, até porque interferem com as potenciais conclusões:
1 - A utilização para a classificação de formações, usada no trabalho, de uma chave organizativa justificada apenas por se tratar de "Most higher education institutions offer study programmes in several fields of study, which the Ministry of Science, Technology and Higher Education (MCTES, Ministério da Ciência, da Tecnologia e do Ensino Superior ) classifies in ten areas: agriculture, architecture, natural sciences, law and social sciences, economics, sports and arts, education, humanities, health, and technology "- páginas 3 e 4. Como esta classificação não tem fundamento, e não é precisa, o resultado do trabalho é assim estranho, por exemplo, para a Região Centro, refere oferta de 40 vagas, em 2006, em "agricultura" na Universidade de Coimbra (pág. 9), que não são declaradas, pela Direcção Geral de Ensino Superior nas formações disponíveis em "agricultura e recursos naturais", nos pares de estabelecimentos-cursos de 2006.
Os autores não justificam os motivos porque, preferiram um classificação "ad hoc", e não utilizam, para o seu trabalho que até já divulgaram, UMA Classificação das formações, com elementos consistentes, e devidamente publicados pelo Observatório da Ciência e Ensino Superior, um deles de reconhecimento internacional (ISCED) ver em:
2) Também discordo das premissas redutoras: "The Portuguese higher education system extensive regulation, affecting both sides of the market, poses important barriers to the freedom of consumers (students) and suppliers (institutions). On the supply side, new institutions, study programmes and places offer are subject to ministerial approval, and higher education providers cannot freely choose the amount to be charged as tuition fee. On the demand side, students do not bear the full cost of the education they receive, they are poorly informed consumers and numerus clausus are a very strong restriction on the applicants’ choices."
Na verdade, do lado dos clientes, "o mercado" de ensino superior público, para mim, não podem ser os estudantes, em si ou as suas famílias, individualmente; neste "mercado", os clientes são/é a sociedade em geral. E com isto isto, quero dizer que a satisfação de clientes não deve ser procurada na aceitabilidade dos alunos pela oferta caótica de formações, mas na efectiva mais valia para a sociedade, e que se deve traduzir pelo mercado de trabalho na conclusão da formação, e pela contribuição dos cidadãos, estudantes envolvidos, para o desenvolvimento sustentável (não sustentado) do país.
3) Também não estou de acordo com a vossa fonte da afirmação: That is, "public polytechnics had strong regional orientation [...] and were always regarded as the primary instrument for providing higher education to the more remote areas of the country (MCTES, 2006: 55)". Era só o que faltava! Numa época de globalização?
Desculpem-me mas, mais do que nunca já, e a partir de agora, será mais frequente: uma pessoa qualquer, até do politécnico, estudar hoje aqui e, amanhã, estudar e/ou trabalhar, lá muito LOOOOONGE, por exemplo, desde o norte da Islândia, na Selva Amazónica e na Tasmânia! Acreditem-me! Portugal é que está, FELIZMENTE, e à custa do subsistema politécnico a ficar desprovido de regiões "remotas" (seja lá o que isto for, para Portugal, hoje em dia).
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III - Recomendação especial:
Penso que seria interessante, os autores referirem, com muito maior precisão os documentos de origem das informações porque, como sabem, são muito diferentes os números referentes a: 1) Candidatos 2) Matriculados (inscritos pela primeira vez, no primeiro ano) 3) Inscritos nas formações.
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Termino a entrada de hoje, a respeito dos "numerus clausus", enquanto oiço os Waterboys - The Whole Of The Moon. Penso ser apropriada parte da letra da faixa, ao título deste post, que tomei de empréstimo e rasurei, para adaptar:
"...
You came like a comet
Blazing your trail
Too high
Too far
Too soon
You (saw) haven't seen the whole of the moon"
4 Comentários:
Cara Regina Nabais,
Não fosse a informação não lhes chegar, alertei os autores do WP para o seu comentário.
Ser-lhes-á útil lê-lo.
Tenha um fim-de-semana sossegado(na medida em que a agitação que vai pelo Conselho de Ministros, por estes dias, lho permitir).
J. Cadima Ribeiro
Olá J. Cadima Ribeiro. Obrigada pela difusão. Este beco não é lá muito popular. :))
Em relação ao Conselho de Ministros de repente (melhor, outra vez) "devotado" ao Ensino Superior, sinto-o tal qual como me avisa: "...'eles' andem por aí!"
Apenas uma nota muito ligeira sobre a questão «importante» do que é ou não é CLIENTE do E.S.
Recentemente, observei nos escritos de Alberto Amaral a mesma fixação no cliente=aluno. Obviamente, o cliente=sociedade deverá ser um parceiro importante e decisivo na abordagem que o E.S. deve fazer obrigatoriamente ao futuro de todos nós.
Obrigada pelo seu esclarecimento adicional Alexandre Sousa.
Com o devido respeito por todas as outras opiniões em contrário, e salvaguardando o facto que as preferências dos alunos/famílias são um factor importante e a considerar é, para mim, evidente que não podem constituir o perfil "cliente" - basta estar-se envolvido, mesmo que MUITO remotamente, com um sistema de gestão da qualidade de educação para o sabermos.
Aliás, o devido esclarecimento da identificação-caracterização do "mercado do ensino superior" deveria ser prioritário, e preceder tudo o mais, para que em vez de gestão de conflitos possamos passar a contribuir e a colaborar com os interesses do país.
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