domingo, abril 29, 2007

Dois mapas muito antigos e bússola desmagnetizada

O nosso muito ilustre Alberto João não nos diria melhor, mas é assim mesmo, que também me sinto:
"Eles" estão fartinhos de trabalhar (1) e de me atrapalhar!
Efectivamente, trabalham muito, não sei porquê, trabalham sem pensar ou, muito pior, atrevem-se a pensar que todos os outros são um bando de rematados idiotas só porque, eventualmente, a maioria não é doutorada, mestre, licenciada, bacharel ou outra coisa qualquer que o valha... Refiro-me, naturalmente, ao trabalho incansável da nossa tutela do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia.
Como, tanto quanto se sabe, os trabalhos "projectados" são/serão pagos pelo erário público, senti-me à semelhança dos restantes contribuintes residentes, transformada, à força e de um momento para o outro, em "busines demon" totalmente ileterata e despreprada para opinar sobre o assunto.
Por isso, para não pular para conclusões precipitadas, resolvi averiguar como é que conceituados investidores de risco (dos verdadeiros) seleccionam os seus investimentos e, depois de ler por aqui, por ali, e por todos os lados, descobri que, em síntese, é assim: para um "business angel" investir num empreendedor (aqui o MCTES) e num plano de negócio (coisa mais antiga, que só esta...mas, neste caso, nem isto foi ainda feito) há que acautelar, previamente, as respostas (Re) às seguintes questões:
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1) Existe uma necessidade não satisfeita?
Re: Não me parece! Há já cerca de 12,000 Doutorados, e 10,000 são pagos/as por Orçamento de Estado. Só 250 (serão 250?) estão em empresas privadas (serão empresas privadas?). As empresas em questão precisariam de ser bem analisadas. Para mim, por exemplo, empresas como EDP, REFER, GALP, REN, PT e quejandas não contam! - "jointventures" com mercados garantidos, por monopólios (ou perto disso) até ver, não são empresas PRIVADAS!
Precisamos então de mais doutorados, a custos de MIT/Austin Texas/Harvard/Carnegie Mellon, etc? Penso que não!
2) Têm a solução?
Re: Não me parece, porque se não, não se contratariam serviços avulsos de "subcontractors" tais como do MIT/Austin Texas/Harvard/Carnegie Mellon, etc., etc...
3) Estão qualificados para tal (equipa e tecnologia)
Re: Não me parece, porque caso contrário, não partiriam para "outsourcing" do MIT/Austin Texas/Harvard/Carnegie Mellon, etc., etc...
4) O mercado existe e é vasto?
Re: As nosssas empresas privadas não têm ainda essa capacidade - 99,5% são PME, devotadas à produção de baixo valor acrescentado.
Precisam estas de mudar? Sim e com urgência! Invista-se nestas mudanças, mas não se invista por cima, por baixo e ao lado! (ver também, texto em itálico, deste post).
5) Têm vantagens competitivas?
Re: Aqui sim, a equipa (MCTES) faz só o que lhe apetece, quando lhe apetece, como lhe apetece! Vive em MBO (Management buy-out) absoluta, sem precisarem de assegurar "Liability".
6) Têm uma boa estratégia de desenvolvimento?
Re: Não publicitaram nenhum planeamento, por isso, desconheço a eventual existência de um plano estratégico! O badalado Plano Tecnológico não vale! Para mim, está muitíssimo mal feito, e isto qualquer um pode provar - trata-se de uma mera piedosa descrição de intenções políticas de outra tutela (ou, vai-se a ver, pode ser da mesma tutela=origem).
7) Irão criar valor para o accionista?
Re: Sendo eu co-accionista, embora me contente só com valores intangíveis desde que pormenorizadamente descritos, verifico que, tirando alguns poucos beneficiados a título individual, e ainda por cima a prazo (quantos, no total, e em números redondos? Uns 5.000?), penso que não eu nem os co-financiadores (restantes cidadãos), beneficiarão de qualquer valor, até me provaram o contrário, desta "inoperative" metodologia de "head-hunters do futuro".
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Pergunta adicional: Garantem, com estas medidas/investimentos um lucro líquido anual MÍNIMO de, pelo menos, € 12.500.000,00?
Re: Demonstrem! Pelo menos demonstrem, como ao menos pensaram nisto!
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Para mim, é insuficiente a seguinte opinião (que transcrevo) - em tempos não devidamente datados, como é de uso - emitida por um conhecido director de um centro de investigação, quando assim questionado "E qual o papel que os privados podem desempenhar? É necessário estreitar as relações entre as empresas e a I&D, com um aumento do esforço financeiro, como sucede noutros países? ":
"É um assunto muito recorrente a ligação às empresas, mas não podemos exigir mais às empresas do que lhe podemos pedir. Diria que o mercado é inteligente; se as empresas não investem mais é porque não sentem essa necessidade.
O que observamos no mundo ocidental, norte da Europa e EUA é que o esforço considerável em ciência não vem das empresas, continua a vir do domínio público. Não nos iludamos - as universidade não são financiadas pelas empresas. Temos dois grandes sistemas e os EUA mostram que o crescimento do sistema privado foi construído à base de um sistema público muito forte que se solidificou durante várias décadas. Mas não pensemos que há uma grande transitabilidade de fundos ou de bens entre eles; os sistemas são cada vez mais diversos e isso é muito importante.
O grande erro é dizer que não é preciso aumentar mais o público, o que é preciso é aumentar o privado. São coisas completamente diferentes. o que se financia pelo sector público não tem nada a ver com o sector privado. O tipo de investigação e a forma de fazer investigação são cada vez mais diferentes e um não substitui o outro; temos que actuar nos dois e sabemos que de um modo geral o privado vem sempre atrás do público. A questão das empresas é crítica mas não pode ser usada como desculpa para reduzir o investimento público porque são assuntos radicalmente diferentes e têm que ser tratados de forma diferente. O que os empresários precisam é de uma estrutura de incentivos que lhes permita evoluir da actual estrutura de produção para uma estrutura de inovação".
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Posto isto, sem muito mais informações, ou explicações, vejo o futuro deste "Plano de Negócio" assim:
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Confesso que não estou nada motivada para um investimento de risco nacional, a prazo, com uma visão destas! Não me vejo como "stokeholder" de um empreendimento nestes moldes; é certo que o "shareholder value" é muito pequenininho; mas a mim, e a uma larga maioria de contribuintes portugueses custa-nos muito a ganhar sequer a própria subsistência básica, sobretudo - quando em permanente regime de "troubleshooting" e até essa também pode estar ameaçada de "outplacement"!
Nestas condições, de "overspending", acreditem-me, não passo voluntariamente, cheques em branco, a ninguém!
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(1) Governo lança Concurso Internacional para a contratação de 1000 investigadores doutorados (20 de Abril); Valorização económica do conhecimento científico - cooperação com a Sociedade Fraunhofer (18 de Abril); Portugal inicia colaboração com Harvard na área dos conteúdos médicos (16 de Abril); Participação de Portugal nos Programas Europeus de I&D (7º PQ) (16 e 17 de Abril); Encontro com os Laboratórios Associados (12 e 13 de Abril), etc., etc.

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