Os avessos de desabafos e "bafos"
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No entanto, que fique muito claro, que eu penso que os referidos professores, por natureza, palavrosos e pouco acanhados, fazem muito bem, em aproveitar qualquer pitada de publicidade gratuita, especialmente, quando ainda adicionam de lambuja uns pontitos mais na sua politicazinha institucional caseira.
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A título de exemplo do acabo de dizer, este "post" é apenas o primeiro, que irá tentar comentar algumas das afirmações do Senhor Professor João Gabriel da FCTUC da Universidade de Coimbra - que os leitores deste blog encontram aqui, e que é mencionado no post, imediatamente anterior, neste mesmo blog.
Um segundo "post", sobre o mesmo tema, também divulgará a posição de um empresário, a respeito ciência, tecnologia e inovação nacionais e que, a meu ver, responde muito bem, e esclarece algumas questões colocadas pelo mesmo Professor - a que eu, só para fingir que sou educadinha e controlada, chamarei das usuais perplexidades universitárias, incluindo as sempre citadas problemáticas do papel higiénico.
Claro que deixo, aos leitores deste blog, o texto original para vossa verificação, mas por absoluta falta de tempo (para o que lhes peço compreensão) vou comentar o texto, focalizando a atenção nas perguntas da jornalista (P), nos trechos das respostas do professor (R) que me deixaram absolutamente siderada e, se possível, o motivo (M) que me leva ao estado de quase choque:
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P: Bolonha aparece, normalmente, mais referenciado como o encurtar dos cursos. Mas não é só isso. No que diz respeito à FCTUC, o que é mais importante?
R:..... A menos que haja um desastre económico, vai haver um número crescente de alunos a ir para o estrangeiro. Portugal vai transformar-se naquilo que muita gente diz que é um liceu do ensino superior. É claro que a internacionalização dificilmente se vai verificar a nível, por exemplo, do ensino politécnico. .....
M: Parece ser objectivo europeu, grantir - a todos os seus mais do que 450 milhoes de cidadãos, dos 27 estados membros - precisamente a mobilidade e livre circulação de pessoas, bens e serviços, porque haveria de ser, precisamente, o subsistema politécnico a ter maiores dificuldades? Não percebi o fundamento!
Por outro lado, conheço instituições politécnicas em que muito perto de 10% dos seus alunos são estrangeiros; para não falar no financiamento e prémios internacionais que auferem. Por isso, não percebo bem as dificuldades especiais do subsistema, para a internacionalização, referidas pelo Senhor Professor. O que penso é que o Senhor Professor desconhece o subsistema! Se assim for, se eu fosse ele, calaria a minha boca. Mas, opções são opções....
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P: Bolonha acaba por criar licenciaturas de três anos. Justifica-se a continuidade do ensino politécnico?
R: Justifica porque há duas missões diferentes para estes cursos de licenciatura e é preciso que as pessoas entendam que o significado de licenciatura mudou. Aquilo que se designa tipicamente por ensino superior curto - o bacharelato ou o um primeiro ciclo - e que é a missão dos politécnicos, que se destina a formar pessoas com objectivos profissionalizantes imediatos.
M: Mas quem se julga ser este Senhor Professor universitário para se auto-permitir a definição da missão de instituições que desconhece? E também se o primeiro ciclo for, como ele diz, reserva de missão dos politécnicos, porque estão TODAS as universidades a leccionar este primeiro ciclo? É que nada nem em nenhuma documentação oficial europeia de todo o Processo de Bolonha, à excepção da nossa legislação nacional, não se vislumbra a mais pálida ideia de diferenciar "tipos" de formação de primeiro ciclo, nem de qualquer outro nível. Isto de tipos de formação, é uma das nossas variegadas criações, absolutamente, IDIOTAS e, sobretudo, não fundamentadas.
A ideia europeia é mesmo facilitar a mobilidade a TODOS e não prevenir mobilidade de alguns dos seus cidadãos. Por isso, não percebi o Professor, mas o Professor não parece estar interessado em que o percebam, desde que SUA mensagem passe...
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P: Mas essa diferença não está a passar para a camada mais jovem a quem cabe a responsabilidade de escolher...
R: Infelizmente não e eu acho que muito por culpa dos politécnicos. Genericamente, os politécnicos sempre tentaram evoluir até chegar a universidades. Acho que isso é um erro crasso e considero que o ministério tem tido uma orientação correcta nessa questão. Essa tentativa de aproximação dos politécnicos às universidades tem dois inconvenientes principais: fará com que os politécnicos a serem universidades só serão universidades de segunda. O grande déficite de Portugal é no ensino curto profissionalizante. Ora, se os plitécnicos tivessem essa clarividência - e a maioria não tem - estariam a apostar nessa faixa de mercado que tem um potencial de crescimento enorme e que o país precisa. Enquanto eles continuarem enganados a quererem ser universidades, serão sempre universidades de segunda e não servem o país.
M: Interessante este pensamento cristão da "culpa", mas o que penso que se passa é que as nossas universidades querem manter o seu estatuto de universitário, sobretudo, incluindo os seus especiais e preferenciais financiamentos e "status quo", mas para fazerem apenas, e só, o que pareceria ao país ser trabalho exclusivo de politécnicos - ex: transferência de tecnologia para empresas (sobretudo as PME), leccionarem tipos e níveis de formação, de públicos especiais, etc., etc., passando assim não os politécnicos a serem universidades de segunda, mas sim as universidades a serem simples politécnicos/liceus de ordem n - só que muito mais caras para prestação de um mesmo serviço - para os portugueses custearem. Mas já todos estamos habituados, e penso que até gostamos muito disso...
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P: Uma das grandes batalhas tem sido os cortes orçamentais. Até que ponto esses cortes vão afectar a sobrevivência de uma faculdade como esta?
R:É sabido que os cortes não facilitam nada. Mas por outro lado também podem ser uma ajuda para fazer as tais mudanças necessárias à própria evolução. É que as dificuldades financeiras tornam todos muito mais abertos à mudança porque sentem que não há volta a dar. Porque de facto estamos atrapalhadinhos para comprar papel higiénico, mas toda a gente percebe com grande nitidez a necessidade de mudar. E a alternativa é: ou deixam-nos arrastar e vamos ao charco ou aproveitamos isto e vamos cheios de força e conseguiremos enfrentar e até dobrar as dificuldades. Mas reconheço que há instituições que estão a fazer coisas muito erradas.
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Todos nós temos problemas com o número de alunos. E podemos resolver essa questão pela boa via ou pela má via. E primeira é nós sermos uma instituição de qualidade e conseguirmos atrair um número crescente de estudantes. Podemos ir pela via baixa, como muitos politécnicos fizeram, nomeadamente o Instituto de Engenharia que varreu a matemática das engenharias. Isto não é via. Eu respeito as opções deles mas só posso discordar profundamente. Admite-se que um estudante de engenharia - e quando os politécnicos sempre quiseram equiparar-se às universidades - entrem sem matemática.
M: Percebo que pode dar jeito a todas as instituições que os seus alunos, à entrada, detenham melhores formações. Mas o bom trabalho educativo de uma instituição, e a qualidade do mesmo estão muito mais relacionados com a sua capacidade de produzir um bom profissional, ajustado ao mercado, a partir de um aluno menos bem formado, do que parece ser o ideal do Professor João Gabriel, que poderá ser até o inverso?
R: ... Alguém percebe que um engenheiro não precise de matemática?
M: O Professor tem toda a razão - um engenheiro, QUALQUER UM, precisa mesmo de saber matemática! Assim - para um CANDIDATO a FUTURO engenheiro pode dar muito jeito à instituição e ao próprio candidato que este saiba matemática, à entrada do sistema; mas, o que o formando de engenharia precisa mesmo é de saber matemática, à saída da instituição, e não o inverso, como se pode deduzir da lógica do professor. Por outro lado, sendo desejável, que um candidato a engenharia saiba matemática, à entrada do sistema de aprendizagem, deve ser a tutela a impor a condição, e a tutela também sabe que, assim, reduz a apenas 25% os candidatos actuais às formações em engenharia e, a meu ver, foi só por isso que não tomou decisões no sentido desejável, deixando as instituições em roda livre, para as suas próprias opções. Faz bem a universidade que quer ter menos trabalho exigir "notas" de matemática à entrada de um curso de engenharia, se bem que as notas pouco garantem os conhecimentos, mas lá que é uma espécie de seguro, disso não tenho dúvidas; e estão muito certas todas escolas de engenharia se optarem por receber estudantes sem nota a matemática, e que só os deixem sair quando reunirem as competências e os resultados de aprendizagem necessários, à sua formação. A propósito, não percebi, pela entrevista, as exigências expressas em Resultados de Aprendizagem, que a instituição do Professor preconiza, se calhar por ser universitária nem precisa dessas minudências resolvidas, basta-lhes a sabedoria dos professores.
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P:...Para além dos cortes orçamentais, qual é a sua principal dor-de cabeça?
R: É, sem dúvida, a competição internacional. A grande preocupação que temos que ter é que ou o ensino superior português, e a Universidade de Coimbra em particular, se consegue afirmar internacionalmente ou vai ter um destino pouco brilhante.
M: Pois é verdade mesmo, como cidadã, eu espero que estas dores de cabeça deste Professor permaneçam e se agravem MUITÍSSIMO, até ele, e todos os outros como ele, conseguirem perceber que os competidores das Universidades Portuguesas são e devem ser mesmo e só as Boas Universidades nacionais ou estrangeiras, e não o subsistema politécnico. No caso da Universidade de Coimbra, e no lugar dele, eu não faria nada por menos de Oxford, Sorbonne, Harvard, UTA e essas... e a coisa que não me mereceria qualquer atenção seria mesmo o subsistema politécnico nacional, por falar nisso, também jamais falaria no MIT (politécnico).
Efectivamente, não temos as universidades que precisaríamos.
Mas que podemos nós fazer? Dêmos-lhes tempo!...
Pode ser que um dia...quem sabe?
1 Comentários:
TESTE...
Já tentei deixar 2 comments, sem sucesso.
Vamos testar +este.
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