terça-feira, novembro 28, 2006

POR FAVOR, tirem-me as facas e escondam o meu cachimbo de palha

Por absoluta falta de paciência para com a Jornalista Fatima Campos Ferreira - porque ela fala mais do que a boca, modera de menos, esgoela-se exageradamente perante alguns participantes e, sobretudo, porque não estuda bem os temas que pretende sujeitar a discussão (como exemplificarei) - não sou telespectadora do programa "Prós e Contras" da RTP.
O defeito é, exclusivamente, meu, e tenho feito muito mal - é que, foi graças à sessão de ontem deste programa que, finalmente, compreendi e aceito sem hesitar algumas das motivações dos "serial killers", aguçando a minha sensibilidade para este tipo de problemas sociopatas; vou-lhes contar porquê:

Começo pelo título do tema do "Prós e Contras" de ontem - "O futuro do ensino superior", o mote das perguntas mais frequentes sobre o tema [ "Quem manda no Ensino Superior? Quem o avalia? Como é acreditado? O que significa hoje a autonomia das Universidades? O que pensam os professores e os alunos?....Que futuro para o Ensino Superior em Portugal?"] e o estranhíssimo e exótico leque dos intervenientes seleccionados pela produção e a ordem em que os cito não é arbitrária - A Jornalista; o Ministro da Ciência Tecnologia e do Ensino Superior, o Senhor Reitor da Universidade de Lisboa, o Presidente do CRUP, o Professor Moniz Pereira, sortidos Senhores Reitores das Universidades Portuguesas (nas filas da frente do auditório), o Senhor Presidente do CCISP (de raspão e por ali). E, como convidados (?), o Senhor Professor Adriano Moreira e três presidentes de associações de estudantes universitárias, penso que apenas um deles era presidente de uma federação - é que para discutir, imparcialmente, o tema não foram chamados a intervir pela Senhora Jornalista, e equitativamente, os representantes do ensino superior. Porquê? Distracção? Simples má preparação do debate? Ou, instruções coercivas? Qualquer das alternativas desvalorizou-lhe muito o esforço e o gasto do seu decidido transito pelo auditório.

Para além do Senhor Ministro que, pressupostamente, deveria expressar os diversos subsistemas, foram chamados, melhor, foram autorizados a seu gosto, pela Senhora Jornalista, a intervir no debate, apenas um representante das universidades públicas - o Senhor Presidente do CRUP e uns dois professores que não percebi o que representavam ali, a não ser - a sua universidade, no caso do Reitor da ULisboa ou, quanto muito, a si mesmos. Não percebi o destaque dado pela produção a estas duas figuras - mas isso é ignorância minha - e de qualquer forma o que este conjunto não representou de forma nenhuma, e ainda bem, foi o Ensino Superior Português, como se segue:

Número total de alunos inscritos e (%) no ensino superior em 2004/2005:
Ensino Superior Particular e Cooperativo Politécnico: 31 507; (8.43%)
Ensino Superior Particular e Cooperativo Universitário: 56 635; (15.15%)
Ensino Superior Público - Militar e Policial Politécnico: 356; (0.10%)
Ensino Superior Público - Militar e Policial Universitário: 1 352; (0.36%)
Ensino Superior Público Politécnico: 107 962; (28.88%)
Ensino Superior Público Universitário: 165 866; (44.36%)
Universidade Católica Portuguesa: 10 213; (2.73%)
Número de docentes no ensino superior público:
7 892 no Politécnico, e 12 549 nas Universidades.

Na prática, entre várias atitudes da Senhora Jornalista que não me pareceram a propósito, ela ordenou ao Senhor Presidente do CCISP que calasse a boca para não fazer o programa perder tempo, quando ele tentou iniciar, e muito bem, a sua explicação sobre a representatividade do subsistema politécnico, e das dificuldades do subsistema em aderir, por exemplo, a Projectos de investigação - teria toda a razão em chamar a atenção para esses aspectos - e basta dizer-se (porque ele não teve oportunidade) que, em cada ano, apenas uma média de 5% do financiamento atribuída pela FCT a Centros de Investigação é dirigida a 8 centros de politécnicos (num universo astronómico de 466 centros-em 2006) dos quais apenas dois têm classificação de excelente (classificação essa, já antiga - 2003). Ou seja, penso que ele iria dizer que, depois de ter sido um subsistema sistematicamente preterido, neste campo, nos últimos dez anos, seria difícil adaptar-se ao necessário incremento da comparticipação privativa para o sustento básico da larga maioria das escolas/instituições do subsistema - mas a Senhora Dr.ª Fátima cortou-lhe as vazas! Quanto a mim, o Senhor Presidente do CCISP até foi muito corajoso, por mim, teria deixado ali o pessoal a falar sozinho sobre os 44% do ensino superior.

A Senhora Jornalista também "se esqueceu" que existem associações e federações politécnicas de alunos e, por isso, decidiu que se ouvisse a opinião de parte dos alunos de ensino superior - os outros alunos não têm voz, por isso... preferiu ouvir um Presidente de uma pequena associação de estudantes de médicos dentistas (que até esteve muito bem) do que dar trela, por exemplo, a opinião de uma Federação Nacional das Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico (em representação de cerca de 100,000 mil alunos).

Perante o programa propriamente dito, tenho a salientar a generosidade do canal público, porque viabilizou, gratuitamente, propaganda institucional e pessoal do Senhor Reitor da Universidade de Lisboa (pensei que ele já fosse mesmo reitor, mas deve ainda estar em campanha, ou actua por inércia....): "a minha universidade anda a estudar 'para Bolonha', já desde 1998" (só 9 anitos de atraso), "o meu centro de investigação que, por acaso, até é "excelente"..., "há muito que EU digo isto e aquilo..."a internacionalização" de que EU sou fã..."....e patati,... patatá...", "EU defendo a aplicação do mesmos pesos e da mesmas medidas"..., e.... "o Senhor Ministro, que é o responsável, pelas políticas, não fez nada"! (deixando ao povão depreender, que ninguém mais tem nada a ver com isso - A culpa é TODA SÓ DELE!!!). Deus me livre e guarde de desatar (agora) a defender o MCTES - mas tenho, a respeito destas frases, já ditas para o jornal Público de ontem, que dizer "Pudera!". Os seus MAIS DIRECTOS CO-RESPONSÁVEIS PELA TOTAL AUSÊNCIA DE POLÍTICAS VIGENTES NA EDUCAÇÃO TERCIÁRIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA NACIONAL, eventual e hipoteticamente, também os mais próximos cooperadores, só reclamam das próprias desgraças institucionais e de orçamentos, ou da falta de critérios para se estabelecerem financiamentos e protocolos do MIT, da CMU da UTA, e de TUDO! É que: "mais vale só do que....".
Então meu Senhor (Reitor), e em tudo o mais em que houve falta de critérios? - vou insistir neste blog - E, a Atribuição de Financiamento para OTICs (~250,000 Euros em três anos/instituição "premiada por nada") e a Atribuição de Financiamento para as avaliações institucionais pela EUA (30,000 euros por instituição "premiada por nada") - aqui houve critérios? Também não houve! No entanto, não vi nenhum dos Senhores Professores ali presentes, enquanto beneficiados institucionais reclamarem da falta de transparência desses e de muitos outros processos; só os vejo agora "arengar" sobre critérios, porque também só agora o MCTES entendeu que os seus interlocutores para os protocolos internacionais seriam alguns dos centros de investigação e não as universidades - mas se acharam assim tão mal essa metodologia do Senhor Ministro, porque é que correram todos a assinar os protocolos? Questões de protecção de DNA reitoral? Sabem que uma "E. coli" não faria pior em prol de um seu plasmídeo?

Aliás, nunca vejo esses Senhores, realmente, preocupados em sugerir ao país, por exemplo, uma proposta de redacção mais adequada de lei de autonomia, ou de Estatuto de Carreiras Universitárias (e, já agora, também de Carreiras Politécnicas, Senhor Ministro) um organograma eficiente de governação das instituições, um projecto de rede para o ensino superior, uma estrutura global do contingente das diversas formações superiores que considerem mais pertinente, um plano integrado para concurso a projectos internacionais que permitam ao sistema reforçar a componente financeira externa da investigação, dos míseros 5% em que se tem situado,...etc., etc..., etc..
Falaram que fizeram uma lista de designações de cursos, lembram-se dela? Por acaso até me lembro e, francamente, até dei razão ao senhor ministro - estava muito incompleta, muito mal feita e deixava o verdadeiro problema - excessiva oferta de formações e de vagas - totalmente, fora da órbita de resolução!
_____________________
Por este andar, vou acabar por concluir que Portugal não precisa de um ministro destas pastas, precisa é de um ou mais arcanjos/santos de topo hieráquico da carreira celestial.

Quanto ao programa, não mereceu a pena a noitada, só serviu para me irritar muito e com todos eles menos, é claro, com o Senhor Professor Adriano Moreira - a quem invejo a paciência para as trapalhices e aselhices, e com os alunos - com quem partilhei as dúvidas e incertezas com que, certamente, todos ainda ficámos.
Falando nisso, hoje, fico por aqui! Antes que saia, por aí, fumando o meu cachimbo de palha (pé de guerra de algumas tribos indígenas - Piauí e Paraíba) e, por favor, escondam-me as facas!.

2 Comentários:

Blogger LN disse...

Notei o nome no MJMatos. E reli-o no JVC. Vim até cá. Hesito em deixar «pégada» mas gostei dos 44%. E da veemência.

quarta nov. 29, 01:40:00 da manhã 2006  
Blogger Regina Nabais disse...

Ora ln, fez bem em ter passado aqui, não hesite, volte sempre, e obrigada.

quarta nov. 29, 07:21:00 da manhã 2006  

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