terça-feira, dezembro 08, 2009

"spooky action at a distance"

Hoje, passei e entrei, num mercadinho cá da terra (no seu todo, não terá 100 m2) e aterrorizei.
Acreditei que tinha sido abduzida e teletransportada para uma outra dimensão espaço-tempo. Cheguei a temer, com os meus botões, que não tinha comigo, sequer, o meu passaporte...
A gerente da vendinha, entre o inchadíssima de orgulho e o muito cativante, convidou-me para eu ver, com detalhes, as "suas obras", resultantes de uma intervenção da nossa ASAE.
Tinha ficado tudo, realmente, "num brinquinho": azulejos, termómetros, câmaras frigoríficas cintilantes, a iluminação protegida com armaduras reluzentes tal como a fatiadora, a balança imaculada, a caixa registadora afinada, e as facas, então essas, exibiam um fio irrepreensível de cortar pensamentos, etc., etc.,..
Os hectares e hectares do brilho profuso e extenso do aço inoxidável --- austenítico (do autêntico e do melhor) feriam os olhos --- só rivalizavam com o do sorriso da dona que declarou: isto custou-me 15 dias de trabalho pesadíssimo, das 7 da manhã à meia noite, mais 15,000 Euros, fora aqueles outros 470 que também paguei para «eles» voltarem a inspecionar cá a minha loja... mas ficou tudo muito lindo não ficou?
Abismada e confusa dei-lhe sinceros parabéns, porque era mesmo verdade: o espaço da ex lúgrebe vendinha estava agora não só mais chamativo e organizado como, ainda, com um ar bastante mais asséptico que o meu centro de saúde. Não pude deixar de pensar quantos mais meses essa senhora não teria que trabalhar sol-a-sol e noite a dentro, só para poder voltar à tona do seu modestíssimo negócio.
...
Não sei se foi esta cena -- ou se foi um inconsciente anagrama defeituoso que fiz com a designação da ASAE -- que me fez recordar aquela outra Agência --a A3ES -- que, recentemente, também, "pegou, com entusiasmado afinco, ao seu serviço de acreditação dos cursos superiores".
Também não há dúvida, do meu ponto de vista, e para variar, o sistema de creditação actualmente em vigor, é mesmo mais um protótipo da perfeição e virtude - tem procedimentos rígidos é, obrigatoriamente, chamada para "fiscalizar" os "fiscalizados", obedece a legislação rigorosa, para os "chamamentos" dos baratos cobra 600 Euros e, de vez enquando, adiciona, por conta própria, mais umas linhas aos já extensos decretos-lei formais, por exemplo, uma outra definição de "especialista," para o politécnico, assim tal e qual:
"Enquanto não estiverem reunidas condições para a atribuição do “título de especialista”, a que se refere o Decreto-Lei nº 206/2009, de 31 de Agosto, de modo a satisfazer os requisitos previstos legalmente para a composição do corpo docente das instituições de ensino superior politécnico e tendo em atenção o disposto na a) do nº 2 do artº 6º, na a) do nº 2 do artº 16º e na a) do nº 2 do artº 57º do Decreto-Lei nº 74/2006, de 24 de Março e nos artº.s 48º e 49º da Lei nº 62/2007, de 10 de Setembro, considerar-se-á, provisoriamente, como “especialista” quem satisfaça, cumulativamente, as seguintes condições:
a) Deter formação inicial de grau superior;
b) Possuír, no mínimo, 10 anos de experiência profissional na área em que se propõe exercer a docência;
c) Deter currículo profissional de qualidade e relevância comprovadas para o exercício da profissão na área em causa, devidamente confirmado e aceite pelo orgão técnico-científico da IES respectiva."
Bem me parecia que, para o subsistema politécnico, esta coisa dos "especialistas" seja lá o que isso seja (com aspas que, desta vez, não são minhas) ia tornar-se, a prazo, numa verdadeira "spooky action at a distance".
Chegou a hora!

4 Comentários:

Blogger Pacheco-Torgal disse...

Realmente não estou a ver o problema. A Lei define como um requisito básico que os Especialistas tenham 10 anos de experiência profissional. Pelo que nesta fase assegurar pelo menos esse requisito parece-me uma boa solução. Pelo menos muito melhor do que aquela de contratar como Equiparados pessoas que tinham acabado de concluir uma licenciatura.

terça dez. 08, 11:07:00 da manhã 2009  
Anonymous Anónimo disse...

Isto vai acabar com o esquema dos Equiparados cuja única experiência Profissional era a docência e que se limitavam a falar do que vinha na sebenta.

terça dez. 08, 11:09:00 da manhã 2009  
Blogger Regina Nabais disse...

Caros «fernando» e Anónimo - Dez 08, 11:09:00 AM 2009, a única coisa que não me agradou na metodologia da A3ES, que é toda ela, do meu ponto de vista, realmente, IMPECÁVEL, é de serem as IES a definirem, por moto próprio, o que vem a ser um "especialista".
Desta forma, na minha perspectiva, os tais "especialistas de sebenta e escolinha" irão mesmo prepetuar-se. Há, por aí, muitos docentes equiparados (OU NÃO e também, doutorados ou NÃO) que se "acham" uuns PROFISSIONAIS de mão cheia de tudo o que, também, "acham" que ensinam...por isso, nem precisam de fazer mais nada...
Em todos os casos, gosto muito do vosso positivismo! Que os "céus" vos escutem!

terça dez. 08, 11:47:00 da manhã 2009  
Blogger Pacheco-Torgal disse...

Mas não eram as IES que no passado definiam (com base no relatório de 2 Professores) quem eram as Individualidades a contratar como Equiparados? Porque motivo agora tudo devia ser absolutamente diferente.

Agora pelo menos uma coisa é garantida, recém-licenciados como Equiparados nunca mais.

Por outro lado importa não esquecer que isto é válido nesta fase de transição. Pelo que estes Especialistas terão sempre á posteriori que adquirir o titulo nos termos da Lei que o regulamenta.

terça dez. 08, 04:34:00 da tarde 2009  

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