domingo, abril 01, 2007

"Moonshine" do craqueamento educativo terciário

A destilação fraccionada é um processo de separação dos componentes de misturas homogêneas ou heterogêneas. De uma forma simplificada, podemos dizer que quanto mais próximos forem os pontos de ebulição dos componentes, menor o grau de pureza das frações destiladas.

A destilação fracionada é usada, entre outras aplicações, na obtenção das diversas frações do crude - cracking, processo industrial complexo, que se mantém em aperfeiçoamento contínuo e tem beneficiado de sofisticados planeamento e controlo. Não lembra a ninguém que se dedique à indústria do petróleo, valorizar em si mesmo mais um produto de cracking do que outro, porque cada um dos produtos têm a sua indispensabilidade e utilizações bem definidas e, naturalmente, também os seus custos de produção.

Na destilação fraccionada são utilizadas torres, constituídas internamente por sucessivos "andares", separados por "bandejas/pratos" perfurados, cujas perfurações são cobertas por "bujões", como estes das duas figuras seguintes, ou outros funcionalmente equivalentes:









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O vapor de cada componente é produzido no andar pertinente ao seu ponto de ebulição, ou que com acesso a um determinado andar passa para o andar superior, e o condensado nos "bujões" fica retido no prato do andar de referência, ou retorna ao andar inferior pelas perfurações, que por estar a temperatura mais elevada, lhe pode proporcionar re/vaporização.

A cota da torre, em que deve ser feita a sua alimentação depende apenas do estado físico da mistura multicomponente (por exemplo se for dominantemente vapor - a alimentação deve ser localizada mais abaixo na coluna, enquanto que se for dominantemente líquida - deve aceder à coluna, a cotas mais elevadas).

Por outro lado, os custos do processo dependem do que se pretende (ver, por exemplo, mais alguns pormenores aqui).

Um decréscimo do valor de Refluxo = L/D, implica um aumento de número de pratos (aumenta a altura da coluna), enquanto que um acréscimo de Refluxo torna a coluna mais atarracada, e com diametro maior. Uma vez mais o que comanda o processo é o que se pretende, a nível da pureza e e as especificações dos produtos de "cracking".
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Juntando tudo isto que lhes disse, e uma representação que vi num post do Blog Co-Labor, pessoalmente, vejo assim a nossa educação terciária, inclusivamente, com mobilidade, e com Refluxo, utópica e tendencialmente, nulo:
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Formações Universiárias:
Reduzido número de alunos (inferior a 30%)
Custo elevado por aluno
Associação do sistema de Educação à Investigação Fundamental e à Criação de Conhecimento
Graus/Diplomas - Mestrado e Doutoramento ligados exclusivamente à Investigação e à inovação teórica
Formações Politécnicas:
Elevado número de alunos (acima de 70% dos formandos)
Custo de formação por aluno mais baixo
Associação da Educação à Transferência de Tecnologia, Investigação Aplicada e contratualizada com empresas, e à inovação aplicada
Graus/Diplomas - Formações pós-secundárias não conferentes de grau, atendimento e preparação de públicos especiais, Licenciaturas e Mestrados Ligados à Produção/Manufactura.
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A especificidade de objectivos de formação em ambos os sub-sistemas obrigaria a que as formações oferecidas em qualquer deles, obedecessem a critérios - BEM DEFINIDOS - e expressos em:
Descrição Pormenorizada do Perfil do Formando, Competências Gerais e Específicas a garantir, descrição pormenorizada dos Resultados de Aprendizagem (RA), Respectivos Métodos de Ensino-Aprendizagem, Sistemas/Métodos de Avaliação, para assegurar os RA e ainda os níveis previstos para a aprendizagem - é este passo do processo que traduz a aplicação da transparência e rigor preconizados, pelo paradigma de Bolonha, que exige APRENDIZAGEM dos formandos, e não débito avulso dos conhecimentos de formadores (vulgo: simples elencos de conteúdos programáticos).
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O resto,....bom,... o resta fica para outro dia, nomeadamente, as difíceis questões de azeotropia que, infelizmente, também têm que ver com a nossa educação terciária.
Pode ser?
No entanto, para mim, tudo o que saia muito de um esquema destes, é serviçozinho manhoso e trapalhão de "moonshines", e vale só o que vale.... ou seja, não vale!
Aqui cá para nós, porque somos muito poucochinhos... na clandestinidade, no que diz respeito à destilação propriamente dita (mas não fraccionada) - sou "moonshine"!!!, isto é, produzo, para o gasto, umas aguardentezinhas na candonga,... não é imodéstia, mas sei do que vos falo.
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4 Comentários:

Blogger Virgílio A. P. Machado disse...

Para um «antigo» eng. químico esta não poderia deixar de ser uma excelente metáfora.

Será esta uma leitura correcta: a coluna de destilação «é» o sistema de ensino superior; as diferentes instituições do sistema «são» os pratos da coluna?

O balanço mássico do sistema pode ser modelado como um problema de programação linear. Certo?

terça abr. 03, 01:06:00 da manhã 2007  
Blogger Regina Nabais disse...

Olá Virgílio,
A meu ver, é sim às suas perguntas.
Como adivinhou?
Talvez com um pouquito de mais de trabalho "de sapa", poderíamos entrar pela dinâmica de sistemas a dentro, e tínhamos o planeamento do ensino superior resolvido.

PS - Foi uma BRILHANTÍSSIMA ENGENHEIRA QUÍMICA da Universidade de Coimbra que, há muitos anos (mais de 20 anos), conseguiu ensinar-me estas coisas tão interessantes...
Fica o registo e a pequena homenagem.

terça abr. 03, 02:13:00 da manhã 2007  
Blogger Virgílio A. P. Machado disse...

No meu comentário anterior, onde se lê «as diferentes instituições» deve ler-se «os diferentes cursos/graus». O enquadramento institucional que verdadeiramente interessa é no «sistema» ou, como ilustrado, na coluna de destilação.

Quanto à resolução do problema, se ela não fosse tão simples e conhecida há tanto tempo não andávamos aqui tão afobados nesta tarefa interminável de educar o povo (independentemente da cor, religião, género, nacionalidade, posição social ou política).

quarta abr. 04, 01:54:00 da manhã 2007  
Blogger Regina Nabais disse...

Olá Virgílio, tem mesmo razão, OBRIGADÍSSIMA pela precisão e rigor - é exactamente como diz. E, já agora, os "bujões" são os métodos de avaliação dos resultados de aprendizagem (e, estes terão que estar de acordo com as especificações).
Pessoalmente, penso que o problema é efectivamente muito simples e, sobretudo, precisamos de resolvê-lo rapidamente.
Precisamos muito de rapidamente preparar cerca de 460.000 formandos a nível terciário, e nem todos poderão "ir trabalhar como fornecedores, ou os próprios promotores da NASA" e muito menos, não são todos ou quase, que poderão retornar à coluna transfigurados em mais e mais acessórios (endogamia) da própria coluna - quero dizer, terão mesmo que se converter em "produtos
úteis ao mercado de trabalho", para o próprio bem e o de todos outros.
Bem haja,

quarta abr. 04, 07:03:00 da manhã 2007  

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