quarta-feira, agosto 08, 2007

Fuzzy minds X Clear minds

No post "Empregabilidade, Raster Graphics e resolução de imagem" de sábado, 4 de Agosto, deste blog, referi que não resistiria a comentar alguns aspectos controversos do artigo "As famílias devem saber o que vale um curso para a empregabilidade"- publicado no "Blog" de Campus, Jornal de Negócios.
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Do muito que ainda fica por dizer a esse propósito - admitindo que a transcrição da entrevista não é, exclusivamente, o resultado de mais uma retroversão livre da comunicação social sobre afirmações de outrem - considero, muito preocupante, se não for sobejamente esclarecida, melhor seria, mesmo desmentida, a seguinte passagem da "entrevista" do Senhor Ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior:

Pergunta: De que modo se vai processar a possível criação de fundações por parte das faculdades, independentemente da sua ligação às universidades a que pertencem?
Suposta resposta: "Se uma faculdade se quer autonomizar e entende que se deve autonomizar, a lei obriga a que a universidade se pronuncie sobre as razões que entende que a levam a melhor cumprir a sua função deste modo. Aquilo que propus era que era útil, quando houvesse iniciativas dessas que fossem boas, que se criassem consórcios que, por um lado, não prejudicassem a autonomização da instituição, mas que, por outro lado, essa instituição puxasse pelas outras. Que se criassem livremente consórcios com outras instituições, não apenas com a casa mãe, mas com novas instituições. Isso é particularmente importante nas universidades mais dinâmicas, que hoje têm instituições, sobretudo de investigação científica, que são privadas." [acentuação minha]. "São investigações privadas sem fins lucrativas, que foram criadas pelos investigadores, sem as quais não haveria investigação em Portugal em muitas áreas científicas."

As minhas reticências - Que raio de conversa de cenoura e abobrinha veio a ser esta? Como é possível admitir-se sequer a existência de um tal dinamismo, sem se acrescentar uma descrição exaustiva do contexto da afirmação?
Só posso estar mesmo muito confusa mas, para mim, no que diz respeito às mobilidades possíveis entre meios/recursos públicos e privados, reparto-as apenas em quatro classes:
Utilização de meios/recursos privados em benefício de meios/recursos públicos - Filantropia;
Utilização de meios/recursos privados para benefício de meios/recursos privados - Caridade;
Utilização de meios/recursos públicos em benefício de meios/recursos públicos - Governação;
Utilização de meios/recursos públicos em benefício de meios/recursos privados - Corrupção.

Escapar-me-á a existência de outras classes/categorias de mobilidade?
Caso não se vislumbrem outras categorias, o que serão, e em que categoria se insere e qual é o sentido de investigações (será lapso?) privadas sem fins lucrativos?
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PS - Para que conste, sou totalmente a favor da actividade privada ou pública, mas sou visceralmente contra todas e quaisquer medidas ou legislações que propiciem comportamentos em cima do muro, inclusivamente, contra "golden shares", tão do nosso gosto.

3 Comentários:

Blogger Alexandre Sousa disse...

Porque durante a nossa ida à cidade grande chegamos a trocar uns bitaites sobre isto, acho que é um acto de saúde pública, trazer isto para o nosso modo de comunicar.
Se bem entendo o pensamento de RN, aqui melhor ou pior metaforizado, afinal Zé Mariano:
- o que é que é uma entidade pública que realiza investigação?
- o que é que é uma entidade semi-pública que realiza investigação?
- o que é que é uma entidade privada que realiza investigação?
- o que é que é uma entidade semi-privada que realiza investigação?
- o que é que é uma entidade privada às 2.ªs, 4.ªs e 6.ªs, mas que é pública aos sábados e domingos, que realiza investigação?

Privadas, sinceramente, só conheço a BIAL, mesmo essa, na hora de desenvolver os testes a uma nova molécula, vai bater à porta do Zé Mariano! São parvos, não?

quinta ago. 09, 10:56:00 da manhã 2007  
Blogger Regina Nabais disse...

Olá Alexandre,
Deixe-me, antes de tudo, dar-lhe os parabéns pelos seus direitos de autor do "code name" Zé Mariano - é, precisamente, com essa designação que eu consigo conceptualizar o indigitado.
Depois, o Alexandre foca aqui, indirectamente, um aspecto importantíssimo - falta-nos um glossário nacional para todos nos podermos entender sobre o significado das designações que usamos selectivamente e "ad hoc" quando nos referirmos e muitas das questões de educação superior, investigação e desenvolvimento - tema do meu próximo "post" e que, por acaso, tem a ver com uma sua sugestão de referências bibliográficas.
Por último, penso as nossas empresas "para-privadas" são muitíssimo espertalhonas nós, os outros, é que, cá pela terrinha, apreciamos, exageradamente, joguinhos de faz de conta e de "fazermos de morto"... há-de nos passar, não temos mesmo outra hipótese.

quinta ago. 09, 11:50:00 da manhã 2007  
Blogger Alexandre Sousa disse...

Fico à espera... até porque outras notas de caderno irão a seguir à RN pegar no seu tema; a treta que me apetece picar é mais ou menos isto:
«como é que este povo da educação superior pode vender ciência?»
Quem não gostar da palavra vender pode substituir pelo eufemismo que quiser... pode ser contratualizar, trocar, cooperar, participar, colaborar, o que quiserem desde que tenham número de identificação fiscal.

quinta ago. 09, 12:07:00 da tarde 2007  

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