quarta-feira, abril 19, 2006

Cocked-eye


Às vezes, tendemos a não "querer ver" de frente as coisas que nos incomodam...Ninguém me pergunta, mas se me perguntassem, se esta é uma forma correcta de proceder, eu diria que definitivamente não é! Mas, há situções em que não olharmos, para não sermos vistos, é mesmo o mais aconselhável....mas ainda voltarei a este tema, neste post.
Gostei de ler as reacções, atribuídas a especialistas, pelas autoras do texto intitulado "Retrato do ensino superior levanta soluções diferentes no sector", e publicado ontem no Diário Económico.
Desde logo, uma nota circunstancial verdadeiramente positiva é que a designação de "Background report" entrou, finalmente, no léxico nacional. Até já no MCTES, é assim publicamente referido. ISTO É O QUE SE CHAMA PROGRESSO!.
Tomara que a expressão não se gaste, à medida que aumentarmos a a nossa concentração de especialistas, tal como aquelas outras: inovação, emprendedorismo, internacionalização, criação de valor acrescentado, competitividade, registo de patentes (cá dentro e lá fora, a granel e em profusão) e outras tais... que sei eu?.
Uma segunda nota positiva é que o rascunho do dito relatório parece que existe mesmo - afastando de vez a teoria de que só poderia ser mais uma fantasia do imaginário popular.
Uma terceira nota muito positiva, a meu ver, é que exceptuando a questão da representação das entidades externas no governo das instituições de ensino superior (porque o olhar dos "outros" é imprescindível, para tomarmos consciência do "nós", instituições - e, também, não comungo nada da ideia que essa participação das entidades externas tenha que ser conseguida à custa da redução da representação dos estudantes ou sequer que a acção das entidades externas se possa a converter num controlador de pressão do sistema), concordei inteiramente com todas as as outras impressões/opiniões que foram atribuídas ao aluno. Eu mesma, estou-me estranhando, mas é assim mesmo!
Uma quarta nota positiva vai para Pedro Lourtie - porque é mesmo incansável a tentar que as pessoas desconfiem das involvências e implicações "FAVORÁVEIS" do Processo de Bolonha; e depois porque avalia previamente consequências de uma determinada linha de acção, e tenta propor alternativas. Agora parece que está a mudar de ramo... mas de qualquer jeito é um lutador, porém, publicamente é demasiado educado e excessivamente conciliador do incompatível, para meu gosto. Assim, ele irá morrer muito, mas muito velhinho, a tentar fazer com que nós percebamos o Processo de Bolonha... pode até ser, quem sabe, que consigamos atinar porque, e ao contrário do que ele mesmo afirma, vão por mim, há Milagres!
Uma quinta nota, quase, quase positiva, vai para o Presidente do CCISP, porque está provado que quer pertencer ao clube da quantificação do que fala. Isto é mesmo inovação em Portugal. Os outros todos costumam achar isto, achar aquilo... sem (ao que se saiba) terem perdido ainda nada. Deixo uma pequena contribuição ao Senhor Presidente do CCISP - deve procurar ser mais rigoroso ou, pelo menos, identificar as fontes e rever as contas - volta não volta, ele engana-se (a favor das suas teses). Porque é assim: Na Finlândia, assim como noutros países (e podem mostrar-se os números) é normal os governos estarem a promover políticas de aumentos substanciais de quota-parte dos alunos de formação superior, não universitária, e percebe-se bem o por quê - nós é que somos sempre de facto muito originais. Mas, os números da Finlândia, aferidos a 2003, que de acordo com o próprio Ministro da Educação finlandês devem ser obtidos directamente do Eurydice//Information Network on Education in Europe (Eurybase) são estes:
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Universidades: Total de inscritos - 174,324 (57.6%); matriculados pela primeira vez - 20,461 (38,4%);
Politécnicos: Total de insctitos - 128,270 (42.4%); matriculados pela primeira vez - 32,842 (61.6%)
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Estes números são um tanto diferentes dos atribuídos ao Senhor Presidente do CCISP (80% - Politécnicos e 20% - Universidades) ... mas devagarzinho, este senhor vai argumentar também, numericamente, na perfeição. Esperem só para ver....De resto, no que diz respeito às opiniões, a que o texto lhe atribuiu autoria, até que também concordo inteiramente com ele. Isto é absolutamente inédito, acredite quem quizer!
Quanto aos restantes especialistas, o Messier de La Palisse não conseguiria ser mais preciso, objectivo e informativo - ele é o financiamento insuficiente, ele é o nosso governo que não se preocup(a)ou, ele é a multiplicidade de instituições (sem qualidade, sempre e só as outras , nunca as próprias), ele é a desorganização da rede de ensino, ele é a necessidade de aumentar a duração dos cursos (porque os alunos só podem aprender bem, se estiverem amarrados directamente a eles, e quanto mais tempo melhor) etc, etc, etc. - as exigências, a carpição, as lamúrias e as queixinhas do costume... Daí que, também têm uma nota .... mas aonde raio, é que assentei as notas deles? Quando as achar eu divulgo.
Hoje estou magnânima....
É por isso que, efectivamente também concordo que, é perfeitamente natural ao afrontamos os problemas, que as soluções dêm um bocadinho mais de mão-de-obra, ralações e muitas chatices. Eu dou-me conta que ("raramente") também faço como a maior parte das pessoas pouco consistentes, porto-me como o gato da imagem (entorto os olhos - cocked-eye) - vejo tudo de viés e desfocado, mas..., essencialmente, conto é mesmo que a mosca não me veja!
De facto, custa-me horrores pensar que é preciso ajustar as formações nacionais às outras internacionais, e ao mercado de trabalho que temos, sem esquecermos os requisitos do mercado externo, que o mercado de trabalho que temos, rapidamente precisa de encontrar soluções para uma estratégia de valorização económica, para que por sua vez possa sentir que deve recrutar pessoas cada vez mais qualificadas (e que estas, realmente, o sejam). Que as pessoas que se qualificam tenham que ser dotadas de pensamento estratégico e estejam dispostas a correr riscos e sejam competitivas.
Mas, para tudo isso, é preciso que quem diz que lhes dá formação de qualidade, lhes incutam valores, principios e dêm exemplos de atitudes estimuladoras do empreendedorismo, desde crianças, permanente e preferencialmente, desde o berço... mas...
Assim, para não nos apoquentarmos e maçarmos, é melhor de facto não percebermos bem, o que precisamos mesmo de fazer, e fingirmos que os outros também não precisam fazer nada... Alguém há-de resolver. Não é verdade?

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