domingo, setembro 13, 2009

Efeito de Lombard

Como todos sabemos, a percepção auditiva do discurso degrada com o ruído de fundo. Quando há excessivo ruído de fundo, também todos temos a experiência de tendermos a elevar a voz para nos fazermos ouvir, contribuindo, assim, nós também, para o aumento da pressão sonora do ruído branco (ou de fundo). É mais ou menos (mais menos e menos mais) este fenómeno que se conhece por efeito de Lombard. "Since the Lombard effect is a nonlinear distortion depending on the speaker, noise level, and noise type, it is not easy to analyze."
Até certo ponto é, por isso, que se percebe bem porque é que o cargo de um ministro que tutele o ensino superior nacional possa, também, obrigá-lo a tornar-se selectivamente surdo (que nem uma porta - salvo a rudeza da expressão) a algumas frequências. É mesmo uma questão de auto-preservação se não, de sobrevivência (política).
Se bem que, todos nós, uma vez ou outra de certas ocasiões, sejamos apanhados em cheio pelo efeito de Lombard... Ora, vejamos:
Estes últimos dias, algumas pessoas que se interessam por políticas de educação superior andaram ocupadas com o ruído de fundo provocado pelas eminentes publicações das listas da 1ª fase de colocações dos alunos nos cursos e também pelas expectativas clarificadoras dos debates para as nossas legislativas. Estas circunstâncias, pelo menos, tiveram como consequência que eu relevasse a importância de uma notícia bastante interessante registada pelo Público, em 11/09/2009, tendo por título, redigido em letras gordas: Mais de 45.200 alunos colocados na primeira fase. No entanto, o que desta notícia, pessoalmente, eu destacaria era uma outra frase - a seguinte: "Mariano Gago falava durante a cerimónia de assinatura, hoje realizada na Reitoria da Universidade do Porto, dos contratos-programa plurianuais com as universidades do Porto (UP) e de Aveiro (UA), e o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa - Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL).
Desta forma - simplex - transferiu-se, oficialmente, a garantia futura de um financiamento publico, plurianual, preferencialmente dirigido, com discutível, rarefeito e duvidoso merecimento, exclusivamente, para as únicas 3 instituições de ensino superior público que aderiram ao conceito "fundação pública de direito privado", sem que essas mesmas instituições, por seu lado, publicamente garantissem a forma de cobertura, por receitas "próprias", dos 50% dos seus custos de funcionamento e investimentos, como inicialmente teria sido previsto, e preconizado...
Do meu lado, também, fiquei com a garantia que todos os governantes são exímios em obrigar aqueles que se lhe seguem a cumprir as promessas das suas ideias pessoais, mesmo que peregrinas e injustas - enfim, transferências sucessórias de ADN das asneiras políticas... mas isto será visto num outro "contar".
Para que conste, no presente caso, eu mesma faço votos e ficarei muito feliz que venha a ser um outro ministro -- absolutamente qualquer outro, me servirá na perfeição! -- a fazer cumprir o pagamento da componente pública de mais esta obrigação orçamental, sorrateiramente, assumida estes dias.

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